sexta-feira, 15 de junho de 2018

Capela da Penhinha: Jardim São Luiz, São Paulo

A Capela Penhinha, distrito Jardim São Luiz/SP

No bairro Jardim São Luiz havia uma parada obrigatória na capela da Penhinha[1], em homenagem a Nossa Senhora da Penha, a Padroeira do Município de São Paulo (documento oficializado pela Câmara Municipal de SP), festejada pela igreja católica em 8 de setembro.

Penhinha- Festa de Nossa Senhora da Penha em setembro de 1956

Este local era ponto de peregrinação do povo e das romarias que partiam de Santo Amaro à Pirapora do Bom Jesus, por ocasião dos festejos de 6 de agosto, em homenagem a Bom Jesus, quando se faziam orações para agradecimentos de ida e volta da jornada. Animais impecáveis, com arreios reluzentes, atrelados às charretes que conduziam famílias inteiras que ali faziam a parada e davam ao lugar um estilo interiorano próprio do Município de Santo Amaro.

Já em tempos passados, os bandeirantes que exploraram o interior paulista buscavam a proteção em suas empreitadas, recorrendo em calamidades públicas de epidemias e secas, em preces à Nossa Senhora da Penha, da cidade de São Paulo. Consta que os paulistanos faziam questão da presença da Senhora da Penha em sua cidade. Remonta a 1819 a ida da imagem à Sé da capital paulista, em festa solene, “a fim de que Sua poderosa intercessão contribua para o benefício das chuvas”.

Em razão da devoção à santa e das graças e benesses conseguidas ao longo da trajetória vocacionada na fé, na entrada do bairro Jardim São Luiz foi construída uma pequena capela em homenagem à Nossa Senhora da Penha, conhecida pelo povo como "Penhinha". O registro mais antigo encontrado da capela é uma foto de 1910. A administração da capela foi conduzida, a partir de 1928, pela Conferência Nossa Senhora da Penha da Sociedade São Vicente de Paulo, de Santo Amaro.

 Penhinha 1910.

Ao alto, a capela tinha uma escada frontal, rodeada por altos coqueiros, que dava acesso aos transeuntes e devotos. Havia, na capela um campanário com sinos em bronze, que repicavam ao anunciar um feito importante no bairro Jardim São Luiz. Esses sinos foram fabricados em 1904 pela “Fundição Estrella”, que pertencia à família Dias, proprietária também da fábrica “Curtume Dias”.

A capelinha era toda branca, o que demonstrava a santidade do lugar e transmitia tranquilidade necessária ao viajante que pedia saúde e proteção em sua jornada.

Por conta da localização da capela, no entroncamento da Avenida João Dias com a da estrada que levava ao Município de Itapecerica da Serra, era possível vê-la. Por este entroncamento passava toda a boiada da fazenda Santa Gertrudes, que ia para o Matadouro Municipal, onde se abatiam as rezes para o frigorífico Eder, localizado ao lado da Santa Casa de Misericórdia de Santo Amaro. 


 Localização da Penhinha, destacada na parte inferior direita.


Fonte: Guia SAMARO, 4ª Edição, 1971.

A capela era parada obrigatória para a comitiva de boiadeiros devotos que, em suas montarias, atrelavam os animais próximos à Penhinha, para ter um pouco de descanso e fazer suas preces. Ali, próximo à capela, havia o armazém do Pedro Ferreira, onde se poderia abastecer com gêneros básicos como arroz, feijão, banha, milho, e alguns apetrechos de roça que faziam parte da vida cotidiana dos transeuntes, matutos caipiras interioranos, de fala mansa.

As festas em comemoração à santa faziam-se com participação popular que se dirigiam em júbilo para homenagear a "Santa Penhinha". A grandeza de toda comunidade circulante era demonstrada nas bandeirolas e enfeites que coloriam e embelezavam tudo ao redor.

Programação das festas da Capela Nossa Senhora da Penha, em 1947.

Panfleto de 1947

A Capelinha abrigava poucas pessoas em seu interior e muitos fatos de relevância eram desenvolvidos à sua volta como, por exemplo, a missa campal, literalmente no campo, em devoção a Deus.

A famosa Capelinha de Nossa Senhora da Penha, ou simplesmente Penhinha, foi demolida em maio de 1973 e hoje a área pertence ao Grupo francês CASINO (Casino Guichard Perrachon), detentor dos supermercados Pão de Açúcar, Extra e Assaí. 

A Imagem de Nossa Senhora da Penha do escultor Marino Del Favero 

 Imagem de Nossa Senhora da Penha, da capelinha Penhinha.

Obra de Marino Del Favero 

Essa imagem de Nossa Senhora da Penha foi obra de Marino Del Favero[2], conforme a assinatura atrás da imagem. Ela foi adquirida na década de 1930 depois de um incêndio na capelinha. Após restauração da capela, a irmandade adquiriu outra imagem de Nossa Senhora da Penha para reposição da imagem perdida no fogo.[3]

Quando o terreno onde se localizava a Capela de Nossa Senhora da Penha foi adquirido pela empresa Construções, Engenharia e Pavimentação Enpavi Ltda, houve a completa demolição da capela, pois a adquirente necessitava do espaço para colocar maquinários de terraplenagem. A imagem da padroeira foi transferida para a Paróquia São Luiz Gonzaga, onde integra hoje parte do acervo sacro da igreja.

 

 

 

Obs.:

Crônica original publicada em 19/01/2011 link:

http://www.saopaulominhacidade.com.br/historia/ver/4637/Penhinha%253A%2BJardim%2BSao%2BLuiz

Totalmente revisada em 28 de maio de 2023

 



[1] Depoimento e referência do escultor e modelador Felipe Dias Lopes

[2] Marino Del Favero nasceu na Província de Belluno, comuna de San Vito di Cadore, região de Veneto em 03 de março de 1864. Era de uma família de artistas entalhadores com formação na academia veneziana, como seu tio Giovanni Battista de Lotto, com que iniciou a atividade da arte tanto de entalhe quanto na escultura em mármore. Veio ao Brasil na “diáspora italiana” e trazia como bagagem um grande lastro de experiência na arte de esculturas, montando sua oficina-ateliê em 1893, na região central de São Paulo. O trabalho do escultor italiano era entalhado em madeira e depois marmorizado e dourado. Ele elaborava além de imagens, púlpitos, retábulos, altares. Criou muitas esculturas e trabalhou com obras de arte sacra por meio século, sendo reconhecido como um dos melhores escultores de arte sacra entre o final do século XIX e início do século XX no Brasil. Faleceu em São Paulo em 23 de junho de 1943. Informação obtida no II Seminário Internacional Patrimônio Sacro: Mosteiro de São Bento-julho de 2015: A Presença Italiana Na Arte Sacra Paulista na Virada do Séc. XX: A Oficina de Escultura e Entalhe de Marino del Favero - Cristiana Antunes Cavaterra, coordenação da mesa Percival Tirapeli.

[3] Felipe Dias Lopes, relata que seu pai, Constantino Dias Lopes, era espanhol e que veio para o Brasil em 1886 fixando residência na atual Avenida Maria Coelho Aguiar, tornando-se festeiro e guardião da Capela da Penhinha.









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