quinta-feira, 25 de março de 2010

OS TERRATENENTES DO BRASIL (18): Termos Pejorativos Usados para Designar os Povos da América

DESMERECER E DIVIDIR PARA MELHOR GOVERNAR[1]

Observação: Sem julgamentos inerentes aos termos, não há neste texto conotação alguma de racismo, ou algo pré-concebido, ou divisão de crenças quanto às origens destas construções, mas valendo-se deles para compreensão histórica de valores e como os mesmos foram usados ao longo do tempo pelos do poder para dividir e melhor governar, tanto nas origens da Península Ibérica quanto nas colônias achadas e divididas entre si por Espanha e Portugal, e que os conflitos, quando houve entre ambos, foram contornados pela hegemonia da Península.
Palavras chave: Eurocentrismo, Península Ibérica, árabe, mourisco, mudejar, Marranos, Melungeon, Zambo, cafuzo, cambujo, mulato, Cholo, mestizo, castizo, criollo, crioulo, mameluco, caboclo, caipira, matuto

Na Europa onde apenas pertencer ao governo e ser cavaleiro das ordens de guerra eram ocupações dignas da nobreza, a aristocracia menor se expandia com os "hijos d’algo". Estes “filhos de algo”, origem da palavra "fidalgo" preenchia todos os cargos administrativos e eclesiásticos, numa Europa de “sangue azul” que mantinham hierarquias de controle e domínio.
Eurocentrismo era a prática de ver o mundo de uma perspectiva européia com uma crença implícita, consciente ou inconscientemente, a preeminência dos europeus ocidentais. O termo implica a crítica dos interesses e valores em detrimento dos não-europeus.
Os efeitos desta condição de superioridade européia começou lentamente no século 15 e continua no hodierno. O caráter progressivo da imposição da cultura européia foi implantado nas conquistas das Américas, África, Pacífico e Australásia, região da Oceania que compreende a Austrália, Nova Zelândia e ilhas vizinhas, no Oceano Pacífico.

Mesmo as civilizações em bom estágio de cultura como a Arábia, Pérsia, Índia, China, México, Peru e Japão foram consideradas subdesenvolvidas em comparação a Europa dos colonizadores, que sempre impuseram uma óptica de desprezo às demais culturas considerando-se superiores aos povos subjugados, prevalecendo à estrutura hierárquica imposta a qualquer preço, submetendo as outras culturas, extinguindo-as, prevalecendo a idéia de ser superior no mais elevado da hierarquia e, portanto, mais próximo do ápice da nobreza do que os subordinados que estavam em um estrato inferior.

Na Peninsula Ibérica encontramos o Mudéjar, que permaneceram após a Reconquista da mesma. Refere-se ao termo árabe para "doméstico" ou "domesticado" e que se utiliza para designar mulçumanos espanhóis que permaneceram vivendo na Peninsula após a “Reconquista” pelos cristãos, submentendo-se ao controle político, dando-lhes o direito de prosseguir a prática da sua religião e utilizar o seu idioma e seus costumes. Com a Reconquista adaptou-se o costume vigente na Península Ibérica, a al-Andalus árabe, com garantias de proteção política e religiosa às populações que se submetessem ao novo poder. Estas comunidades islâmicas, denominadas de “aljamas”, agora sob domínio cristão, receberam o nome de mudejares, que no vernáculo árabe definia a submissão mediante um pacto de garantias, que poderiam ser políticas ou religiosas. “Mudajalat” tinha sua raiz na expressão “mudayyan”, referindo-se a “gente que permanece” ou “grupo dominado”, e, por conseguinte tributários e vassalos submetidos à nova ordem estabelecida.

Depois da Reconquista optou-se pela “Limpieza de sangre”, usado tanto por espanhóis quanto por portugueses, que para ambos significava a ancestralidade sem mistura dos tempos da invasão árabe. Eram àqueles peninsulares considerados puros, “cristãos velhos”, sem nenhuma ligação com judeus ou mulçumanos, que mais tarde serão obrigados a acatar a crença propagada pela igreja romana, impondo-lhes o cristianismo e aceitos como “cristão novos”. A nobilidade espanhola começou em torno do 9º século quando se estabeleceu a forma militar clássica de ocupação das terras pela cavalaria medieval, processo que durou por longos cinco séculos recuperando terras da Península Ibérica em mãos de ocupantes árabes, e seus vários califados. Deste modo estabeleceu-se na Península uma estrutura baseada na nobreza e uma linha de ancestrais que demonstraram poder levantando a espada para indicar a força da defesa de seus escudos que deram origem aos seus brasões, demonstração de lealdade, e que nas veias corriam o sangue azul e que seu nascimento não tinha sido contaminado pelo inimigo de mistura “escuro-descascada”.

