Biografia resumida de Joaquim Gil Pinheiro
Joaquim Gil Pinheiro nasceu na Freguesia de Alcaide, Fundão, Portugal, em 1855 e
emigrou para o Brasil no ano de 1878, onde angariou fortuna notável, como
apicultor e fabricante de velas, conhecimento adquirido com muito
esforço no Brasil e transferido para Alcaide onde existia a “fábrica” do Lagar
da Cera.
LAGAR DA
CERA DE GIL PINHEIRO ALCAIDE, PORTUGAL
Conta Joaquim Gil Pinheiro, no
prefácio p. 5, do Livro Primícias: Poema dos
Principaes factos da História do Brasil até a sua Independência, editado em 1900, em São Paulo:
“Cheguei
ao Rio de Janeiro no dia 3 de junho de 1878, com dois vinténs no bolso, sem
recomendações e sem nenhuns conhecimentos; porém, não me foi difícil encontrar
hospedagem em uma grande casa comercial da Rua do Ouvidor, na qual não fiquei
como empregado porque tencionava vir residir em São Paulo, onde já tinha um
conhecido e parente remoto, ao qual escrevi, partindo para esta cidade em 21 do
mesmo mês, e logo que aqui cheguei fui para a fábrica de velas de cera (em Santa
Cecília) de propriedade desse meu conhecido e parente, onde me hospedei, e em
poucos dias aprendi a fabricar toda classe de velas de cera, sem que
anteriormente as tivesse visto fazer.”
Neste momento Joaquim Gil Pinheiro
retira-se para a freguesia de São Bernardo (hoje São Bernardo do Campo) e
percorre três léguas, aproximados 17 quilômetros indo pela estrada de rodagem
de acesso a Santos e se hospeda em casa de um indivíduo que se tornou seu
amigo.
“Como não tinha dinheiro, nem
outros meios, dediquei-me à cultura de abelhas, a quis seu proprietário não
ligava importância, por não haver quem delas quisesse tratar com medo das
ferroadas; e então comprei cem colméias, a prazo de seis meses, e as levei para
uma chacarazinha, onde comecei lidar com elas sem nunca ter visto ou saber a
maneira e o modo porque eram cultivadas, principalmente aqui onde tinha chegado
há poucos meses, mas com elas fui aprendendo, mesmo porque a necessidade me
obrigava a assim proceder, e com energia e força de vontade, as quais sempre
presidiram todos os meus empreendimentos, ganhei a prática precisa, de modo que
elas próprias me ensinaram a cultivá-las. Tanto foram as minhas observações,
adquiridas em um ano e meio, que inda hoje, apesar de já terem passado vinte anos,
seria capaz de escrever um tratado prático de apicultura, se fosse preciso, e
talvez mais explícito (ainda que resumido) do que alguns já publicados, no que
respeita ao tratamento, cultivação, preparação de mel e cera, e seus
rendimentos e despesas.”
“A fim de tornar bem conhecida a
minha indústria de velas de cera, resolvi exibir na Exposição provincial ou
regional, que aqui se realizou em 1885, diversos produtos de cera em obra, os
quais mereceram ser premiados.”
Joaquim Gil Pinheiro liquidou sua casa comercial denominada Casa
Vermelha do Riachuelo em 1891, casa esta fundada em junho de 1881, anexo a uma
fábrica de velas e cera, olhando para o futuro para não voltar ao passado!
A este
benfeitor ficou a dever-se em Alcaide a exploração e canalização de água para o
abastecimento da população, bem como a construção dos chafarizes da praça, em 1914, onde se
encontra uma escultura com o seu busto, o tanque dos burros para os animais
sedentos e o chafariz do Adro da Igreja.
O Chafariz da Praça, com HERMA de Joaquim Gil Pinheiro, na
altura da inauguração.
Tinha
uma gratidão pelo Brasil, onde viveu em São Paulo, e até fixando residência na
cidade de M’Boy, atualmente denominada de Embu das Artes, no Estado de São
Paulo.
