terça-feira, 30 de agosto de 2016

O CONJUNTO DA OBRA...OBRA, OBRA,OBRA!

OBRA-SE POR TODO LUGAR

No conjunto da obra,
obra aqui, obra lá, obra acolá
e se ali se obra,
pode-se obrar em qualquer lugar,
pela simples vontade de obrar.
E se também aqui se obra,
então pode-se obrar sem parar.
Todos obrando,
transborda por muito obrar,
e assim o cesto transbordando,
de tanto conjunto da obra.
Deste modo se é um conjunto,

É um obreiro de qualidade,
que deste modo continua a obrar,
no campo, na cidade obra-se,
tanto que de tanto obrar,
tem-se o resultado da obra.
E aparece a parlamentar,
e fala e fala da obra,
porque tem língua,
tendo obrado em todo lugar.
e assim vão todos,
fazendo obra pelo mundo afora,
como conjunto da obra,
que de tantos obrarem,
deixa-se o produto da obra.

Com licença ao egrégio obrador,
que fede por muito obrar,
em obra sem acabar,
vai-se obrando em todo lugar,
enchendo a privada,
do produto obrante.
Há a empreiteira da obra,
aquela que constrói a obra
formando o CONJUNTO DA OBRA!

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

As terras de Herculano de Freitas na Vila de Santo Amaro, a Fazenda Caravellas e a Capela Santa EDWIGES na Riviera da Represa de Guarapiranga/SP

As terras dos autóctones guaianases tornaram-se propriedade do Estado

A história tem nuances onde a metamorfose se transforma ao correr do tempo, um tempo que dizemos passar, mas que na realidade somos nós que passamos pelo “tempo incólume”, mas aquilo que vemos na contemporaneidade atual outros virão com outros olhares em outro momento.

Dentro da Riviera Paulista, São Paulo, ainda há parte de um oásis as margens da Represa de Guarapiranga parte ainda intocável (ainda) de uma vegetação pela ação do homem, ou pouco transformada pela ação deste, mas em alguns aspectos mantém a exuberância da natureza que teimosamente tenta manter ainda como parte integrante de uma harmonia.

Neste espaço “esquecido” da velha Santo Amaro de autóctones habitantes guaianases como nos transmite a história reproduzida a larga em livros publicados.

Por força de ocupação estrangeira a terra tornou-se posse habitada por gente de mesma língua, onde estes nativos foram forçados a uma catequese para aprender a língua do ocupante. Depois disso miscigenou-se dando origem ao caboclo do encontro entre os povos europeus e indígenas, que foram largados depois a própria sorte embrenhando-se no mato vivendo da caça e da pesca e morando em “paioça” as margens de rios e lagoas.

Deste modo se criou muitas vilas pelo Brasil e da mesma forma se criou as aldeias de M”Boy (Embu das Artes), Carapicuíba, Pinheiros e a Vila de Santo Amaro e outros pequenos “fogos” de moradores.
Bem mais tarde foram se achegando outros grupos de estrangeiros que também se miscigenou e criou-se outra estrutura heterogênea, com muitos sobrenomes teutônicos com traços acaboclados de etnias já fixados à terra.

Estas terras virgens, outrora parte de aldeias, foram ocupadas e registradas em nome de famílias que exerciam controle político desde o período colonial, passando pelos dois Impérios da América do Sul e até a República.

Uladislau Herculano de Freitas Guimarães, o “dono das terras em Santo Amaro”

Destes que assumiram cargos de relevância no Brasil estava o Dr. Uladislau Herculano de Freitas Guimarães nascido no Arroio Grande, Província do Rio Grande do Sul, a 25 de novembro de 1865.  Matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo em 1884, transferiu-se para o Recife, em cuja Faculdade fez o 4º ano, sendo que depois voltou a São Paulo, recebendo o grau de bacharel em oito de março de 1889 no limiar da República. 

Foi para Campinas onde era o centro das idéias republicanas e nesta cidade casou em 1887, com Clotilde Glicério de Freitas, filha do chefe político local Francisco Glycério de Cerqueira Leite passando a trabalhar ao lado do sogro advogado.

