*Coisas iguais e com
diferenças
No conceito popular,
cachaça é sinônimo de aguardente e cachaceiro, não se trata do produtor da bebida, mas sim do viciado na bebida. Antes
porem cachaça era a escuma da garapa fermentada. O caldo de cana era colocado
para ferver e tirar as impurezas das moendas. Esse produto advindo da primeira
escuma era denominado cachaça, que era colocado em um cocho e se tornava bebida
de mulas, cavalos, cabras, bois, porcos e outros animais.
Numa segunda caldeira
há ainda parte da escuma ainda advinda das impurezas das moendas que eram
guardadas em potes até se azedar e que eram ingeridas como bebida, podendo se
embriagar com ela e disto chamou-se também cachaça, um produto natural da
fermentação do açúcar proveniente da cana triturada nas moendas dos engenhos
introduzidos na colônia com o alvará de Dom João III, rei de Portugal, em 29 de
março de 1549.
Se serviam da bebida abundante na colônia que fornecia açúcar por
várias partes do Mundo, através de Portugal, Holanda e Inglaterra, que assumiam
o controle marítimo e o cartel da mercadoria apreciada do açúcar, grosseiro da
rapadura, um tipo mascavo. A colônia ainda sem muitos recursos se fartava com a
bebida, embora para se entreterem do marasmo da Colônia usavam o caulim, bebida
fermentada pelos índios de raízes do mato e milho por eles cultivados
resultando o caulim, preparado pelas mulheres indígenas.
A de se destacar parte
de uma crônica de Frei Vicente do Salvador onde diz em uma parte: “ Vinho? De açúcar
se faz mui suave e, para quem o quer rijo, com o deixar ferver dois dias,
embebeda como o de uvas.”
A cana de açúcar, gramínea
proveniente da Ilha da Madeira, foi introduzida por Martim Afonso de Souza, em
sua Capitania de São Vicente, como relatado por Frei Gaspar de Madre de Deus,
em Memórias para a História da Capitania de S. Vicente, editado em Lisboa, em 1797:
“Mandando vir da Ilha
da Madeira a planta das canas doces. Para que os lavradores as pudessem moer,
fabricou quase no meio da sobredita ilha (S. Vicente), um engenho d’água, com
capela dedicada a S. Jorge, qual foi o primeiro que houve no Brasil; dele saíram
canas para as outras capitanias brasileiras”. Foi daí que se espalhou para o
Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Itamaracá e Paraíba.
Embora com toda essa expansão
os engenhos não produziam, à época aguardente, sendo que a mesma se popularizou
na segunda metade do século 17, pois faltava o alambique para a bebida
destilada, sendo mencionado em 1648 em inventário “um alambique de cobre que
pesou uma arroba” avaliado em 15$600, e pertencia a Rafael de Oliveira, e
funcionava no sítio do Jaraguá. (Arquivo do Estado de São Paulo, Inventários
Processados de 1578 a 1700, 27 volumes).
Assim, no começo a
cachaça era uma bebida fermentada, passando para a aguardente, bebida destilada a
partir de 1650 a 1700. Em 1699 uma Carta Régia “concede faculdade para lançarem
as câmaras desta Capitânia um leve imposto nas bebidas, cujo imposto das
Tavernas é o que se chama Avença”. (Documentos interessantes para a História e
costumes de S. Paulo, de A. de Toledo Piza, publicado pelo Arquivo do Estado de
São Paulo.)
Começa então a espalharem
engenhos e engenhocas pelo sertão afora a revelia do fisco que interessa taxar
o açúcar, o melado e a aguardente e não quer prejuízo aos direitos reais.
Em 1661 a regente Luísa de Gusmão liberou a produção da cachaça no
Brasil para intensificar o consumo fora da Colônia, mas ao comércio local, era
vedado, embora a repressão fosse nula, contando até com a participação das
autoridades que eram os principais contrabandistas. Não conseguindo conter o
contrabando a proibição foi revogada, em 1695. Deste modo a cachaça, à época também chamada de aguardente da terra e jeritiba, subiu a produção e em uma
década, passou a ter quase 700 pipas ao ano(1)!
Hoje é um produto de exportação da República do Brasil!
Nota:
1) No tempo do descobrimento do Brasil, Portugal era governado por Dom Manuel I, sendo estabelecido que um “almude”, de origem árabe, medida usada para líquidos, especialmente vinho, equivalia a 16,8 litros. A pipa por sua vez era uma medida européia equivalente a meio tonel, que equivalia a 840 litros. Sendo uma pipa equivalente a 420 litros (25 almudes)
*Breviário de como foi o consumo da bebida, sem se ater ao modelo de produção, onde há catedráticos de renome com todo esse levantamento historiográfico!
1) No tempo do descobrimento do Brasil, Portugal era governado por Dom Manuel I, sendo estabelecido que um “almude”, de origem árabe, medida usada para líquidos, especialmente vinho, equivalia a 16,8 litros. A pipa por sua vez era uma medida européia equivalente a meio tonel, que equivalia a 840 litros. Sendo uma pipa equivalente a 420 litros (25 almudes)
*Breviário de como foi o consumo da bebida, sem se ater ao modelo de produção, onde há catedráticos de renome com todo esse levantamento historiográfico!
Referência:
Revista do Arquivo
Histórico, volume 71. Out 1944
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