A VÁRZEA DO CARMO E A
ILHA DOS AMORES
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O rio de Piratininga, aliás,
uma indefinição não do termo, mas do local, sem definição precisa a qual rio é a referência, estava no caminho de São Paulo dos
Campos de Piratininga, era um rio fértil na várzea, de fartura de peixes era
constante, alimentava a aldeia do cacique Tibiriçá, soberano do alto do
planalto, via as terras de seu povo perder de vista. Outro rio recolhia as
águas do Tamanduateí após longa jornada de 35 quilômetros, acolhendo sua foz,
era o rio Tietê, este de suma importância, que muito contribuiu para a
penetração pelo interior do Brasil, primeira “estrada” tinha sua corredeira indo
ao encontro do rio Paraná.
Para alimentar essas grandes artérias eram
necessárias pequenas veias de sustentação, e uma delas corriam ao encontro do
Tamanduateí, que do vale do planalto se via o Anhangabaú. Para os autóctones,
recebiam as benesses por gerações e tudo estava dentro de uma lógica natural:
os rios, suas margens férteis e inundáveis quando as estações exigiam um maior
fluxo de água, uma vegetação de retenção, ou comumente denominada nos dias
atuais de matas ciliares, enfim a natureza se encarregava de suprir o
necessário.
Evidente que do modelo importado europeu, de
grandes concentrações populacionais resultava aglutinar um maior número de pessoas
num espaço único, resultando o modelo de cidades que se agigantou ao longo do
tempo. No caminho estavam os rios e suas várzeas, usados por tropeiros e
lavadeiras. Consta que o rio Tamanduateí teve sua primeira interferência de
curso entre 1782 a 1786, aproveitando um pequeno desvio de si mesmo criou-se
seu primeiro desvio, e que depois foi uma constante num modelo de retificação
para o “apoderamento” do espaço “vital humano”. Em 1810 a várzea ampla da
baixada do planalto teve um aterro significativo na Ladeira do Carmo, atual
Rangel Pestana, influindo no sistema de navegação do rio. Em 1848 novas obras
sem levar em consideração os transbordos naturais nas margens, foram realizadas
e então o rio deu sua primeira resposta na década de 1850, uma grande enchente,
ou talvez apenas assumisse o espaço “vital do rio”.
Havia chegado ao Brasil,
um agrimensor natural de Krefeld, Prussia que mudou o modelo da cidade de São
Paulo, planejando e construindo pontes e estradas, e para “enxergar” todo este
espaço foi responsável pela Primeira planta de São Paulo, datada provavelmente de 1841, cita o
"Caminho para a Mooca", no bairro do Brás. (“Mapa da
Cidade de São Paulo e seus Subúrbios”, cópia
de 1918 de uma planta de autoria de Carlos Abraão Bresser datada de 1841-original desaparecido)
Além disso,
foram elaboradas e ou reconstruídas:
Ponte do Carmo, primeira ponte construída sobre
o rio Tamanduateí ligando a Ladeira do Carmo ao aterrado do Brás, sendo sua
estrutura em granito e arcada. Provavelmente já existisse uma Ponte
do Carmo, ou Ponte do “Franca e Horta”, nome do Capitão Geral da Capitania de
São Paulo, António José da Franca e Horta
e foi construído sobre o rio Tamanduateí, foi construída na primeira década do século
19, fazendo a ligação entre a ladeira do Carmo e a região do Brás.
Ponte de
Sant'Anna, uma das
primeiras pontes construídas sobre o Rio Tietê.
Canalização
e Alinhamento do Rio Tamanduateí - suprimiu-se uma imensa área da várzea original,
que aterrada deu origem a bairros e ruas, como a rua Vinte e Cinco de Março.
Retificação do Curso do Rio Tietê
Traçado
de São Paulo para o Serviço de Gás – com estudos e croqui arquivado no Museu Paulista
(Ipiranga), de uma cidade que passava a produzir em um Gasômetro suas demandas
e tentando suprir as necessidades de combustível, substituindo a lenha como
combustível.
Primeiro
Matadouro Municipal -
construído de taipa em 1849, no bairro da Liberdade, destinada ao abate de
animais.
Hotel Palm, sendo talvez a primeira construção paulistana
inteiramente de alvenaria e, provavelmente o primeiro hotel paulistano.
Projetada em 1851, situada no Largo do Capim, possuía detalhes raros para a
época.
Reconstrução da Estrada
de Lorena ou estrada nova de Cubatão, depois denominada Estrada do Mar, ligação
importante de São Paulo com a cidade de Santos e seu porto. Provavelmente
concluída entre 1838 e 1840, quando era presidente da província Rafael Tobias
de Aguiar.
São
Paulo e a primeira concepção urbanística da cidade
João Teodoro Xavier foi
nomeado em 11 de dezembro de 1872, para presidência da Província de São Paulo,
tomando posse em 21 do mesmo mês e depois de um mandato de 3 anos, entregou a
cidade em 29 de maio de 1875, com um
modelo urbanístico que se não ideal, facilitou sobre maneira os governantes
futuros.
A administração da
província de São Paulo estava a cargo da intendência de João Teodoro Xavier, que
ousou penetrar na grande várzea do rio Tamanduateí conhecida como do Carmo, e
que viria a ser o Parque Dom Pedro II.
