A Capela Penhinha, distrito Jardim São Luiz/SP
No bairro Jardim São Luiz havia uma parada obrigatória na capela da Penhinha[1], em homenagem a Nossa Senhora da Penha, a Padroeira do Município de São Paulo (documento oficializado pela Câmara Municipal de SP), festejada pela igreja católica em 8 de setembro.
Este local era ponto de peregrinação do povo e das romarias que partiam de Santo Amaro à Pirapora do Bom Jesus, por ocasião dos festejos de 6 de agosto, em homenagem a Bom Jesus, quando se faziam orações para agradecimentos de ida e volta da jornada. Animais impecáveis, com arreios reluzentes, atrelados às charretes que conduziam famílias inteiras que ali faziam a parada e davam ao lugar um estilo interiorano próprio do Município de Santo Amaro.
Já em tempos passados, os bandeirantes que exploraram o
interior paulista buscavam a proteção em suas empreitadas, recorrendo em
calamidades públicas de epidemias e secas, em preces à Nossa Senhora da Penha,
da cidade de São Paulo. Consta que os paulistanos faziam questão da presença da
Senhora da Penha em sua cidade. Remonta a 1819 a ida da imagem à Sé da capital paulista,
em festa solene, “a fim de que Sua poderosa intercessão contribua para o
benefício das chuvas”.
Em razão da devoção à santa e das graças e benesses conseguidas ao longo da trajetória vocacionada na fé, na entrada do bairro Jardim São Luiz foi construída uma pequena capela em homenagem à Nossa Senhora da Penha, conhecida pelo povo como "Penhinha". O registro mais antigo encontrado da capela é uma foto de 1910. A administração da capela foi conduzida, a partir de 1928, pela Conferência Nossa Senhora da Penha da Sociedade São Vicente de Paulo, de Santo Amaro.
Ao
alto, a capela tinha uma escada frontal, rodeada por altos coqueiros, que dava
acesso aos transeuntes e devotos. Havia, na capela um campanário com sinos em
bronze, que repicavam ao anunciar um feito importante no
bairro Jardim São Luiz. Esses sinos foram fabricados em 1904 pela “Fundição
Estrella”, que pertencia à família Dias, proprietária também da fábrica
“Curtume Dias”.
A
capelinha era toda branca, o que demonstrava a santidade do lugar e transmitia
tranquilidade necessária ao viajante que pedia saúde e proteção em sua jornada.
Por conta da localização da capela, no entroncamento da Avenida João Dias com a da estrada que levava ao Município de Itapecerica da Serra, era possível vê-la. Por este entroncamento passava toda a boiada da fazenda Santa Gertrudes, que ia para o Matadouro Municipal, onde se abatiam as rezes para o frigorífico Eder, localizado ao lado da Santa Casa de Misericórdia de Santo Amaro.
Localização da
Penhinha, destacada na parte inferior direita.
Fonte: Guia SAMARO, 4ª Edição, 1971.
A capela era parada obrigatória para a comitiva de boiadeiros
devotos que, em suas montarias, atrelavam os animais próximos à Penhinha, para
ter um pouco de descanso e fazer suas preces. Ali, próximo à capela, havia o armazém
do Pedro Ferreira, onde se poderia abastecer com gêneros básicos como arroz,
feijão, banha, milho, e alguns apetrechos de roça que faziam parte da vida
cotidiana dos transeuntes, matutos caipiras interioranos, de fala mansa.
As festas em comemoração à santa faziam-se com
participação popular que se dirigiam em júbilo para homenagear a "Santa
Penhinha". A grandeza de toda comunidade circulante era demonstrada nas
bandeirolas e enfeites que coloriam e embelezavam tudo ao redor.
Programação das festas da Capela Nossa Senhora da Penha, em 1947.
A Capelinha
abrigava poucas pessoas em seu interior e muitos fatos de relevância eram
desenvolvidos à sua volta como, por exemplo, a missa campal, literalmente no
campo, em devoção a Deus.
A famosa Capelinha de Nossa Senhora da Penha, ou simplesmente Penhinha, foi demolida em maio de 1973 e hoje a área pertence ao Grupo francês CASINO (Casino Guichard Perrachon), detentor dos supermercados Pão de Açúcar, Extra e Assaí.
A Imagem de Nossa Senhora da Penha do escultor Marino
Del Favero
Imagem de Nossa Senhora da Penha, da capelinha Penhinha.
Essa imagem de Nossa Senhora da Penha foi obra de
Marino Del Favero[2],
conforme a assinatura atrás da imagem. Ela foi adquirida na década de 1930
depois de um incêndio na capelinha. Após restauração da capela, a irmandade
adquiriu outra imagem de Nossa Senhora da Penha para reposição da imagem perdida
no fogo.[3]
Quando o terreno onde se localizava a Capela de Nossa
Senhora da Penha foi adquirido pela empresa
Construções, Engenharia e Pavimentação Enpavi Ltda,
houve a completa demolição da capela, pois a adquirente necessitava do espaço
para colocar maquinários de terraplenagem. A imagem da padroeira foi
transferida para a Paróquia São Luiz Gonzaga, onde integra hoje parte do
acervo sacro da igreja.
Obs.:
Crônica original publicada em
19/01/2011 link:
http://www.saopaulominhacidade.com.br/historia/ver/4637/Penhinha%253A%2BJardim%2BSao%2BLuiz
Totalmente revisada em 28 de maio de 2023
[1] Depoimento e referência do escultor
e modelador Felipe Dias Lopes
[2]
Marino Del Favero nasceu na Província de Belluno, comuna de San
Vito di Cadore, região de Veneto em 03 de março de 1864. Era de uma família de
artistas entalhadores com formação na academia veneziana, como seu tio
Giovanni Battista de Lotto, com que iniciou a atividade da arte tanto de
entalhe quanto na escultura em mármore. Veio ao Brasil na “diáspora italiana” e
trazia como bagagem um grande lastro de experiência na arte de esculturas,
montando sua oficina-ateliê em 1893, na região central de São Paulo. O trabalho
do escultor italiano era entalhado em madeira e depois marmorizado e
dourado. Ele elaborava além de imagens, púlpitos, retábulos, altares.
Criou muitas esculturas e trabalhou com obras de arte sacra por meio século,
sendo reconhecido como um dos melhores escultores de arte sacra entre o final
do século XIX e início do século XX no Brasil. Faleceu em São Paulo em 23 de junho de 1943. Informação obtida no II
Seminário Internacional Patrimônio Sacro: Mosteiro de São Bento-julho de
2015: A Presença Italiana Na Arte Sacra Paulista na Virada
do Séc. XX: A Oficina de Escultura e Entalhe de
Marino del Favero - Cristiana Antunes Cavaterra, coordenação da
mesa Percival Tirapeli.
[3]
Felipe Dias Lopes, relata que seu pai, Constantino Dias Lopes, era
espanhol e que veio para o Brasil em 1886 fixando residência na atual Avenida
Maria Coelho Aguiar, tornando-se festeiro e guardião da Capela da Penhinha.
Sem comentários:
Enviar um comentário