História
publicada em 13/10/2010 link:
Esta
semana recebemos fotos intituladas: "Construção da Represa de Santo
Amaro", datadas entre 1906 a 1912, verdadeiras preciosidades históricas.
Nelas observa-se abnegados trabalhadores no que se transformou em um dos
reservatórios de abastecimento da capital paulista, tanto em geração de energia
como em abastecimento de água potável; coisa difícil na atualidade. O cedente
destas raras belezas foi nosso amigo Lico Boeninha, da família Placoná,
representante da mais distinta estirpe santamarense, e que muito nos orgulha
ter havido confiança deste precioso tesouro e que agora extraímos das imagens
congeladas no tempo, investigando "a fotografia como concepção
histórica", e ficamos agradecidos pela confiança.
Isto nos remeteu a momentos vividos, e devido ao fato citado, resolvemos, por algum impulso momentâneo, ir além da barragem citada. Pegamos o metrô da linha cinco, que com sua futura expansão chegará até a chácara Klabin e o Largo Treze de Maio, em Santo Amaro.
Dirigimo-nos para a estação dos trens da CPTM que ligam Osasco ao Grajaú, de onde seguimos em um coletivo para o Terminal de Ônibus Parelheiros, com baldeação para o Bairro da Barragem. No meio do trajeto "apeamos" no que foi o projeto colonizador do império brasileiro, uma tentativa de instituir a primeira Colônia em São Paulo.
Uma apresentação estampava-se no local em placa esclarecedora: "Colônia Paulista - Antiga Colônia Alemã, fundada em 1829”. Este é um dos mais antigos focos de colonização estrangeira no Brasil. Abriga diversos patrimônios históricos que retratam sua trajetória, como o Cemitério da Colônia (1840) e a Casa de Taipa de Pilão (1870). Foi um entreposto imperial no antigo caminho de Conceição de Itanhaém, que ligava o litoral ao antigo Município de Santo Amaro de Ibirapuera.
Há algum tempo, atingimos a Aldeia Rio Branco, descendo pela Serra do Mar, seguindo o Rio Branquinho, de águas cristalinas, rompendo barreiras pedregosas, fazendo parte da Área de Preservação Ambiental dos rios Monos e Capivari, atingindo a Reserva Indígena Rio Branco, em Itanhaém.
O Cemitério de Colônia abriga em seu "campo santo" toda saga dos primeiros imigrantes, grandes homens e mulheres que acreditavam num novo porvir. Uma lápide na entrada demonstra o carinho com que os filhos destes demonstraram pela memória, como este fragmento: "Viemos pelo mar, viemos para ficar, trabalhar e construir uma grande nação", homenagem redigida pela Associação Cívica Colônia Alemã. Como um réquiem silencioso, passamos respeitosamente pela última morada destes trabalhadores vindos deste longínquo país, a Alemanha, singrando pelo Mar Tenebroso.
Seguimos para o Bairro da Barragem, local que um dia a mente infantil gravou como o lugar "mais bonito do mundo", coisas da imaginação verdadeira de criança. A mata, mistura Atlântica com pequenos clarões de vegetação rasteira parecia a mesma, embora a expansão imobiliária vá aos poucos chegando de mansinho, sem planejamento sustentável de ocupação, que faça jus a importância local.
Temos ainda alguma referência do passado teimoso dizendo: "Área de Segurança, Reservatório Billings". Há também citação aos guaranis "tokoa tenondé porã" e "tekoa nhe'em porã", como se conhece a aldeia Krukutu, e que são assentamentos familiares denominados "tekoa", o modo de ser guarani, mas conforme ao estatuto de reservas têm-se restrições às visitas, somente sendo possível com agendamento prévio.
Chegamos à Barragem ou Morro da Saudade, e parece que por algum motivo paralisamos assustados e até hipnotizados, pois onde havia um dia água batendo às portas da comporta, estava agora seco e uma mata secundária assumia seu lugar. Os recursos hídricos parecem intermináveis, mas urge reflexão quanto aos programas de adequação do sistema metropolitano de distribuição de água e abastecimento da cidade podem estar comprometidos ou próximos de um colapso.
Seguimos em área alagada por água estagnada através de uma pinguela saindo no costado passando por poucas araucárias, não muito comum no estado, saindo num talude de contenção, que um dia conteve as forças das águas e fez alegria de pescadores que recolhiam trinta quilos ou mais de peixes médios, sendo esta "mentira de pescador" muito verdadeira, confirmada na atualidade por seu João, que foi um deles, sustentando-se hoje com seu engenho de cana de açúcar próximo ao local, dizendo saudoso: "O peixe foi embora, um castigo!".
Uma comporta abandonada estava a nossa frente, com estrutura oxidada e uma talha de transporte parada "observando" as enormes vigas de madeira da barreira adormecidas no chão amontoadas umas sobre as outras, como testemunhas de um tempo de fartura. Fechamos os olhos como não acreditando, tentando recuperar a óptica de um local repleto de alegres pescadores, competidores do maior prêmio: um "bitelo pescado". As águas recuadas das paredes estavam longe, e para não ser história de pescador, que aumenta, mas não inventa, distanciava-se mais de um quilometro da margem da barreira, em seu lugar cobria uma vegetação de terreno alagadiço e um monte de ramagem que há muito não se via, como a carqueja, que dizem possuir propriedades medicinais.