Francisco Glycério mais tarde tornou-se Ministro dos Transportes e Ministro da Agricultura do Brasil de 1890 a 1891 e deste modo, com respaldo político, ascendeu rapidamente como advogado jornalista e tribuno e com o advento da República ascendeu ao cargo de Chefe da Polícia do Paraná, chegando a ser, governador provisório, em 1890. 

Herculano de Freitas tomou posse na Faculdade de Direito de São Paulo, recebendo o grau de doutor em 16 de janeiro de 1891 sendo nomeado lente substituto. Em 21 de março do mesmo ano foi empossado como lente catedrático. Sua carreira foi meteórica tornando-se deputado estadual, federal e senador por São Paulo. Nomeado lente catedrático de direito criminal, passou em 10 de fevereiro de 1902 por permuta com o Dr. José Mariano Corrêa de Camargo Aranha, a catedrático de direito público e constitucional a 1º de maio de 1902.

Foi eleito senador estadual para a legislatura de 1907-1915 , em 2 de fevereiro de 1907, assumindo sua cadeira em 14 de abril seguinte. No Senado foi membro da Comissão Permanente de Fazenda e Contas, entre 1907 a 1913, e da Comissão de Redação em 1913. Em 1910, foi nomeado juntamente com seu colega José Luiz de Almeida Nogueira, para representar a Faculdade de Direito, como delegado do governo federal no Congresso Jurídico Pan-Americano, realizado em Buenos Aires, na Argentina.

Renunciou ao mandato parlamentar, em agosto de 1913, quando recebeu o convite do presidente da República marechal Hermes da Fonseca para assumir o cargo de ministro da Justiça e Negócios Interiores, exercendo no período de 12 de agosto de 1913 a 14 de novembro de 1914. Sua vaga no Senado estadual foi preenchida por Fernando Prestes de Albuquerque.

Tornou-se Diretor da Faculdade de Direito de São Paulo  de 1915 a 1917. Foi Secretário da Justiça e Segurança Pública de São Paulo, na presidência Altino Arantes, filiou-se ao Partido Republicano Paulista - PRP[1] e foi Senador Estadual novamente em 1922 e logo Federal por São Paulo, funcionando como relator da reforma constitucional. 

Em 14 de dezembro de 1918, substituiu Eloi Chaves, eleito para a Câmara Federal, no cargo de secretário da Justiça e Segurança Pública do Estado de São Paulo, na presidência de Altino Arantes, renunciando então seu cargo no Senado paulista, sendo sua cadeira ocupada por Virgílio Rodrigues Alves. Na sua gestão, inaugurou a Penitenciária de São Paulo, estabelecimento modelar, tido como um dos mais adiantados do mundo, e lançou à pedra fundamental do Palácio da Justiça, sede do Tribunal de Justiça de São Paulo, permaneceu no governo até 1º de maio de 1920, quando assumiu Washington Luis, no governo de São Paulo, e foi substituído por Francisco Cardoso Ribeiro.

Em decreto de 7 de dezembro de 1925, foi nomeado ministro do Ministro do Supremo Tribunal Federal, preenchendo a vaga aberta com o falecimento de João Luiz Alves. Tomou posse em 28 de janeiro de 1926, vindo a falecer no Rio de Janeiro a 14 de maio de 1926.

As terras de Herculano de Freitas em Santo Amaro

Tamanha reputação e exercendo cargos de altíssima relevância política tinha vasto conhecimento de pluralidade de todas as pastas de governo e sabendo das dimensões do Estado de São Paulo que na virada do século 19 tornava-se a economia central do país, assumindo a grande participação no cenário nacional tornando-se o maior produtor de café nas primeiras décadas do século vinte, Herculano de Freitas adquiriu terras pela antiga província de São Paulo para delas usufruir das benesses da cultura em franca ascensão internacional do café, mas que por conseqüência de tipo de solo não foi a cultura primordial na Vila Santo Amaro, bem ao extremo sul e da capital, que neste momento possuía autonomia administrativa (de 1832 a 1935) e onde foi instalada a força hídrica geradora elétrica da Light and Power. Muitas destas terras abrangiam até fronteira de outros municípios possuindo uma área física de 640 quilômetros quadrados. Parte destas terras hoje é parte de distritos municipais da região sul. Implantada a Represa Velha de Santo Amaro adquiriu glebas extensas que mais tarde se tornaram fazendas de outros donos como o caso da Fazenda Caravellas no Riviera Paulista, às margens da represa hoje denominada de Guarapiranga.