Esta estrutura formatada de desvalorização do outro, sem aceitação de seu modelo não poderia ser repetida no Novo Mundo, pertença pela “graça de Deus” e mais sobre a força da espada que havia se levantado contra o “impuro mouriscado, misturado” fora das purezas determinadas e não vai admitir as imperfeições de quaisquer povos que fujam as regras dos dois poderes da Península, Portugal e Espanha, e para isso usará de termos pejorativos para segregar e melhor controlar, aqueles sobre o julgo do barbarismo transportado para a América.
Embarque de Mouriscos para Valencia, por Pere Oromig
Marranos, Cristãos-Novos da Península Ibérica

Na mesma linha os judeus conversos foram denominados “marranos” [2]. O termo "marrano" teve interpretação extraída da palavra hebraica anussim, ou "conversos forçados". É exatamente o caso daqueles judeus que tiveram de abandonar o judaísmo, e aceitar a fé cristã praticada na Península Ibérica. Um dos problemas enfrentados pelos judeus descendentes de marranos é o seu reconhecimento por outros judeus e para alguns, os marranos não são judeus verdadeiros e precisam de uma conversão de retorno à fé, a Fênix de Abraão, ave mitológica retornada das cinzas.

O termo marrano pode ter suas raízes na palavra árabe “máhram”, que significa “coisa proibida”. Essa palavra designa o cervo ou porco, animal proibido tanto para os muçulmanos como para os judeus. Na Espanha, a palavra marrão é usada para designar o leitão desmamado antes de ser castrado para engorda, que biblicamente é considerado animal impuro, referência pejorativa para denegrir os judeus forçados a se converter ao cristianismo chamados de cristãos-novos ou marranos. Outro termo encontra-se na junção de duas palavras hebraicas: MAR (amargo) + UNA (nós), dando origem ao um novo sentido para marrano, designando em hebraico “Nossa Amargura”.
Anussin é o termo hebraico usado para designar os marranos e significa “forçados”. Benei-anussim significa filhos, “ben anús” refere-se ao “filho forçado”, ou descendentes daqueles forçados a se converter, os marranos, e, que procuram retornar ao Judaísmo.

Melungeon os primeiros colonos da America do Norte

A instabilidade promovida pela Inquisição espanhola, pode ter sido responsável pelo primeiro assentamento permanente de muçulmanos em direção ao Novo Mundo mais precisamente na America do Norte.
Estes muçulmanos eram conhecidos como Mudajjan na Espanha, uma palavra que originou provavelmente o termo Melungeon vindos nas frotas de limpezas étnicas, de berberes muçulmanos recrutados a partir da região berbere galega das montanhas ao norte de Portugal em 1567.

O que pode este mistério Melungeon significar como fundamento desta origem muçulmana? Há duas palavras em turco: “melun" significa “amaldiçoados ou condenados” completada pelo restante da palavra com sentido de "vida" ou "alma", que utilizada em conjunto traduz-se como "aquele cuja vida ou alma foi amaldiçoada." O que parece ser uma referência aos primeiros muçulmanos que se submeteram a esta “pena” pelo oceano para se livrar das perseguições da Península aos não cristãos e que se propagaram pelo sudeste dos Estados Unidos. Uma vez no Novo Mundo, estes prisioneiros muçulmanos foram submetidos ao trabalho escravo nas plantações de açúcar e nas operações de mineração, talvez remanejados também ao Caribe e ao continente da América do Sul.

