sexta-feira, 15 de maio de 2020

ANTES ERA UMA PRAGA, DEPOIS PESTE, HOJE PANDEMIA!!!

A DOENÇA

A primeira “pandemia” ficou conhecida como Praga de Justiniano e foi a primeira epidemia de peste bubônica, que voltou a assolar a Europa, entre 1346 e 1352.

Transmitida por pulgas de ratos infectados, vindos dos navios, a praga surgiu no Egito, passou pelo Oriente Médio e chegou à capital do Império Bizantino, Constantinopla, em 540 d.C., matando 5 mil moradores por dia, e eliminando metade da população. Estima-se que entre 500 mil a 1 milhão de pessoas da cidade.

A maior epidemia (ou pandemia) foi a Peste Negra na Europa no século 14. Acredita-se que a peste tenha surgido nas planícies áridas da Ásia Central e foi se espalhando principalmente pela rota da seda, alcançando a Crimeia, que era uma feitoria comercial de Gênova, em 1343.  No total, a praga pode ter dizimado 30 a 50 milhões de pessoas que morreram pela peste, o que representava cerca de um terço da população europeia da época. As pessoas começaram a fugir das cidades que foram abandonas pelos camponeses que fugiam com medo de serem infectados em meados de século 14[1] 
Alguns sintomas pipocam antes dessas erupções de nódulos inflamados, dos bubões (tumores inflamatórios), como febre alta, dores de cabeça e corporais intensas, falta de apetite, náusea e vômitos.

Peste Negra (ou peste bubônica) é uma doença pulmonar causada pela bactéria Yersinia pestis[2]. Essa doença é bastante conhecida por ter dizimado um terço da população europeia no século XIV. A propagação da doença, inicialmente, deu-se por meio de ratos e principalmente, pulgas infectadas com o bacilo, que acabava sendo transmitido às pessoas picadas pelas pulgas, em cujo sistema digestivo a bactéria da peste multiplicava-se. Num estágio mais avançado, a doença começou a se propagar por via aérea, pelas vias orais, por meio de espirros e gotículas, surgia à propagação de forma pneumônica.

Contribuíam com a propagação da doença as precárias condições de higiene e habitação que as cidades e vilas medievais possuíam, o que oferecia condições para as infestações de ratazanas e pulgas. A morte pela peste era dolorosa e terrível, além de rápida, pois variava de dois a cinco dias após a infecção. O aspecto dos doentes era horrível, os tumores secretavam sangue e pus, a urina, o suor, a saliva e o escarro apresentavam aspecto escurecido, sendo esta a referência para denominá-la peste negra. Há relatos de que as pessoas com a peste cheiravam mal.

Entre os sintomas é importante ressaltar a febre alta e dores fortíssimas. Como não havia cura, as pessoas usavam vinagre para tentar se defender, tendo em vista que tanto os ratos quanto as pulgas evitam seu cheiro. O número de mortos era tão grande que eram abertas enormes valas comuns.

Nos tempos medievais, a grande perda de pessoas devido a peste bubônica em uma cidade criou um desastre econômico. As corporações de ofício também paralisaram, pois muitas ficaram sem seus mestres, oficiais e aprendizes. Até mesmo obras artísticas e arquitetônicas foram interrompidas pela enfermidade de artistas e pedreiros.

A MEDICINA DE ENTÃO

médico da peste negra era um médico especial que tratava aqueles que contraíram a peste. Esses médicos foram contratados pelas cidades que tiveram muitas vítimas da peste. Os médicos de peste tratavam os pacientes segundo seus acordos e eram conhecidos como médicos municipais ou comunitários da "peste negra".

Os médicos comunitários foram bastante valiosos e receberam privilégios especiais. Por exemplo, os médicos da peste eram livremente autorizados a realizar autópsias, que foram, de outra maneira, geralmente, proibidas na Europa Medieval, bem como a investigação de uma cura para a peste.



Os médicos de peste praticavam sangria e davam diversos tipos de remédios, como colocar rãs ou sanguessugas nas ínguas para em uma rotina normal. Eles não podiam, geralmente, interagir com o público em geral, devido à natureza de seus negócios e a possibilidade de propagação da doença; eles também poderiam estar sujeitos a quarentena.
De 18 médicos de Veneza, apenas um ficou trabalhando em 1348, pois cinco tinham morrido da peste, e 12 desapareceram e podem ter fugido.
Quando a Peste Negra chegou a Avignon, França, em 1348, o médico Guy de Chauliac permaneceu, tratando de doentes de peste e documentando os sintomas meticulosamente. Ele alegou ter sido ele próprio infectado e ter sobrevivido à doença usando parte de seu conhecimento. Guy de Chauliac foi médico particular do Papa Clemente VIque na época, o papado estava instalado em Avignom, sobreviveu a peste e foi o primeiro a estudar essa peste. Através das suas observações, Chauliac fez distinção entre as duas formas da doença, a peste bubônica e a peste pneumónica[3]. (Redigiu um tratado em latim sobre a cirurgia, intitulado Chirurgia Magna). Era incansável em sua persistência analítica dos sintomas a ponto de declarar sempre que "Um cirurgião que não sabe a sua anatomia é como um cego a esculpir um tronco".
A peste negra contribuiu para outra maneira de encarar a morte observada na arte iconográfica que se popularizou com a representação da morte. Todo esse drama entre a vida e a morte da doença que assolou a humanidade foi representado na gravura a "A Dança da Morte", que apareceu como ilustração reproduzida em xilogravura do século XV, A Sétima Era do Mundo: A Imagem de Morte de do Livro de Crônicas[4] (Nuremberg Chronicle), escrita por Hartmann Schedel e ilustrada por Michael Wolgemut em 1493.