Santo Amaro e a Represa com seus encantos

“É bem conhecida a velha Vila de Santo Amaro, a poucos quilômetros de São Paulo. Não faz muito tempo, apesar do tramuei que a liga à capital, (trem a vapor que ligava São Paulo à Santo Amaro {Liberdade/Largo 13 de Maio}  com 19 quilômetros de extensão,  idealizado pelo engenheiro Alberto Kuhlmann[2]) ela ainda conserva todo o aspecto de uma erma e distante cidadezinha do sertão. Mas com a necessidade de aumentar as reservas hidrelétricas que servem o poderoso centro industrial da capital paulista, foi preciso barrar os inúmeros córregos ou pequenos rios que descem diretamente da serra de Cubatão em demanda do Tietê. As proximidades da cidadezinha sertaneja ornaram-se então de uma longa série de lagos que, partindo, ao sul, do leito da estrada de ferro de Mairinque a Santos, estende-se, ao norte, até as proximidades da E. F. Santos Jundiaí. Foi uma transformação maravilhosa. A esquecida e velha Santo Amaro metamorfoseou-se em região alpestre, oferecendo, com as suas montanhas verdes, as suas águas azuis e as suas enseadas e praias caprichosas, um dos mais belos sítios de turismo do Brasil inteiro, senão de toda a América do  Sul. As terras, até habitadas somente por alguns míseros caboclos e servindo apenas à caça de pacas e veados, entraram rapidamente a ser vendidas. Às margens dos lagos, já então servidas por boas estradas de automóveis, (já se havia construído Auto-Estrada S.A. {Hoje denominada de Washington Luís} ligando São Paulo a região de Interlagos, ambos empreendimentos elaborados por Luís Romero Sanson) surgiram numerosas vilas de luxo e encantadoras casinhas de recreio. Com a instalação de alguns clubes náuticos em praias que foram recebendo nomes sugestivos, tais com Interlagos, Riviera, Praia Azul e Copacabana, as águas da imensa represa cobriram-se de velinhas brancas que deram vida nova ao caprichoso e vasto panorama, aumentando-lhe o encanto. Santo Amaro transfigurara-se...” (CARAVELLAS, p.143,144)

O Industrial Oscar Muller e a Fazendinha Três Caravellas

Partes destas terras de Santo Amaro, localizadas às margens da Represa Velha (a atual Guarapiranga) foram adquiridas em 1942 por Oscar Reynaldo Muller Caravellas[3], empresário de sucesso industrial com fábricas por São Paulo com a razão social O. R. Muller & Cia, sendo pioneiro em embalagens de bisnagas (cápsulas de estanho prensadas a partir de um disco prévio, chegando mais tarde ao desenvolvimento da matéria plástica) para pasta de dente, instalada no terreno da Rua José Antônio Coelho com fachada voltada para a Rua Caravellas, nº 138, onde se originou a Estamparia Caravellas, Indústria Metalúrgica e Plástica Brasileira S.A. Uma luta árdua de tenacidade descrito no livro “História de uma Indústria” onde São Paulo tornava-se um grande pólo industrial brasileiro assumida mais tarde pelos filhos Vera Muller, Armin Carlos e Gunter Oscar que tiveram ainda os encargos da Indústria Metalúrgica e Plástica Brasileira S.A. e A Chimica Plástica Caravellas S.A.



Era um sítio de “21 alqueires de terras aráveis à borda do lago e servidos ainda por numerosas nascentes de água cristalina, tudo apenas a 30 quilômetros de São Paulo. Adicionados a esses 21 alqueires a outras terras por mim adquiridas no outro lado do lago, no lugar chamado Campo de Baixo, ficava eu com uma considerável propriedade agrícola de mais de 50 alqueires, nas melhores condições para atendera todas as necessidades de abastecimento de frutas, legumes, verduras e laticínios de todo o numeroso pessoal das Indústrias Caravellas. Pus mão à obra. Derrubaram-se matas, araram-se e adubaram-se grandes extensões de terras e prepararam-se pastos excelentes. Construiu-se um grande estábulo e uma bela cocheira, tudo segundo os métodos mais recomendados e mais modernos. 