Tinha apurado senso de observação e
diz em “Primícias”, página 10: “não
ter cursos científicos nem estudos secundários, mas simplesmente conhecimentos
literários adquiridos na vida prática”,
sendo um observador e grande estudioso autodidata, que recolhia fontes para
idealizar suas obras e ser responsável por trabalhos onde se destacam:
Primícias:
Poema dos Principaes factos da História do Brasil até a sua Independência, 1900, São Paulo. (exemplar da Biblioteca Brasiliana Guita e
José Mindlin- http://www.brasiliana.usp.br/bbd/search?&fq=dc.contributor.author%3APinheiro%2C%5C+Joaquim%5C+Gil
)
Roteiro
de Lisboa – Histórico, Hidrográfico, Corográfico, Arqueológico e Estatístico, 1905, São Paulo, Brasil.
Memórias de MBoy,
etnográficas, históricas e etimológicas, São Paulo: Empreza Graphica Moderna,
1911.
Os Dois Carecas, comédia em três atos de costumes portugueses
Maricas,
cena cômica em um ato em três quadros.
Faleceu
em Coimbra, em 28 de novembro de 1926, sendo transladado para o Brasil. Os seus
restos mortais encontram-se no Cemitério São Paulo, localizado na Rua Cardeal
Arco Verde, Bairro de Pinheiros, na cidade de São Paulo, no Brasil.
MAUSOLÉU DE JOAQUIM GIL PINHEIRO, CEMITÉRIO SÃO
PAULO
Biografia de personalidades de Alcaide, Fundão, Portugal
http://www.terralusa.net/?site=108&sec=part5
http://www.terralusa.net/?site=108&sec=part5
Alcaide –Aldeia da Gardunha- http://alcaide
aldeiadagardunha.blogspot.com.br/2012/03/personalidades-alcaidenses.html
Embu
das Artes no tempo de Joaquim Gil Pinheiro
“A uns 26 quilômetros do Largo da Sé,
para o sudoeste desta capital do Estado de São Paulo, por uma mal conservada
estrada de rodagem, que fez parte do circuito automobilista de Itapecerica, em
uma região empolada por vastos montes de várias alturas, a 900 metros mais ou
menos acima do nível do mar, jaz, no planalto do contraforte de uma cordilheira
desses outeiros, a povoação de Mboy, entra as ribeiras de Ressaca e de Mboy,
que se juntam ao fundo da povoação formando ali a figur de um ângulo. A seguir
à junção das duas ribeiras, toma o nome de rio Mboy-mirim, que vai entrar na
margem esquerda do rio Mboy-Guassu, tributário do rio Pinheiros, e todos do rio
Tietê.” (Pinheiro, p.14)
CHALET NA RUA DE BAIXO
“Mandei
em 1902 construir um pequeno chalet, dentro da povoação de Mboy ou Embu, (hoje denominado Embu das Artes) como
alguns moradores do lugar a tratam... E, lá, sem preocupações nem distrações,
num sossego abstrato contrario os meus hábitos de homem da lide, resolvi
entreter-me com alguma coisa para dar expansão ao meu espírito irrequieto,
comecei em princípio de 1910 a iniciar o meu trabalho, na persuasão de algum
dia ser útil aos que fizerem história do lugar e aos filhos da terra que se
interessem por sabê-la; bem como aos estudiosos amantes da arqueologia
histórica, que poderão encontrar alguma coisa em minha resenha que intitulei:
Memórias de Mboy” (preâmbulo)
OBRA NO POSTO PARANÁ-EMBU DAS
ARTES
Joaquim
Gil Pinheiro relata os costumes da região da atual cidade de Embu das Artes que na época tinha toda a
exuberância de local “quase virgem” e cercada de matas verdejantes, mas que já havia
a preocupação do autor, pois acreditava que esta região seria povoada e que se
apagaria grande parte dos costumes da gente da roça por interferência de outros
grupos que trariam outros costumes de suas terras de origem.
“A
região do Mboy, ainda não explorada nem colonizada, apesar de tão próxima da
capital do Estado de São Paulo, devido não só a falta de fácil condução, a que
nós da cidade estamos acostumados para comodidade pessoal e material, como a
desdém do governo do Estado, descurar desta vasta e fértil zona, talvez por ter
muitas outras que lhe merecem mais atenção, quiçá em melhores condições a
colonizar, já adaptadas para esse fim, posto que mais distantes da capital,
ainda com bastantes falhas por falta de quem as queira habitar, não obstante os
grandes favores que o referido governo dispensa aos colonos agrícolas,
consignados nas leis do Estado e da União...”