“Pode-se afirmar, sem
exagero, ter sido o Dr. João Teodoro Xavier de Matos um admirável urbanizador
de São Paulo, quando não se falava de urbanização. Sua ação foi decisiva nesse
campo, na sua curta administração ocorrida do final de 1872 a 1875. Ao seu
romantismo João Teodoro aliava incomum força de realização. Assim é que a ele
se deve a abertura da rua então chamada Conde D’Eu, hoje Rua do Glicério, e que
fora antes, “caminho natural” para o Ipiranga, após cortar o bairro do Brás. A
João Teodoro também se deve a abertura da Rua do Hospício, que se estendia até
a Mooca. Além disso, remodelou o então largo
dos Curros, que depois passou a se chamar largo 7 de Abril e finalmente
a Praça da República. Tornou mais poético o chamado Morro do Carmo, melhorou as
ruas do Pari e do Gasômetro e chegou a inaugurar em 1874, o edifício destinado
a Escola Normal, que se situava entre as ruas da Imperatriz (15 de Novembro) e
a do Comércio.
E
fez mais: drenou os terrenos encharcados da Várzea do Carmo, na altura do Velho
Mercado, e ali fez construir, com o olhar de artista, um recanto realmente
poético, que muito agradou à gente da Paulicéia- a Ilha dos Amores.
A
ILHA DOS AMORES
Essa ilha ficava
próxima a 25 de Março e era formado por um desvio de águas do rio Tamanduateí
que passava na várzea. Aos domingos este pedaço de chão gramado que o
governador muito queria, enchia-se da fidalga gente paulista que lá ia
espairecer suas magoas ou exibir as indumentárias que a vaidade, já atuante
naqueles idos, exigia das nobres damas e sinhazinhas faceiras. Além do mais,
essa ilha era o ponto preferido para os namoricos que só assim podiam fugir aos
rigores das rótulas.
Um grupo de bajuladores
cercava sempre o mui ilustre governador de São Paulo, onde quer que se apresentasse.
E não falhava dia em que não fossem todos eles ao palácio com seus salamaleques.
O palácio era o “casarão da Rua da Bilha” como se dizia. Na esquina fronteira
ao edifício uma grotesca de camponesa a deixar cair, do seu púcaro, um tênue
fio de água num grande vaso de cimento. Aquela água depois corria pela ladeira
Municipal, hoje Rua General Carneiro.
Do punhado do seleto rol
faziam parte o capitão Antonio Bernardo Quartim, empreiteiro crônico de todas
as obras públicas, o alfaiate Mariano da Purificação Fonseca, ainda um tal de
seu Gulartinho, mais um tal nhô Paulo Pica-Fumo e uma senhora que vendia
pastéis e café, em tigelinhas em sua própria residência... e que tinha a
alcunha de nhá Maria Café e elogiava a criação da Ilha dos Amores, chamando-a
de “Céu Verde dos Namorados” embora o povo preferisse chama-la de “Ilha dos Amores do Dr. João Teodoro”.
Em meados de 1890 um
surto de malaria colaborou para elaboração de um projeto de Paula Souza e
Teodoro Sampaio para mitigar as influências das águas paradas e assim foi
sugerida a retificação do rio nesta região e deste “piscinão natural”, a várzea
do rio Tamanduateí!
Referências
Biográficas:
TOLEDO, Benedito Lima. São
Paulo três cidades em um século. São Paulo, Duas Cidades, 1981.
SIMONI, Lucia Noemi. A
Planta da Cidade de São Paulo de 1897: uma cartografia da cidade existente ou
da cidade futura. III Simpósio Luso-Brasileiro de Cartografia Histórica. Ouro
Preto, 10 a 12 nov. 2009.
Mapa da
Cidade de São Paulo e seus Subúrbios, cópia
de 1918 de uma planta de autoria de Carlos Abraão Bresser datada de 1841-original desaparecido
PLANTA GERAL DA CAPITAL DE SÃO PAULO
Organisada sob a direcção do Dr Pedro Augusto Gomes Cardim – 1897 –Escala de
1:20.000.
OLIVEIRA, Fabiano Lemes
de. Modelos Urbanísticos Modernos e Parques Urbanos: As Relações entre
Urbanismo e Paisagismo em São Paulo na Primeira Metade do Século XX. Tese
Doutorado, março 2008.
CAMPOS, Sergio Romanello; BRIDI, Carmen Lucia. Dr. João Teodoro
Xavier- Presidente da Província
de São Paulo
(1872-1875) Edição da Câmara Municipal de Mogi Mirim, 2002.
BARBUY,
Heloisa. A Cidade-Exposição, Comércio e Cosmopolitismo em São Paulo,
1860-1914. São Paulo: Editora: Editora da Universidade de São
Paulo, 2006.
OESP 01 de maio de 1961
Matéria: Gabriel Marques
NARDELLI,
Eduardo Sampaio. Flashes
Urbanos São Paulo em 60 Minutos. São Paulo Editora: SENAC
FICHER, Sylvia. Os arquitetos da Poli: ensino e
profissão em São Paulo: Editora
da Universidade de São Paulo, 2005.
PLANTAS ANTIGAS DA CIDADE ENCONTRAM-SE
PARA DOWNLOAD NO SITE DA PREFEITURA:
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1952: http://sempla.prefeitura.sp.gov.br/historico/img/mapas/1952.jpg
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