Plantou-se um bosque de castanheiras, um imenso bananal e seis mil mudas de uvas para a mesa, além de uma extensa horta capaz de produzir verduras e legumes para toda uma pequena população. Prepararam-se instalações para a pequena criação e distribuiu-se água encanada e luz com energia elétrica para todas as habitações da nova propriedade sem esquecer naturalmente a grande casa de residência. 

Estava montada a granja modelo – a Fazendinha Três Caravellas. Vieram então os animais vacas leiteiras, cavalos de sela e de trabalho, porcos de raça, carneiros, cabras, perus, galinhas, patos e até coelhos.  

Há lindos bosques de eucaliptos, há passeios encantadores, há uma esplanada para danças, há quadra de tênis e campo de futebol, sem contar os esportes aquáticos que os lagos oferecem. Em mesas desmontáveis que fiz construir, podem sentar-se mais de quinhentas pessoas, havendo também ali à mão o necessário para o preparo de sadias e excelentes refeições. Já eles(funcionários da empresa) lá tiveram duas grandes festas, com farto almoço ao ar livre, alegres danças e animadas competições esportivas. Eu lá também estive”. (CARAVELLAS, p.145,146)

Santa Edwiges

Uma capelinha muito formosa resiste ao tempo na região da Riviera Paulista, denominada de Capela Santa Edwiges, nome este que faz parte da história da família Muller Caravellas, em homenagem a Edwiges Haenel, que se casou com Oscar Reynaldo Muller Caravellas, tornou-se a senhora Edwiges Muller Caravellas, sendo filha de Oscar Haenel, que havia sido procurador do banco alemão Brazilianische Bank fur Deutschland.


A ermida começou a ser erguida por sugestão de um amigo de Oscar Caravellas, sendo o local escolhido pelo reverendo vigário de Santo Amaro, num local de um outeiro com vista para o lago. 

Em 1943 os trabalhos avançavam com rapidez e as partes de marcenaria, janelas, esquadrias, portas, bancos, juntamente com o altar em mármore, vitrais, sino, pia foram encomendados em São Paulo e eram enviados no momento da montagem com um cronograma bem definido. 

Foi convidado para a celebração inaugural o Bispo de Ribeirão Preto, Dom Alberto Gonçalves, mas devido as obrigações já assumidas em sua diocese enviou seu vigário geral, Monsenhor Doutor João Lauriano, que respeitando a região da Arquidiocese de São Paulo envia-se documento do bispo de Ribeirão Preto dirigido a Dom José Gaspar de Affonseca e Silva, arcebispo de São Paulo, requerendo autorização para as providências  necessárias ao ato litúrgico.  Assim a solenidade de benção e inauguração foi marcada para o dia 29 de junho de 1943.


Os convidados chegaram ao local de automóvel e/ou de bonde onde foram providenciados vários ônibus que esperavam em Santo Amaro para o transporte em direção a Fazendinha onde os convidados ao chegarem em ondas sucessivas, “viam a ermida de Santa Edwiges, a altear-se, muito simples e toda branca, no seu outeirinho verde”. (CARAVELLAS, p.159)


Todos convidados para o festejo de inauguração paravam em frente rente a grade de madeira contemplando a capela e aos poucos iam para seu interior, adornado de camélias com a santa no altar iluminada por círios e velas. Monsenhor João Lauriano procedeu à benção do novo templo fazendo após o descerramento da placa comemorativa, dirigiu-se a assistência saudou a senhora Edwiges Gertrudes Muller Caravellas.

Hoje a capela de Santa Edwiges ainda mostra sua beleza na colina, altiva e voltada para a Represa de Guarapiranga, na Riviera Paulista, obra de quem ousou fazer o bem feito há 73 anos e que faz parte da história de Santo Amaro!








Referências:
CARAVELLAS,Oscar Reynaldo Miller . História de uma Indústria. São Paulo: S.A. IND. GRAFICAS, 1949

HILTON, Ronald. WHO’S WHO Em Latin America. Part VI Brasil. London: Geoffrey Cumberlege/Oxford University Press

AMARAL, Antonio Barreto do. “Dicionário de História de São Paulo. São Paulo”: Imprensa Oficial do Estado de S. Paulo, Coleção Paulística, nº.19, 1981.