“Apenas
existem três estradas de rodagem, que servem em parte esta região, bastante
acidentadas, devido à aglomeração de morros por aqueles sítios, hoje mais ou
menos estragadas por falta de conserva; a duas das quais apelidaram de
“Circuito Automobilista de Itapecerica”. Partem paralelamente desta capital,
uma pelo bairro de Pinheiros e Mboy, e a outra por Santo Amaro, até se
encontrarem na vila de Itapecerica; por cujo circuito se fez até hoje apenas
uma corrida oficial de automóveis...”
O
acesso para o sudoeste do Estado era de grande dificuldade por falta de
estradas que ligassem a região com vilas mais próximas, inclusive a Vila de
Santo Amaro, portanto esse intercâmbio entre lugarejos era de grande
dificuldade como cita o autor em sua análise da região a uma “distância
histórica” de mais de um século.
CONSTRUÇÃO DA ESTRADA M'BOY -1936
“Não
há mais estradas para aqueles sítios, a não ser a que também parte desta
capital à cidade de Sorocaba, nas mesmas condições das precedentes, que passa a
uma légua mais ou menos da povoação de Mboy; apenas tortuosos caminhos mal
feitos e mal cuidados, que às primeiras chuvas se tornam intransitáveis, feitas
por moradores vizinhos sem orientação técnica de espécie alguma, os quais se
ocupam em tapar buracos com terra, e isso quando obrigados pelas Câmaras
Municipais, sob pena de multa ou prisão”.
“As
conduções de hoje pro esses caminhos e estradas desde esta capital em pouco
diferem com as de há cem anos: carros de bois, tropas soltas e com cargueiros,
cavaleiros, manadas de gado de várias espécies, etc.; apenas de longe aparece
até Itapecerica, algum automóvel, carro de praça ou aranha (tipo de charrete) em risco de ficarem estragados, devido ao mal
estado das estradas, mormente em tempo chuvoso.
O
movimento agrícola à beira dessas estradas e caminhos é quase nulo, pois
somente se encontram campos, vales, montes, etc.; em estado agreste sem nenhum
preparo agrícola, servindo de pasto para animais, sobretudo vacum e cavalar, já
principiando por ali o lanígero em pequena quantidade relativa...”
“De
longe em longe, se deparam algumas roças de milho, feijão, canaviais de cano
doce pra fazer aguardente; sendo de notar que as matas nas proximidades desta
capital até Mboy, estão bastante devastadas para lenha e carvão.”
Toda
a região que compreendia Santo Amaro, Itapecerica da Serra, Embu das
Artes(M’Boy), Cotia e outras vilas próximas eram grandes fornecedores de carvão
vegetal para abastecer a cidade de São Paulo, inclusive usavam até a Represa de
Santo Amaro, depois denominada de Guarapiranga, para escoar parte desta
produção.
“As
casas a beira ou nas proximidades desses caminhos, são de pobre aspecto, mal
conservadas e mal cuidados os terrenos em volta delas, vendo-se penas perto de
algumas, mal tratado pomares de laranjas, pessegueiros, limas, nespereiras e
bananas, as demais, quase em geral, espalham-se pelos campos ou à beira do mato
perto da água ou lenha.”
Há
de se notar que estamos no início do século 20 e o Brasil é exclusivamente
formado por terras agrícolas e não tínhamos uma indústria de transformação
ocorrida pela “revolução tardia” ocorrida apenas após entre as duas primeiras
guerras mundiais, quando os países da Europa no envolvimento beligerante
necessitavam de matérias primas e gêneros de primeiras necessidades em suas
terras arrasadas pelo conflito.
A Igreja de Nossa Senhora do Rosário foi
idealizada pelo Padre Belchior de Pontes(1644-1719) em taipa de pilão por volta
de 1690 nas terras doadas por Catarina Camacha (ou Camacho) em testamento aos
padres jesuítas do Colégio de São Paulo (atual Pateo do Collegio- Museu Anchieta/SP). O convento foi anexado à Igreja
e parcialmente finalizada pelos idos de 1734 para uso dos padres jesuítas que
trabalhavam na catequese dos índios da Aldeia de M’Boy. Atualmente o local
abriga vários acervos, como imagens, oratórios e
altares de barroco paulista de grande valor histórico feitos por artesãos entre
os séculos 17 e 19. Foi tombado pelo IPHAN, em 1939 por pertencer à
arquitetura barroca paulista do século 17. Localização: Largo
dos Jesuítas, 67 – Centro Histórico de Embu das Artes, Estado de São Paulo, Brasil.