Em meados do século 17, havia pessoas que viviam entre tribos da Virgínia e Carolina do Norte, que foram descritos como índios escuros, talvez a cor cobreada moura, e que eram conhecidos como "Portugals." Em 1690, exploradores franceses anunciaram a descoberta de "mouros cristianizados" nas montanhas de Carolina.Quando os ingleses chegaram ao continente em meados século 18, grandes colônias dos chamados "Melungeons" já estavam estabelecidas no Tennessee e Carolina. A palavra Melungeon tornou-se mais um termo depreciativo, classificação para "ninguém em absoluto". O Melungeons, expulsos de suas terras e negados seus direitos, por vezes, assassinados, sempre maltratado, quase perderam o seu patrimônio, parte de sua cultura, os nomes de origem e sua religião original, mas não a sua estrutura genética.
Zambo era um termo espanhol, sendo que em português usa-se cafuzo para referir a mesma expressão ao termo. Era usado pelo império espanhol para identificar indivíduos da América espanhola que haviam miscigenado com africanos ou ameríndios. Outros termos foram sendo criados como um sinônimo ou semelhanças referidas aos zambos como cambujo que era a miscigenação do zambo com o ameríndio, numa segunda linhagem. Atualmente o termo refere-se a ancestralidade de africanos ou ameríndios, denotando que o africano e ameríndio produz o lobo, sinônimo para zambo, os zorros astutos dos altiplanos, fugindo da condição de escravos se refugiaram também na América Central.

No Caribe e parte da América do Sul, formaram comunidades e como exemplo ter-se-ia a República Dominicana e o Haiti que se mestiçaram com os tainos, os nativos da Ilha e que foram considerados renegados pelos colonizadores. Nas costas do Belize e Honduras era denominado garifuna, formado pela misiginação de índios Caraibas e Arawak com africanos refugiados nessas ilhas. Na Nicarágua, são reconhecidos nos miskitos, oriundos de um motim em um navio português com escravos da Guiné chegando à costa da Nicarágua, onde muitos apresentam traços africanos.
Mulatto denota uma pessoa com de ancestralidade branca e negra. O termo deriva do árabe e pode criar certas confusões em sua citação. Alguns dicionários definem a origem da palavra ao termo árabe “muwallad”, etimologia de mulato com o significado para “uma pessoa de ancestralidade misturada”. Muwallad é literalmente “nascido, procriado, produzido, gerado”, com a implicação de ser pertencente ao seio entre os árabes, mas não de sangue árabe puro. Muwallad é derivado da palavra raiz WaLaD (Árabe: transliterado do árabe direto do ولد: waw, lam, dal), onde a pronuncia árabe coloquial pode variar extremamente. Walad refere-se a “descendente, prole, herdeiro; criança; filho; menino; animal novo, jovem.". Muwallad refere-se à prole de homens árabes com estrangeiras, mulheres não-árabes. O termo muwalladin é usado ainda no árabe contemporâneo para descrever crianças de pais árabes e de mães estrangeiras.

Cholo é um termo de uso corrente, como criollos, pelos espanhóis no século 16, e foi aplicado aos indivíduos de ancestralidade ameríndia, ou outra origem proveniente desta origem. Atualmente o uso preciso de Cholo variou extensamente de épocas e lugares diferentes, mas perdeu a conotação negativa. Cholo, é um termo aplicado a pessoas de ascendência indígena com espanhol. A palavra “xolotl” (pronunciado “cholotl”) foi subtraida de uma palavra Asteca com o significado de cão,de onde resultou a connotação negativa para aplicar aos seres humanos.

O uso do termo é gravado primeiramente em um livro publicado em 1609 e em 1616, Comentarios Reales de los Incas por Inca Garcilaso De La Veja, onde escreveu:

“a criança de um macho preto e de uma fêmea índia, ou de um macho índio e de uma fêmea preta, chama-se mulato e mulata. As crianças destes é que se chamam cholo. Cholo é uma palavra das ilhas de Barlavento, que são as ilhas do sul das Pequenas Antilhas, no Caribe; significa cão, não da variedade respeitável mas de origem má reputação; e os espanhóis usaram-no para insulto e o vitupério”

No México Colonial os termos cholo e chacal eram sinônimos para indicar o “mestizo”[3] de união européia (Espanha) com ameríndia ou castizo de ancestralidade ameríndia. Sob a casta imposta pelo sistema de colonial na América, cholo era aplicado originalmente às crianças resultantes da união de um Mestizo e de uma ameríndia. O termo “cholo” tornou-se elemento caracteristico do Peru e evoluiu para caráter honroso dos habitantes do país onde são identificados sem complexo, como “cholos”. Em anos recentes, a migração extensiva aos centros urbanos maiores e a difusão de valores culturais além das cidades em áreas rurais, resultaram para inclusão de números vastos dos povos. "Cholas" e "Cholitas" são mulheres que adotam formas de vestir-se muito semelhante entre si, com vestidos e blusas revestidas de um chalé de uso apropriado, variado e bem colorido. Cholas possuem o cabelo enrolado, uma identidade impar, até apropriando um chapéu coquinho para dar uma aparência singela.