CALIMAN, Auro Augusto (coordenador). "Legislativo Paulista – Parlamentares (1835-2005)". Imprensa Oficial, São Paulo, 2005.



Links complementares:

Escola Adventista e o Capão Redondo: 100 anos de convívio

DATAS HISTÓRICAS: SANTO AMARO, CAPELA DO SOCORRO E OUTRAS


Represa de Guarapiranga: Imagens da Construção da Barragem na Capela do Socorro/SP


Represa de Guarapiranga: ESCOPO


Documentos de Santo Amaro, São Paulo: Início da Villa e Extinção do Município


FREGUESIA DE SANTO AMARO E A COLÔNIA PAULISTA, NÚCLEO COLONIAL IMPERIAL





[1] Com a cisão no Partido Republicano Paulista, entre Francisco Glicério e o presidente da República Prudente de Moraes, ficou Herculano de Freitas ao lado de seu sogro, e se afastou momentaneamente da política, assumindo a direção do matutino “A Nação”, combatendo em suas páginas o governo de Campos Sales. Em 31 de dezembro de 1900, foi eleito deputado estadual para a legislatura de 1901-1903, mas renunciou ao mandato em 25 de novembro de 1902. Retornaria mais uma vez ao legislativo estadual paulista, quando foi eleito em 31 de maio de 1903, em sua própria vaga, sendo empossado em 30 de junho. Entre 1901 e 1902, fez parte da Comissão Permanente de Justiça, Constituição e Poderes, e no ano de 1903 integrou a Comissão de Fazenda e Contas. Foi também líder da bancada do PRP em 1903.

[2] Santo Amaro teve como iniciativa uma linha de trens idealizada pelo Engenheiro Georg Albrecht Hermann Kuhlmann, naturalizado brasileiro que implantou os trens a vapor “Tramlok Krauss” importados da Alemanha. (Foi eleito Deputado Estadual pelo PRP e participou da Primeira Assembléia Constituinte Paulista). Estes trens a vapor ligavam o Largo 13 de Maio, em Santo Amaro, à Liberdade, próximo ao Vale do Itororó no antigo matadouro de São Paulo (próximo a atual Rua Humaitá). Implantou-se um novo matadouro através do mesmo engenheiro que tinha o monopólio de controle sobre a linha da “Companhia Carris de Ferro de São Paulo a Santo Amaro”. Esta linha ferroviária tornou-se deficitária e São Paulo assinava contrato com a Light and Power a canadense sediada em Toronto, tendo entre seus acionistas ingleses e norte americanos, para implantar o sistema eletrificado das linhas. Foi criada a The São Paulo Tramway, Light & Power Co. Ltd. em 1899 para iniciar barragens e sistemas onde se criou controle estrangeiro sobre a energia elétrica em São Paulo. A primeiro Hidrelétrica de São Paulo foi a Usina de Parnaíba, Rio Tietê inaugurada  em 23 de setembro de 1901 (depois denominada Usina Hidrelétrica Edgard de Souza ou Barragem Edgard de Souza).

[3] Tornou-se membro da Sociedade Cultural Brasil-Esrados Unidos e presidente do Esporte Clube Pinheiros, o antigo Sport Club Germania, fundado em 7 de setembro de1899,  e diretor da Federação das Indústrias.
O comendador Oscar Reynaldo Muller Caravellas nasceu 22 de janeiro de 1896. Filho de Carlos Muller e Maria Guilhermina Muller. Foi presidente das Indústrias e Estamparias Caravellas, Hotel dos Lagos S/A e Isofil S/A, também tesoureiro da Associação dos Sanatorinhos de Campos do Jordão, além, de dirigente de numerosas outras obras filantrópicas. Exerceu os cargos de secretário da Fazenda, de presidente perpétuo do Clube dos 21 Irmãos Amigos e de dirigente no Brasil - Mônaco. Possuiu várias condecorações. Faleceu na Capital Paulista em 24 de setembro de 1961. (RUA OSCAR CARAVELAS - ALTO DE PINHEIROS. Dicionário de Ruas com acréscimos)

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Agora vão ter que me engolir?

