segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A IMIGRAÇÃO e MIGRAÇÃO JAPONESA COM SANTO AMARO NO CAMINHO

A EXPANSÃO DE SÃO PAULO : Os imigrantes japoneses

Entre o século 19 e 20, o Brasil receberia seus primeiros imigrantes, incentivados por acordos bilaterais entre os governos do Brasil, ainda no IMPÉRIO, e governos da Europa e Ásia para que a mão de obra excedente em alguns países viessem satisfazer o desenvolvimento insipiente brasileiro. Em 1895 é assinado o Tratado de Amizade, Comércio e Navegação entre o Brasil e o Japão[1]. Um ano antes, Tadashi Nemoto, deputado representando o governo do Japão, estivera no Brasil e recomendou o envio de japoneses ao Brasil[2]. Em 1908 muitos imigrantes japoneses assumiram a responsabilidade de ajudar a construir uma nação de vários povos. Em 18 de junho de 1908, aportava em Santos o Kasato Maru com 781 imigrantes japoneses a bordo, que saíram do porto de Kobe numa viagem de 52 dias.

Em Santos foram divididos em seis grupos e enviados para a Hospedaria dos Imigrantes, no bairro da Mooca, em São Paulo, onde se estabelecia as regras de envio para as fazendas de café.

Uma geração corajosa assumiu o desafio, e dela surgiram os descendentes que fizeram no interior de São Paulo as colônias que desbravaram o sertão paulista.
Este é um breve relato dos tempos difíceis da lavoura, feito por Nikichi, conhecido no Brasil como Miguel e Dona Ekico Yoshida, que nasceu em 1929, em Pederneiras. A sua família era formada por sete irmãs e cinco irmãos. Primeiramente foram para o pontal do Paranapanema, na região de Presidente Wenceslau.
Os pais plantavam algodão e resolveram mudar para o norte do Paraná, ainda mata virgem onde estava a Colônia Esperança, formada por 100 famílias japonesas católicas e dividida em sete seções, sendo que a família Yoshida morava na seção 2. Nesta Colônia havia somente cultura, costumes e o idioma japoneses. A Colônia era assistida por Frei Xisto, natural da Alemanha, que falava fluentemente a língua do Sol Nascente e se desenvolvia através de relações da cultura importada da terra natal, onde as moças formavam o grupo de dança local, e muitas ainda participavam do escotismo e eram “bandeirantes”. Ainda havia grupos escolares brasileiros, porém as crianças aprenderam a língua portuguesa de forma decorada, sem conhecer o significado das palavras. Dona Ekico, formou-se em enfermagem[3] e trabalhou na Santa Casa até 1956. Voltou ao Paraná para ajudar no cafezal dos pais e dirigir a caminhonete da família para transportar sacas de café.
Seu Niikichi Mori, era da cidade de Nagasaki, no Japão, onde nasceu em 1927 e veio para o Brasil em dezembro de 1935, ainda criança, com apenas 7 anos, chegando no Porto de Santos, no

Hawai I Maru, em 22 de setembro de 1934.

Aos olhos de uma criança tudo era lindo, sendo que a aventura continuou no trem quando seus pais, Rie Mori e Kikushiro Mori, foram para a região da Mogiana, na cidade de Orlândia, onde era tudo uma grande floresta. Seu Nikichi, entrou no seminário de Guaratinguetá onde permaneceu até 1956, recebendo instrução teológica por 4 anos, e sua formação assim foi completada e somada com o método educacional das famílias japonesas, forjou o homem. Seguiu para Maringá fazendo baldeação de trem e depois de 12 quilômetros chegou à Colônia Esperança.

Nesse tempo, com 28 anos de idade, Nikichi, no Brasil chamado por Miguel, foi conhecer Ekico no norte do Paraná. Viajou para Arapongas, indo para a Colônia Esperança. Eles se casaram conforme os costumes antigos japoneses, ou seja, com o conselho e a confiança da família, se conheceram somente na véspera do casamento. O enlace matrimonial ocorreu em 28 de fevereiro de 1957 no Paraná. Dona Ekico passou a assinar Mori, que significa “floresta”. Brinca, dizendo que a junção dos sobrenomes Mori e Yoshida completava o sentido de “floresta que está em terra boa”. Desse matrimônio frutificou descendentes nisseis: Vera Lúcia, José Carlos, Edna Maria, Cláudio Luis e Cristiana. A família ampliou-se com os netos sanseis: Anderson, Fabiano, Débora, Dayana, Cláudia, Isabel Cristina, Amanda, Gabrielle, Helena e Larissa e, ainda um bisneto yonsei, Enzo.