Os Criollos eram aqueles que formavam uma classe social no sistema de castas das colônias estabelecidas pela Espanha no século 16 na América Latina, compreendendo quem tinha ancestralidade espanhola e veio fixar-se na América. Criollo era uma classe abaixo daquela da Península, eram os colonos transportados para a América, considerados acima dos outros povos fixados como ameríndios e escravos africanos. De acordo com o sistema de casta, um criollo poderia legalmente ter algum ancestralidade ameríndia e não perder sua posição social. Nos séculos 18 e inicio do 19, as mudanças políticas espanholas para as colônias criaram tensões entre os criollos e Peninsulares. Os nacionalistas das guerras da independência eram em grande parte criollos.
A palavra criollo e seu correlato português crioulo, derivam do “verbo criar”, significando “produzir” ou nascido fora da origem. O termo foi usado nos estabelecimentos ao longo da costa africana ocidental pelos portugueses, quando do inicio das navegações rumo às Índias. O termo originalmente distinguia os membros de qualquer grupo étnico estrangeiro que eram nascidos localmente daqueles transportados da terra natal, no caso da Península, e que constituíram ancestralidade étnica misturada. Assim, nas colônias Portuguesas de África, crioulo era uma pessoa local transportada na descida pela costa africana. Na América portuguesa, crioulo era uma pessoa originária do preto puro, de ancestralidade africana.
Nas colônias espanholas, criollo era um espanhol de origem que fosse nascido nas colônias, ao contrário do espanhol peninsular também de pais espanhóis, mas nascido na Península, em território de Espanha. Os ingleses adaptaram o termo “creole” tal qual o francês créole, do espanhol criollo ou português crioulo.

No Brasil o termo tornou-se genérico a todos os que predominavam daqueles que tinham ancestralidade africana, que devido a suas raízes étnicas múltiplas e à extensão geográfica do país, não houve uma concentração de descendentes, não constituiu um grupo étnico coeso, único, não havendo uma separação de várias etnias africanas.

O mameluco, o “caboclo”, o caipira e o matuto
"Caipira picando fumo" José Ferraz de Almeida Júnior,óleo sobre tela, 1893.Pinacoteca do Estado de São Paulo

Sem considera-los forçosamente sinonimos vemos outras influências nos referidos termos, para uma manobra de controle para estipular um modelo de segregação e afastamento destes que eram considerados sem muita influencia no sistema desenvolvido, mas usados como parte integerantes para apossamento das terras pela ocupação, modelo praticado à época para determinar a quem pertenceria por esta qualificação, ou simplesmente ocupar para mandar.

Os mamelucos refere-se a palavra árabe para escravos que geralmente serviam a seus amos como pajens ou criados domésticos, e eventualmente eram usados como soldados pelos muçulmanos. Os primeiros mamelucos serviram os califas que os recrutavam em famílias não muçulmanas capturadas em áreas, onde não predominavam a cultura árabe. O uso de não muçulmanos justifica-se sobretudo porque os governantes islâmicos, muitas vezes lidando com conflitos tribais e debatendo-se com as intrigas e para manter o poder, muitas vezes desejavam depender de tropas sem ligação com as estruturas familiares e culturais de poder estabelecidas, motivo meramente político. As vantagens das tropas-escravas, formadas por maelucos, é que eram estrangeiros, estranhos as culturas árabes, possuiam o estrato mais baixo possível na sociedade, não poderiam conspirar contra o governante sem correrem o risco de ser punidos.
O termo caipira é um termo tupi Ka’apir ou Kaa-pira, que significa “cortador de mato”, referência dada pelos índios guaianás do interior do estado de São Paulo, deram aos colonizadores sentido de caboclos ou mamelucos, resultado da mistura de grupos indígenas e brancos. É também uma designação genérica dada, no Brasil, aos habitantes das regiões situadas principalmente no interior que retiram a subsistência da agricultura de sustentação, e às vezes referido como também como matuto, fruto de um processo de elementos que foram aos poucos incorporando em suas vidas o modelo de ser “encaixados” na mata original existentes, que era o habitat nativo e que resultou, para esse novo elemento, também seu espaço, considerado, desde então, como rural.
O termo teve sua origem no Estado de São Paulo, onde o núcleo original do caipira formou-se Região do Alto Tietê, estão entre as primeiras vilas fundadas no interior de São Paulo, durante o Brasil colonial, e de onde partiram algumas das importantes bandeiras no desbravamento do interior brasileiro, passando a Minas Gerais como “capiau”, palavra também significando “cortador de mato”.