Uma oportunidade de se libertar da “monocultura” do futebol
O que orgulha o Brasil nas conquistas das Olimpíadas do Rio 2016 é a força de vontade, sem soberba, dos atletas olímpicos de modalidades de pouca visibilidade no país.
Ficará registrado na história mais esse feito, mas que infelizmente tudo voltará a rotina e o esporte em geral será relegado a um plano de esquecimento, pois o esforço é apenas da doação destes heróis que suplantaram todas as dificuldades, e isso se prolonga àqueles que não atingiram a medalha tão disputada, mas que pela abnegação de insistir saem vencedores também, apesar de instituições apáticas e um governo omisso que só darão algum suporte maior daqui há quatro anos nas Olimpíadas de Tóquio.
Apenas um esporte, que conseguiu o ouro olímpico, continuará a ganhar destaque na mídia 365 dias do ano: o futebol que arremata multidões e milhões de verbas e que faz muitos sonharem em abocanhar parte disso. Eles parecem intocáveis, um grupo seleto que pode falar o que quiser mesmo não sendo a prática de boa conduta como, por exemplo, uma frase “inédita de grande sabedoria":
“Agora vão ter que me engolir”!
Quem são aqueles que vão ter que engolir e o que vão ter que engolir num país que vive e respira o “ópio do povo”, o futebol, para manterem todos alienados nessa cultura, se pode assim ser denominada?
Se tivermos que engolir quem vive a vociferar sem pensar, quem fala porque tem língua, sem visão ou por falta de desconhecimento aos princípios básicos educacionais, este que diz como sendo o centro de tudo que rodeia o esporte, tem que respeitar todos que conseguiram o feito que foi alcançado não só pelo futebol; ele terá que “engolir” também, embora não quererão tal abuso, as medalhas dos outros esportistas que disputaram em outras modalidades!
Segue abaixo os “demais” medalhistas brasileiros nas Olimpíadas Rio 2016, tão campeões quanto os representantes do futebol:

Felipe Wu ganhou a prata na prova de pistola de ar 10 m, no tiro esportivo.
Judoca Rafaela Silva, tornou-se campeão olímpica na categoria até 57kg 
Judoca Mayra Aguiar, conquistou medalha de bronze 
Judoca Rafael Silva, o Baby, conquistou a medalha de bronze da categoria peso-pesado
Diego Hypólito levou a de prata no solo individual 
O ginasta Arthur Nory após a prova de solo da ginástica olímpica conquistou o bronze 
Arthur Zanetti faturou a medalha de prata nas argolas 
Thiago Braz conquistou um ouro histórico no salto com vara 
Poliana Okimoto conquistou a medalha de bronze na maratona aquática 
Isaquias Queiroz, prata na prova de canoagem (C1 1000m)
Robson Conceição conquistou ouro, maior façanha da história do boxe brasileiro
Ágatha e Bárbara, vôlei de praia feminino conquistaram a medalha de prata 
Isaquias Queiroz ganhou a medalha de bronze na prova C1 200m na canoagem 
Martine Grael e Kahena Kunze conquistaram ouro na última regata da classe 49er 
Alison e Bruno, vôlei de praia conquistaram ouro 
Isaquias Queiroz e Erlon de Souza foram prata na prova de canoagem 1000m em duplas
Maicon Siqueira garantiu o bronze no Taekwondo na categoria acima de 80kg 
Seleção brasileira de vôlei conquistou também ouro olímpico

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

JOSÉ WASTH RODRIGUES E O SEMINÁRIO MENOR METROPOLITANO DE SÃO PAULO EM PIRAPORA DO BOM JESUS[1]

OS PREMONSTRATENSES[2] DA BELGICA PARA PIRAPORA

Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti[3], conhecido posteriormente como Cardeal Arcoverde, foi empossado em 26 de agosto de 1892, como bispo auxiliar de Dom Lino Deodato Rodrigues de Carvalho, arcebispo de São Paulo e da transição do Império para a República. Enviou em 1894 para a Europa para entrar em contato com congregações para virem ao Brasil e promoverem ações missionárias e educacionais estando relacionados os redentoristas, lazaristas e premonstratenses.
Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti

Dirigiu-se ao prelado da Abadia de Averbode, Bélgica, da ordem premonstratenses, solicitando sacerdotes para sua diocese. Após aceitar o convite, Dom Gumaro Crets, nomeou os primeiros cônegos destinados à nova fundação. 