100 ANOS DE IMIGRAÇÃO: VALE DO ANHANGABAÚ

Quando a guerra teve início todas as colônias que se fixaram no Brasil e tinham relação de conflito bélico com Alemanha, Japão e Itália tiveram um controle rígido do governo do presidente do Brasil, Getúlio Dornelles Vargas obrigando ao uso da língua portuguesa nas relações entre as colônias[4].
Do Paraná resolveram vir para a capital para início de uma nova vida. A cidade São Paulo era ainda pequena, mas já estava em ritmo de expansão. Não havia muitos lugares lúdicos e as diversões estavam relacionadas em ir às sessões de cinema, que na década de 50 eram a grande atração dos fins de semana ou irem a um lugar aprazível como as represas da região sul, ou os rios vários para nadar ou pescar algum bagre, costume quase que religioso do povo japonês, que tem uma relação muito grande com a natureza e por vezes reunir-se em alegres “convescotes” debaixo das árvores frondosas do lugar. Assim os Mori chegaram a Santo Amaro e conheceram o local da Represa de Guarapiranga, uma maravilha com um “Monumento bonito na entrada”, era um cartão de visita da Represa!!! Um pouco mais a frente havia um loteamento da Companhia Paulistana de Terrenos, no bairro insipiente do Jardim São Luiz, onde adquiriram uma residência depois do Rio Pinheiros, o mais próximo de Santo Amaro e que foi município independente até 1935. Dona Ekico entrou para o ramo de armarinhos, que ficou conhecido no bairro como “Bazar da Dona Cecília”, e onde havia grande procura, pois “tinha de tudo” e foi referência por 26 anos.

Senhor Miguel extremamente metódico, querendo aprender o ramo metalúrgico, estudou mecânica e entrou na ferramentaria da FAE S.A., que se localizava na Rua Américo Brasiliense, na Chácara Santo Antônio, onde se usinava os comandos de válvula da Volkswagen, empresa fixada no Brasil desde 1956.
Tornou-se exímio profissional, concorrido pelas grandes empresas de Santo Amaro, onde era um dos maiores parques industriais do Brasil, anterior a expansão do ABC, e hoje restam apenas galpões vazios ou grandes estruturas “desendustrialização” de Santo Amaro é visível, que estão sendo demolidas para dar novo padrão ao local que expande o setor imobiliário.
Um símbolo demolido de Santo Amaro: METAL LEVE Matéria Gazeta de Santo Amaro de 24 de julho de 1970
RIO TIETÊ: VIDA?

A tão decantada Represa de Guarapiranga que atraiu muita gente, hoje é um remedo de lugar limpo, e sua água que ainda abastece São Paulo com 30% de demanda corre o risco de tornar-se tão fétido como sua ligação principal com o Tietê, o rio Pinheiros, que foi a porta de entrada ao sertão paulista e de onde migrou para São Paulo a família Mori.

Atualmente os filhos fazem o caminho inverso dos genitores e buscam melhores oportunidades no Japão, são os chamados dekasseguis, trabalhadores estrangeiros do Brasil no Japão!

PERSEVERANÇA E RESPEITO PELA NATUREZA: OBJETIVOS A ATINGIR
Vide Complemento:
Culturas misturadas: Jardim São Luiz
http://www.saopaulominhacidade.com.br/list.asp?ID=1697
A saga japonesa e o laboratório em Santo Amaro http://www.saopaulominhacidade.com.br/list.asp?ID=3859
NOTAS:

[1] Kaigai Kogyo Kabushiki Kaisha Companhia de Fomento Industrial do Além-Mar conhecida K.K.K.K.


[2] O Tratado de Amizade, Comércio e Navegação entre Brasil e Japão foi assinado em Paris, em 5 de novembro de 1895, pelo então Presidente da República do Brasil o paulista Prudente de Morais. Somente durante o governo do Presidente Affonso Penna (15/11/1906 a 14/06/1909), que se efetivou a primeira imigração japonesa, devidamente organizada, para o Brasil. O Governo Federal, juntamente com Governo do Estado de São Paulo, incentivou a imigração japonesa, como clausula: O Governo de São Paulo reivindicava mão de obra eficiente para a cultura do café.

[3] Em 1949 apareceu a oportunidade de estudar em uma escola de auxiliar de enfermagem em São Paulo. Esta escola era a primeira escola de Enfermagem reconhecida pelo governo federal, em 1940, pertencendo a Santa Casa de Misericórdia, centro de São Paulo, na Rua Cesário Motta. O frei da colônia a trouxe para São Paulo descendo na Estação da Luz no ano de 1949. Entrou no internato da comunidade São José, na Rua Martinico Prado, nº 71, referência da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, onde permaneceu de 1949 a 1951. Frei Bonifácio, do Largo São Francisco, apoiava e incentivava as novatas auxiliares de enfermagem que, juntamente com a diretora irmã Maria Gabriela Nogueira, ainda viva com 88 anos, reforçava o incentivo, pois para o estrangeiro a adaptação da língua é a maior dificuldade. A professora de português era exigente e obrigava o estudo constante, pois as calouras de enfermagem precisavam acompanhar as aulas de anatomia, fisiologia, bacteriologia orientadas na língua local. Sofreu muito por não entender e não falar o português direito. As colegas e as irmãs a ensinavam com paciência. Estudou muito e demorou a aprender a pronúncia e o sotaque da língua portuguesa. Com muita garra e determinação, ela se formou em 1952, juntamente com 25 formandas, na primeira turma de Auxiliares de Enfermagem da Santa Casa de Misericórdia.

[4] Em 1938, o Governo Federal começou a limitar as atividades culturais e educacionais dos imigrantes. Em dezembro, decretou fechamento de todas as escolas estrangeiras, principalmente as de japonês, alemão e italiano, começaram a sentir os sintomas do conflito iminente. Em 1940, todas as publicações em japonês tiveram a sua circulação proibida. Até o fim da guerra, os japoneses viveram um período de severas restrições, inclusive com confisco de bens.

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