O DOUTOR BICO OU DOUTOR DA PESTE: As precauções da época do surto da Peste Negra
Alguns médicos de peste usavam um traje especial, embora fontes gráficas mostrassem que usavam uma variedade de peças de vestuário. As roupas foram inventadas por Charles de L'Orme  em 1619; elas foram usadas ​​pela primeira vez em Paris, tendo mais tarde se espalhando em toda a Europa. 
Este traje também foi usado por médicos durante a peste de 1656, que matou 145.000 pessoas em Roma e 300.000 em Nápoles. 
O traje de proteção consistia em um sobretudo de tecido pesado, que era encerado, uma máscara com aberturas de olhos de vidro e um nariz em forma de cone, como um bico para segurar substâncias aromáticas e palha. A maioria dos médicos da peste também usavam um chapéu de aba, que foi tipicamente utilizado para identificar sua posição como médico.
Alguns médicos usavam máscaras que pareciam bicos de aves cheias de itens aromáticos. As máscaras foram concebidas para protegê-los do ar fétido, que, de acordo com a teoria miasmática[5] da doença, foi considerado como a causa da infecção.
Eram assim descritos:
Possuíam um nariz de meio pé (uns 15 centímetros) de comprimento, com a forma de um bico, preenchido com perfume em apenas dois orifícios, um de cada lado, perto das narinas, mas que eram o suficiente para respirar e reunir o ar das drogas alojadas no interior do bico. Sob o casaco usam botas de couro marroquino (couro de cabra) por cima dos calções que estavam amarradas a estas botas e uma blusa de manga curta em pele lisa, do qual o extremo inferior é dobrado para dentro dos calções. O chapéu e as luvas também são feitas da mesma pele... com lentes sobre os olhos.


Irmãos abandonavam irmãos, maridos abandonavam as suas mulheres, pais e mães abandonavam e recusavam tratar os próprios filhos. Por todas as ruas, havia cadáveres empilhados em grupos. A principal preocupação era retirar-se os corpos de dentro das casas, nem que para isso fosse necessário atirá-los pelas janelas. Os cemitérios começavam a superlotar e eram abertas grandes valas para se enterrarem mais que um corpo de cada vez. 

A população humana não retornou aos níveis anteriores à peste até o século 17. A peste negra continuou a aparecer de forma intermitente e em pequena escala pela Europa até praticamente desaparecer do continente no começo do século 19.

A medicina não conseguia debelar a epidemia, nem a justificar, mas houve no entanto uma importante medida de saúde pública: Antes de qualquer pessoa poder entrar em uma cidade, era obrigada a estar isolada e vigiada durante um período de 40 dias, que ficou conhecido como “período de quarentena”.



Ref.





[1] Giovanni Boccaccio, poeta e crítico literário italiano autor de Decameron, exercendo o cargo de embaixador da Lombardia, e com grande influência no meio eclesiástico, descreveu os sintomas da doença: 

Apareciam, no começo, tanto em homens como nas mulheres, ou na virilha ou nas axilas, algumas inchações. Algumas destas cresciam como maçãs, outras como um ovo; cresciam umas mais, outras menos; chamava-as o povo de bubões. Em seguida o aspecto da doença começou a alterar-se; começou a colocar manchas de cor negra ou lívidas nos enfermos. Tais manchas estavam nos braços, nas coxas e em outros lugares do corpo. Em algumas pessoas as manchas apareciam grandes e esparsas; em outras eram pequenas e abundantes. E, do mesmo modo como, a princípio, o bubão fora e ainda era indício inevitável de morte, também as manchas passaram a ser mortais”.
“Para dar sepultura à grande quantidade de corpos já não era suficiente a terra sagrada junto às igrejas; por isso passaram-se a edificar igrejas nos cemitérios; punham-se nessas igrejas, às centenas, os cadáveres que iam chegando; e eles eram empilhados como as mercadorias nos navios”.

[2] A propagação foi ocasionada por meio de um bacilo que em 20 de junho de 1894 e foi identificado em Hong Kong pelo bacteriologista francês de origem suíça,  Alexandre Yersin (1863-1943) recebendo o nome de Yersinia pestis, que tinha como vetor pulgas que parasitam os ratos como o vetor da epidemia. De regresso a Paris no ano seguinte desenvolveria com Albert Calmette e Emile Roux uma vacina e um soro contra a peste. 


Bactéria Yersinia pestis

[3] O médico Guy de Chauliac ficou para estudar a doença e tratar os pacientes e isso quase lhe custou a vida, deixando-o a beira da morte. Ninguém melhor que ele sabia quão escassas eram suas chances de sobreviver a peste. Em seu diário ele deixou o relato: “Próximo ao final da peste, desenvolvi febre e um inchaço na virilha. Fiquei enfermo durante três semanas e quando o inchaço amadureceu e tratei com figos e cebolas cozidas misturados com fermento e manteiga. Eu escapei com as graças de Deus
Em outro relato: “A grande mortandade teve início em Avignon em janeiro de 1348. A epidemia se apresentou de duas maneiras. Nos primeiros dois meses manifestava-se com febre e expectoração sanguinolenta e os doentes morriam em três dias; decorrido esse tempo manifestou-se com febre contínua e inchação nas axilas e nas virilhas e os doentes morriam em 5 dias. Era tão contagiosa que se propagava rapidamente de uma pessoa a outra; o pai não ia ver seu filho nem o filho a seu pai; a caridade desaparecera por completo”. 

[4] The Seventh Age of the World: The Image of Death from Liber chronicarum (Nuremberg Chronicle)

[5] Emanação proveniente de detritos orgânicos em decomposição, considerada outrora (antes dos avanços da microbiologia) como causadora de doenças e epidemias

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