IDENTIDADE E PERTENCIMENTO
Perfilar todas as festas que emanam da identidade popular, requer um estudo aprofundado, mas pode-se alinhavar uma interpretação, pois somos parte deste conceito histórico que um dia foi enraizado pelo orgulho, sem soberba, em termos como lugar, se não raiz, ao menos pertencimento em Santo Amaro.
Perfilar todas as festas que emanam da identidade popular, requer um estudo aprofundado, mas pode-se alinhavar uma interpretação, pois somos parte deste conceito histórico que um dia foi enraizado pelo orgulho, sem soberba, em termos como lugar, se não raiz, ao menos pertencimento em Santo Amaro.
Toda historiografia
parece estar contida ao redor de um símbolo, e deste modo, nasceram às cidades
antigas ao redor das paróquias formadas em cada “freguesia”. Santo Amaro, não
fugiu à regra e foi idealizada em função do simbolismo religioso. Não vamos
elencar datas ou contextos de sua formação, pois muitos historiadores,
catedráticos ou não, já o fizeram com maestria, sendo fonte para encontro do
caminho no momento presente. A Igreja como assembléia dos homens irmanados, foi
sem dúvida, o ponto de partida do desenvolvimento da Cidade de Santo Amaro.
A força cristã está
embasada em momentos da vida de Deus diante dos homens, “vivendo” Jesus em sua
participação terrena, reverenciada na liturgia. Há todo um rito incorporado
pela fé popular, que contrito, reverencia estes instantes. Estas representações
fizeram parte do imaginário, que abarca o religioso, e está acima do que
comumente interpretamos como folclore, que compeliu sempre o santamarense a
estar presente nestes vários momentos sublimados, desde a paixão do Kyrios à
Ressurreição, com o rito do fogo da “Luz do Mundo”, Jesus, simbolizado pelo Círio
Pascal. É um tempo de vigília, outro simbolismo de espera, (como o é também o
do Advento) o momento em que Deus formaliza em Pentecostes as raízes da Igreja.
Praça Santa Cruz, em Santo Amaro/SP: painéis de azulejo de José Wasth Rodrigues, esquecida entre as árvores na Avenida Adolfo Pinheiro!
Santo Amaro sempre
esteve presente em cada um destes momentos, com a festa de Santa Cruz,
como também a festa do Divino Espírito Santo, e seu estandarte vermelho e
dourado, que arrebatou paulistanos para Santo Amaro, em um passado não muito
distante; ou suas devoções ao Bom Jesus, com suas romarias que desafiam o tempo,
dignas de tombamento histórico, ou a de São Cristovão, e ao Padroeiro Santo
Amaro entre tantos santificados.
Parece que no momento
há um entorpecer momentâneo nestas práticas, talvez efeito de uma transformação
urbana em Santo Amaro, jamais vista em outros tempos, ocorrendo neste início do
século 21. Os “festeiros” não se desencantaram, pois o encanto não morre por
forças políticas, mas parece que se deslocou para as cercanias dos bairros avizinhados
que fazem parte do que comumente chamamos de Santo Amaro, levados como em
procissão.
Como exemplo, tomemos o
bairro Jardim São Luiz, pequenino no tamanho (-sem contar com sua dimensão
distrital de 25 km2-), mas fervoroso na fé. Fazendo parte da Diocese
Campo Limpo, (idealizada em 1989, ao mesmo tempo da formação da Diocese de
Santo Amaro, juntamente com Osasco e São Miguel Paulista) a Paróquia São Luís
Gonzaga tem em seu padre Edmundo da Mata, o pároco que em seus 48 anos está á
frente da mesma, em uma longeva administração digna de citação, quiçá um recorde!
Talvez devido a isto, temos as tradições perpetuadas na missa de Lava Pés, ou no
cortejo fúnebre da Paixão na Semana Santa, a sexta feira Maior, ou até acender
a fogueira fora da paróquia para apresentar a “Luz do Mundo”, ou ainda ter todo
o cortejo de Pentecostes, apresentando os Dons do Espírito Santo, onde os
paroquianos participam em cada ato de Ação de Graças.
Além disto, há a
procissão do Corpus Christi, o dom da Eucaristia, importante momento de
consagração do Corpo e Sangue de Cristo, onde um grupo de artistas anônimos faz
alusão ao momento sublimado no tempo, com tapetes coloridos, que acolherá a
procissão seguida pelas ruas da localidade e que encerra com todos do cortejo sobre
esta obra jardinense e que é repetido também em outras localidades.
Evidente que estas
adorações sempre culminam com o fervor popular, mas parece também estarem com
seus dias contados na região do extremo sul de São Paulo, com o setor
imobiliário expandindo-se pelas fronteiras do lado oposto ao Rio Pinheiros, que
assiste silencioso as antigas glórias do que representou o orgulho caipira da
Cidade de Santo Amaro, onde não há, neste deslocamento humano nos atuais complexos
residenciais, comprometimento de pertencimento e identidade e nem as antigas
“malhas viárias”, onde antes circulavam carroças, único meio de transporte antes do advento automotivo, comportam, no hodierno, tanta gente em circulação "motorizada" que as
"ruas" também “não querem mais” procissões!
Até quando, Santo
Amaro, irão vilipendiar-te em nome do “progresso”, apagando tua história?
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