sexta-feira, 15 de junho de 2012

SÍMBOLO E SIMBOLISMO SANTAMARENSE: AS FESTAS RELIGIOSAS MUDAM DE LUGAR

IDENTIDADE E PERTENCIMENTO

Perfilar todas as festas que emanam da identidade popular, requer um estudo aprofundado, mas pode-se alinhavar uma interpretação, pois somos parte deste conceito histórico que um dia foi enraizado pelo orgulho, sem soberba, em termos como lugar, se não raiz, ao menos pertencimento em Santo Amaro.
Toda historiografia parece estar contida ao redor de um símbolo, e deste modo, nasceram às cidades antigas ao redor das paróquias formadas em cada “freguesia”. Santo Amaro, não fugiu à regra e foi idealizada em função do simbolismo religioso. Não vamos elencar datas ou contextos de sua formação, pois muitos historiadores, catedráticos ou não, já o fizeram com maestria, sendo fonte para encontro do caminho no momento presente. A Igreja como assembléia dos homens irmanados, foi sem dúvida, o ponto de partida do desenvolvimento da Cidade de Santo Amaro.

A força cristã está embasada em momentos da vida de Deus diante dos homens, “vivendo” Jesus em sua participação terrena, reverenciada na liturgia. Há todo um rito incorporado pela fé popular, que contrito, reverencia estes instantes. Estas representações fizeram parte do imaginário, que abarca o religioso, e está acima do que comumente interpretamos como folclore, que compeliu sempre o santamarense a estar presente nestes vários momentos sublimados, desde a paixão do Kyrios à Ressurreição, com o rito do fogo da “Luz do Mundo”, Jesus, simbolizado pelo Círio Pascal. É um tempo de vigília, outro simbolismo de espera, (como o é também o do Advento) o momento em que Deus formaliza em Pentecostes as raízes da Igreja.
Praça Santa Cruz, em Santo Amaro/SP: painéis de azulejo de José Wasth Rodrigues, esquecida entre as árvores na Avenida Adolfo Pinheiro!

Santo Amaro sempre esteve presente em cada um destes momentos, com a festa de Santa Cruz, como também a festa do Divino Espírito Santo, e seu estandarte vermelho e dourado, que arrebatou paulistanos para Santo Amaro, em um passado não muito distante; ou suas devoções ao Bom Jesus, com suas romarias que desafiam o tempo, dignas de tombamento histórico, ou a de São Cristovão, e ao Padroeiro Santo Amaro entre tantos santificados.
Parece que no momento há um entorpecer momentâneo nestas práticas, talvez efeito de uma transformação urbana em Santo Amaro, jamais vista em outros tempos, ocorrendo neste início do século 21. Os “festeiros” não se desencantaram, pois o encanto não morre por forças políticas, mas parece que se deslocou para as cercanias dos bairros avizinhados que fazem parte do que comumente chamamos de Santo Amaro, levados como em procissão.

Como exemplo, tomemos o bairro Jardim São Luiz, pequenino no tamanho (-sem contar com sua dimensão distrital de 25 km2-), mas fervoroso na fé. Fazendo parte da Diocese Campo Limpo, (idealizada em 1989, ao mesmo tempo da formação da Diocese de Santo Amaro, juntamente com Osasco e São Miguel Paulista) a Paróquia São Luís Gonzaga tem em seu padre Edmundo da Mata, o pároco que em seus 48 anos está á frente da mesma, em uma longeva administração digna de citação, quiçá um recorde! Talvez devido a isto, temos as tradições perpetuadas na missa de Lava Pés, ou no cortejo fúnebre da Paixão na Semana Santa, a sexta feira Maior, ou até acender a fogueira fora da paróquia para apresentar a “Luz do Mundo”, ou ainda ter todo o cortejo de Pentecostes, apresentando os Dons do Espírito Santo, onde os paroquianos participam em cada ato de Ação de Graças.

Além disto, há a procissão do Corpus Christi, o dom da Eucaristia, importante momento de consagração do Corpo e Sangue de Cristo, onde um grupo de artistas anônimos faz alusão ao momento sublimado no tempo, com tapetes coloridos, que acolherá a procissão seguida pelas ruas da localidade e que encerra com todos do cortejo sobre esta obra jardinense e que é repetido também em outras localidades.  
Evidente que estas adorações sempre culminam com o fervor popular, mas parece também estarem com seus dias contados na região do extremo sul de São Paulo, com o setor imobiliário expandindo-se pelas fronteiras do lado oposto ao Rio Pinheiros, que assiste silencioso as antigas glórias do que representou o orgulho caipira da Cidade de Santo Amaro, onde não há, neste deslocamento humano nos atuais complexos residenciais, comprometimento de pertencimento e identidade e nem as antigas “malhas viárias”, onde antes circulavam carroças, único meio de transporte antes do advento automotivo, comportam, no hodierno, tanta gente em circulação "motorizada" que as "ruas" também “não querem mais” procissões!

Até quando, Santo Amaro, irão vilipendiar-te em nome do “progresso”, apagando tua história?

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