Assim, no ano de 1896, Vicente Van Togel e Rafael Goris dois religiosos premonstratenses, chegaram ao Brasil, e em 26 de dezembro de 1896 iniciaram seu apostolado na Vila de Pirapora, lugarejo localizado às margens do rio Tietê. Havia no local o Santuário do Bom Jesus, que atraía romeiros de outras cidades de São Paulo e outros estados do Brasil. 

Em 1897 lançaram a pedra fundamental do Seminário Premonstratense que se tornou o Seminário Menor Metropolitano de São Paulo, de 1905 a 1949.






A capela do seminário foi construída entre 1926 e 1928, e foi inaugurada na mesma época, por Dom Duarte Leopoldo e Silva, então Arcebispo de São Paulo.



O ANTES E O DEPOIS:CAPELA

Depois no local funcionou o Seminário Premonstratense[4] de 1949 a 1973. Até 1973, o convento de Pirapora foi a casa central da canonia(estrutura da ordem religiosa). Em dezembro de 1973 foram encerradas as funções da formação religiosa do Seminário tornando-se então residência dos cônegos.




Todas as obras entalhadas em estilo gótico foram feitas pelo irmão premonstratense José Withofs, belga, que viveu no Brasil de 1905 até 1959, quando faleceu.  


Os vitrais foram feitos pela Casa Conrado Sorgenicht, com vidros importados da Bélgica e Alemanha.


JOSÉ WASTH RODRIGUES NO SEMINÁRIO DE PIRAPORA

José Wasth Rodrigues nasceu em São Paulo em 19 de março de 1891 e quando jovem frequentou o Seminário de Pirapora do Bom Jesus até 1907, da Ordem Premonstratense[5], também denominada Ordem de São Norberto e seus membros conhecidos com Padres Brancos, pela vestimenta corriqueira. 


Idealizou os azulejos do Brasão de Dom Alderico Lambrechts, Abade Titular da Abadia de São Miguel em Antuérpia e reitor do Seminário de Pirapora de 1920 a 1936 e que podem ser vista ainda hoje nas dependência do antigo seminário.

Há no Museu do antigo Seminário da cidade de Pirapora do Bom Jesus há alguns trabalhos do artista que estão expostos daquele que foi um dos grandes ilustradores da história do Brasil.




Não se confirma se são desenhos originais, mas repara-se que em alguns trabalhos expostos há destruição por cupins e outros insetos nefastos que já causaram estragos irreparáveis em certas obras expostas.


OBRA MOSTRA O SEMINÁRIO: TELA TOTALMENTE DESTRUÍDA 


JOSÉ WASTH RODRIGUES: PINTOR, DESENHISTA, ILUSTRADOR, CERAMISTA, PROFESSOR E HISTORIADOR

Depois de se afastar do seminário estudou pintura com Oscar Pereira da Silva. Foi agraciado em 1910 com uma bolsa do Pensionato Artístico do Estado de São Paulo de 5 anos para se aperfeiçoar na Escola de Artes de Paris e a Academia Julien. Em 1914, três de seus quadros são expostos no Salão da Sociedade dos Artistas Franceses e vende seu primeiro quadro no exterior por 400 francos! Eclodindo a Primeira Guerra, voltou para São Paulo onde se casou com Argentina Guimarães tendo os filhos Roberto e Raquel.
Em 1916 fez paisagens do interior de Pirapora, Viturina e Tietê.


Foi "descoberto" por Monteiro Lobato que o publica na Revista do Brasil. O jovem completava sua renda dando aulas de pintura e retratava por encomenda. Viaja para o interior e as aquarelas e o bico de pena retrata a arquitetura colonial de Minas Gerais para onde se desloca. Vai depois para Bahia, Pernambuco e Maranhão, no ano de 1921. Trabalhou para a Ilustração Brasileira em 1927 onde fez desenhos a bico de pena cujo tema era o beneficiamento do café, com o pilão, a roda d’ água e o carretão. Depois fez desenhos de mobiliários para a Associação Comercial de São Paulo.