IGREJA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO
Foi
criado para preservação histórica o “Museu de Arte
Sacra dos Jesuítas” de grande relevância em seu acervo bem conservado em
suas obras de cunho religioso que se localiza na antiga
Igreja de Nossa Senhora do Rosário e antiga residência jesuíta e o “Museu
Histórico, Folclórico e Artístico de Embu”, que consta do livro “Embu: Terra
das Artes e Berço de Tradições”, de Moacyr de Faria Jordão, da Editora Noovha
América, São Paulo, 2004, Capítulo 18, página 149:
“Criado
por força de Decreto nº 49307, de 13 de janeiro de 1968, no Governo Abreu
Sodré, foi instalado por conta da Prefeitura Municipal em prédio da Rua Andronico
dos Prazeres Gonçalves, nº 27, constando de Seção de Folclore dedicada a Gil
Pinheiro, Seção de Artes, tendo com patrono Henrique Boccolini, funcionando
juntamente com a Secretaria, pela exigüidade do Prédio.”
Em
plebiscito realizado em 1º maio de 2005 optou-se pelo nome de Embu das Artes, e
não mais somente Embu e sancionado em Lei
Estadual 14.537/11. Considerada estância turística do Estado de São
Paulo, atualmente possuí aproximadamente 250 mil habitantes, com área física de
70 quilômetros quadrados, ligada pela Rodovias Régis Bittencourt (BR 116),
Rodoanel e Raposo Tavares (SP-270) sendo reconhecida por ser expoente de
grandes artistas iniciada por Cássio M'Boy e
Tadakiyo Sakai, Mestre Assis, Solano Trindade, pioneiros que somaram outros
nomes de referência no campo das artes.( Jordão, Editora Noovha, p. 11)
Referências:
Pinheiro, Joaquim Gil.
Memórias de Mboy- etnográficas, históricas e
etimológicas. São Paulo: Empreza Graphica Moderna, 1911.
Pinheiro, Joaquim Gil. Primícias: Poema dos Principaes factos da História do
Brasil até a sua Independência, 1900,
São Paulo.
Freguesia de Alcaide,
Fundão, Portugal- http://www.terralusa.net/?site=108&sec=part4
Alcaide
–Aldeia da Gardunha- http://alcaide-aldeiadagardunha.blogspot.com.br/2012/03/personalidades-alcaidenses.html
Monumentos
Memoriais- http://affundao.nice-theme.com/t49-monumentos-memoriais
Visita ao Cemitério São Paulo, localizado na Rua Cardeal Arco Verde,
Bairro de Pinheiros, na cidade de São Paulo, no Brasil.
Jordão, Moacyr de Faria.
Embu: Terra das Artes e Berço de Tradições. Editora Nova América, São Paulo,
2004.
Jordão, Moacyr de Faria.
O Embu na História de São Paulo. 2ª edição revista e aumentada, São Paulo, 1964.
Prefeitura
de Embu das Artes - Rua Andronico dos Prazeres Gonçalves, 114 - Centro
Estado de São Paulo - Brasil - CEP:06804-200
Estado de São Paulo - Brasil - CEP:06804-200
Vide:
Joaquim Gil
Pinheiro e a Doação à Prefeitura de São Paulo
Negrito do texto
foi por conta do missivista do blog. Esperam-se as críticas
da crônica para aproximarem-se os fatos da realidade no tempo e espaço!
Belo trabalho, caro Amigo Carlos Fatorelli. Também fiz um caderno sobre Joaquim Gil Pinheiro, personagem que ainda figura na memórias dos alcaidenses. Há uns anos, falei com descendentes de familiares do «Pinheirinho», como é conhecido. Sou o autor do blogue «alcaide-aldeia da Gardunha. Já tenho dado elementos para pessoas do Brasil.
ResponderEliminarParabéns pelo seu trabalho, sou parente de JGP e tenho no arquivo documental da família registos muito interessantes. Em 1976 estive em S Paulo e claro envolvido com o espólio de JGP. Abraço Francisco Lino - Fundão - Portugal
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