Afinal por que houve
uma Ordem Régia para construírem-se cemitérios no Império do Brasil?
Os mais pobres, que estavam afastados das freguesias paroquiais, eram enterrados nos sítios, próximo aos “fogos” mesmo, assim iriam conviver nas proximidades dos vivos, que fincavam no terreiro a cruz mortuária, símbolo máximo do cristianismo. Os mais abastados, de recursos que doavam em vida a alguma irmandade religiosa, somas financeiras para “remissão de pecados”, ganhavam os favores das exéquias, de rezas infindáveis além de estarem “protegidos” dentro das próprias igrejas. Logo quando houve a determinação imperial, muitos já eram colocados na periferia da paróquia, ladeando todos os lados, menos o átrio da igreja.
A de se referir que um deputado do Império em Assembléia Geral, disse ser impossível frequentar as Igrejas do Rio de Janeiro por causa do mau cheiro que exalava dentro do recinto religioso. Nota-se que à época a Corte e toda a comitiva estavam fixadas no Rio de Janeiro! Se tudo isso acontecia no lugar de maior visibilidade do Império, imaginem em Províncias afastadas.
Era uma questão de higienização e os médicos alertavam das enfermidades provenientes destes locais que eram contagiosos pela propagação de doenças infecciosas.
Em 15 de setembro de
1834, a Câmara recebe oficio do Presidente da Província recomendando execução
do artigo 66, da lei de 1º de outubro de 1828 sobre o estabelecimento do
cemitério fora do recinto do templo (igrejas). Ficou deliberado que em havendo
verba, se daria, sem demora, execução ao recomendado.
Em 29 de maio de 1835, a Câmara devia, segundo ofício que recebera, marcar com o vigário o lugar para o cemitério.
Em 11 de julho de 1835 o “fabriqueiro” e o reverendíssimo da Vila de Santo Amaro começaram a fazer propostas para o lugar do cemitério, apresentou-se o risco do mesmo, e marcou-se em qualquer dos lugares baldios junto à capelinha. Pode ser que houve sepultamentos próximos ao contorno da igreja, pois não é de todo descartado, pois isso se fazia regularmente em várias partes em muitas Províncias.
O “fabriqueiro” que contava com os rendimentos da igreja para custear seu funcionamento e obras propôs ainda que a fatura do cemitério se cobrasse certa quantia às Irmandades da Paróquia, rateada pelos irmãos da irmandade. Por esse motivo que as igrejas eram obrigadas por seu compromisso com a irmandade a dar sepultura aos seus membros. Foi estipulado também que se cobrasse a quantia de 400 réis por cada pessoa nascida, não compreendendo aquelas cujas irmandades já tivessem pagado.
Essa discussão, como
acarretava um valor monetário para execução, e havia carência de recursos,
foi-se protelando até vir uma exigência, um ultimato superior, só se retomando
a pauta em 18 de setembro de 1854.
Lendo-se o parecer da comissão relativo ao ofício do vigário da Vila de Santo Amaro, e que dissertava da urgência de se construir um pequeno cemitério e que a Câmara oficialize junto a seus pares a necessidade urgente advinda de competente autoridade.
(no caso essa
autoridade é o vigário, representante eclesiástico na Vila de Santo Amaro,
sabendo-se que estamos sobre o efeito do Padroado, ou seja, o império e a
igreja em comum acordo de interesses, só findado essa relação com o advento da
República)
A comissão então sugere
que se gaste na construção do cemitério a receita que existe da própria Matriz,
ao menos para atender as primeiras despesas.
Em 13 de agosto de 1855, Bento Pires de Oliveira e Francisco Matias de Oliveira encabeçam juntamente com o senhor vigário a convocação da comissão para as obras preliminares necessárias da construção do cemitério. Em conjunto com os gestores municipais escolhesse o terreno de implantação do cemitério, que tem o aval de aprovação em 10 de setembro de 1855.
Consta a data de 09 de maio de 1856 como o início das atividades, que acreditamos ser a composição das estruturas internas. (carece de informações mais precisas)
Em 18 de agosto de 1856
o senhor Adolfo Alves Pinheiro de Paiva (o homenageado na avenida) é nomeado
administrador do Cemitério de Santo Amaro.
O primeiro sepultamento que se tem registro foi realizado em 24 de abril de 1857, embora o túmulo mais antigo pertença ao combatente da Guerra da Cisplatina, José Foster, que nasceu dia 27 de setembro de 1800, em Wertemberg na Alemanha e faleceu dia 14 de outubro de 1886 no Brasil.(Q4 L15)
Na atualidade no cemitério de Santo Amaro permanece como entrada principal a edificada à época da construção (na Rua Carlos Gomes) com uma segunda entrada na Rua Ministro Roberto Cardoso Alves, nº 196, onde está a parte administrativa e velórios. São 28.800 metros quadrados composto por 36 quadras e ruas com aproximados 2.800 túmulos.
Ref.
Revista do Arquivo Municipal vol. 43, de 1952
O Cemitério de
Santo Amaro e Bento do Portão!
http://carlosfatorelli27013.blogspot.com/2013/05/o-cemiterio-de-santo-amaro-e-bento-do.html
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