Monteiro Lobato, contratou José Wasth Rodrigues para ser ilustrador da Editora Companhia Nacional e em 1918 ilustra a obra Urupês. Monteiro Lobato tinha-o como representante das coisas genuínas promovendo esse interesse pelo campo aconselhava o artista a pintar o Brasil o que “está no interior, nas serras, nos sertões, nas cochilas onde bate o monjolo, onde floresce os cafeeiros, nos garimpos, nas catingas estorricadas, na palhoça de sapé e barro”.

Escreveu para a Revista do Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - DPHAN sobre “Móveis Antigos de Minas Gerais e “A Casa de Moradia no Brasil Antigo”. Fez Desenhos e aquarelas dos Uniformes do Exercito Brasileiro 1730-1922 organizado por Gustavo Barroso e publicado em Paris, além de ilustrar o livro “Brasões das Bandeiras do Brasil” de Clóvis Ribeiro publicado em 1933. Com sua vasta experiência fez muitos brasões e junto com Guilherme de Almeida, produziu o Brasão da Cidade de São Paulo oficializado em 8 de março de 1917 pelo prefeito Washington Luís e retratou parte da mesma cidade com as suas várzeas e igrejas. Em 1928 viajou para Alemanha, Áustria, França e Portugal. 

Na década de 1930 o artista José Wasth Rodrigues confeccionaria para o jornal O Estado de São Paulo seu ex-libris, perpetuado por anos.

Em 29 de agosto de 1932, São Paulo passa a ostentar o Brasão D’Armas aprovado pelo  governador do Estado, Pedro de Toledo, obra de Wasth Rodrigues completada com o Mapa da Revolução Constitucionalista.  Uma das mais difíceis obras por Washt Rodrigues foi o “Dicionário Histórico Militar” com 1660 páginas e 400 ilustrações que foi doado ao Centro de Documentação do Exército que o editou.
Seus trabalhos são em técnicas a lápis, bico de pena, guache, óleo que reproduziram velhos casarões e costumes cotidianos. São seus guardiões a Pinacoteca de São Paulo e o Museu Paulista. Seu passamento ocorreu em 21 de abril de 1957, no Rio de Janeiro.

Carlos Drumond de Andrade o define em poucas palavras:

“Wasth não ostentava ciência, possuía-a simplesmente. Ninguém o via deitando doutrina em rodas de artistas, críticos ou pesquisadores; consultado, informava e calava-se, com um silêncio astuto de caipira, esse caipira civilizado, que perdurava ainda na sua voz. Diante de falastrões, olhava, no máximo sorria de leve, não contraditava”



Vide:
Algacyr da Rocha Ferreira: Santo Amaro, Sua Arte Viva e os Vitrais Conrado Sorgenicht




Referências:

TRASANTCHI, Ruth Sprung. Pintores Paisagistas: São Paulo 1890 a 1920. São Paulo: Editora USP, 2002

Andrade, Oswaldo. “José Wasth”, Correio Paulistano, 12-01-1916

Rodrigues, Wasth. Tropas Paulistas de Outrora.




https://patrimonioespiritual.org/2015/04/14/capela-do-seminario-premonstratense-pirapora-do-bom-jesus-sp/




[1] A capela de Pirapora foi fundada em 31 de Maio de 1730, por José de Almeida Neves, doando 200 braças de terra com registro em Cartório do Tabelião de Parnaíba.

[2] Prémontré, comuna francesa, fundada por Norberto de Gennep, filho do conde de Gennep
Veja mais em: http://www.saosebastiaojau.com.br/abadia.php

[3] Tornou-se o primeiro Cardeal na América Latina, em 1905

[4] Seminário Premonstratense: Rua Nossa Senhora de Fátima, 24, Pirapora do Bom Jesus, São Paulo

[5] Premonstratenses, são Cônegos Regulares, ou seja, religiosos que formam uma igreja local em torno do Abade e em comunhão com a Igreja de Roma. A Abadia São Norberto está localizada na cidade de Jahu, São Paulo, à Rua Tenente Navarro, 446