Sentimos a saudade batendo forte. Despedimo-nos do passado de São Paulo, assustados com a realidade.
Isto nos remeteu a momentos vividos, e devido ao fato citado, resolvemos, por algum impulso momentâneo, ir além da barragem citada. Pegamos o metrô da linha cinco, que com sua futura expansão chegará até a chácara Klabin e o Largo Treze de Maio, em Santo Amaro.
Dirigimo-nos para a estação dos trens da CPTM que ligam Osasco ao Grajaú, de onde seguimos em um coletivo para o Terminal de Ônibus Parelheiros, com baldeação para o Bairro da Barragem. No meio do trajeto "apeamos" no que foi o projeto colonizador do império brasileiro, uma tentativa de instituir a primeira Colônia em São Paulo.
Uma apresentação estampava-se no local em placa esclarecedora: "Colônia Paulista - Antiga Colônia Alemã, fundada em 1829”. Este é um dos mais antigos focos de colonização estrangeira no Brasil. Abriga diversos patrimônios históricos que retratam sua trajetória, como o Cemitério da Colônia (1840) e a Casa de Taipa de Pilão (1870). Foi um entreposto imperial no antigo caminho de Conceição de Itanhaém, que ligava o litoral ao antigo Município de Santo Amaro de Ibirapuera.
Há algum tempo, atingimos a Aldeia Rio Branco, descendo pela Serra do Mar, seguindo o Rio Branquinho, de águas cristalinas, rompendo barreiras pedregosas, fazendo parte da Área de Preservação Ambiental dos rios Monos e Capivari, atingindo a Reserva Indígena Rio Branco, em Itanhaém.
O Cemitério de Colônia abriga em seu "campo santo" toda saga dos primeiros imigrantes, grandes homens e mulheres que acreditavam num novo porvir. Uma lápide na entrada demonstra o carinho com que os filhos destes demonstraram pela memória, como este fragmento: "Viemos pelo mar, viemos para ficar, trabalhar e construir uma grande nação", homenagem redigida pela Associação Cívica Colônia Alemã. Como um réquiem silencioso, passamos respeitosamente pela última morada destes trabalhadores vindos deste longínquo país, a Alemanha, singrando pelo Mar Tenebroso.
Seguimos para o Bairro da Barragem, local que um dia a mente infantil gravou como o lugar "mais bonito do mundo", coisas da imaginação verdadeira de criança. A mata, mistura Atlântica com pequenos clarões de vegetação rasteira parecia a mesma, embora a expansão imobiliária vá aos poucos chegando de mansinho, sem planejamento sustentável de ocupação, que faça jus a importância local.
Temos ainda alguma referência do passado teimoso dizendo: "Área de Segurança, Reservatório Billings". Há também citação aos guaranis "tokoa tenondé porã" e "tekoa nhe'em porã", como se conhece a aldeia Krukutu, e que são assentamentos familiares denominados "tekoa", o modo de ser guarani, mas conforme ao estatuto de reservas têm-se restrições às visitas, somente sendo possível com agendamento prévio.
Chegamos à Barragem ou Morro da Saudade, e parece que por algum motivo paralisamos assustados e até hipnotizados, pois onde havia um dia água batendo às portas da comporta, estava agora seco e uma mata secundária assumia seu lugar. Os recursos hídricos parecem intermináveis, mas urge reflexão quanto aos programas de adequação do sistema metropolitano de distribuição de água e abastecimento da cidade podem estar comprometidos ou próximos de um colapso.
Seguimos em área alagada por água estagnada através de uma pinguela saindo no costado passando por poucas araucárias, não muito comum no estado, saindo num talude de contenção, que um dia conteve as forças das águas e fez alegria de pescadores que recolhiam trinta quilos ou mais de peixes médios, sendo esta "mentira de pescador" muito verdadeira, confirmada na atualidade por seu João, que foi um deles, sustentando-se hoje com seu engenho de cana de açúcar próximo ao local, dizendo saudoso: "O peixe foi embora, um castigo!".
Uma comporta abandonada estava a nossa frente, com estrutura oxidada e uma talha de transporte parada "observando" as enormes vigas de madeira da barreira adormecidas no chão amontoadas umas sobre as outras, como testemunhas de um tempo de fartura. Fechamos os olhos como não acreditando, tentando recuperar a óptica de um local repleto de alegres pescadores, competidores do maior prêmio: um "bitelo pescado". As águas recuadas das paredes estavam longe, e para não ser história de pescador, que aumenta, mas não inventa, distanciava-se mais de um quilometro da margem da barreira, em seu lugar cobria uma vegetação de terreno alagadiço e um monte de ramagem que há muito não se via, como a carqueja, que dizem possuir propriedades medicinais.
Sentimos a saudade batendo forte. Despedimo-nos do passado de São Paulo, assustados com a realidade.
Uma
vingança da natureza?
Quem sabe seja mentira de pescador, ou pura verdade!
Quem sabe seja mentira de pescador, ou pura verdade!
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