O "caboclo" foi formado por um modelo de abandono e marginalização implantada pelos colonizadores para a conquista formando núcleos desamparados na mata e da opressão aos povos indígenas.

Outros termos persistem em descaracterizar um grupo de indivíduos:
1) SUDACA: é uma expressão depreciativa utilizada para referir-se aos sulamericanos muito freqüente na Europa. Usa-se o também termo “Sudaquia” para referir-se a América Sul.
2) JETAS DE LA PAMPA: porcos da planície (pampa=planície em quéchua)
Jeta tem vários significados para qualificar as feições podendo ser focinho de animal, ou no sentido de ser cara de pau

3) NACO é um termo usado freqüentemente na América Central, mais especificamente nas fronteiras do México para descrever alguém sem conduta social, de mau gosto sem uso refinado da expressão verbal e falta de gosto da maneira de vestir, além de mal educado, referindo-se geralmente aos estratos mais baixos e também às pessoas que adquiriram posição social através de um poder recente adquirido pelo dinheiro, os novos ricos. 4) COOLIE era um trabalhador não qualificado vindo do a partir do Extremo Oriente, particularmente China e Índia contratados para subsistência ou de baixos salários, a partir do século 19, usados para carregarem e descarregarem navios. A palavra coolie pode derivar do Hindi qūlī e que significa “o trabalhador do dia”,àquele que se sujeita as jornadas de quaisquer labor. A escravidão tinha sido difundida no império britânico, mas a pressão social e política conduziram libertação pelo Ato de Comercio Escravo de 1807; dentro de algumas décadas, muitas outras nações européias libertaram os escravos. Mas o intensivo trabalho colonial de produção de açúcar e plantações do algodão para abastecer as tecelagens inglesas, ou as minas de carvão para abastecer as siderurgias de produção de aço ou para movimentar as recentes estradas de ferro que estavam sendo exportadas pelo mundo requeria mão de obra alta e barata, a opção foram os coolies. Foram enviados também para a América, para suprir a falta de mão de obra, onde era usado até para recolher “guano” no Peru, fertilizante natural das fezes de aves de alto nível de nitrogênio, e foi exportado a partir do século 19 para a Europa. O comércio desta mão de obra proveniente dos coolies foi um modelo disfarçado de um novo escravismo.

CONSIDERAÇÕES:

Na realidade, quanto as procedências e suas diferenças variadas, mas assimiláveis ao longo do tempo através de uma miscigenaçâo diversificada faz de todos mestiços, pessoas que são descendentes de duas ou mais etnias, espécie humana[4], grupos étnicos variados[5]. Vale à pena considerar e celebrar a nossa etnia e nossa complexa ancestralidade. Uma amalgama fundida em um cadinho efervescente que forma outra estrutura diferente e mista. O poeta Octavio Paz, escreveu que o labirinto do mestizo (mestiço), estava na extremidade, “aquela de todos os homens”.

Gráfico das referências criadas para controle: ESPANHA

CRUZAMENTOS: Referências usadas por Colonizadores na América Espanhola

ESPANHOL+ ÍNDIA=MESTIZA

ESPANHOL+ MESTIZA=CASTIZA

ESPANHOL+NEGRA=MULATO

ESPANHOL+ MULATA=MORISCA

PRETO+ ÍNDIA=CHINA CAMBUJA

CHINA CAMBUJA+ ÍNDIA=WOLF (LOBA)

LOBA+ ÍNDIA=ALBARAZADO

ALBARAZADO + MESTIZA=BARCINO

ÍNDIO + BARCINA=ZAMBAIGA

CASTIZO+ MESTIZA=CHAMIZO

MESTIZO+INDIA=COIOTE

Referências de controle nos cruzamentos: PORTUGAL

Português+Ameríndio=caboclo (mameluco)
Ameríndio+Africano=cafuzo (zambo)
Português+Africano=mulato (mulatto)

Os métodos repressivos dos colonizadores foram bem semelhantes, mesmo quando administrados por conceitos diversos tiveram o mesmo modelo de ação para exercer seus domínios, e requerer valores descabidos, como a invasão de terras[6] que pertenciam anteriormente aos autóctones ameríndios. O poder sempre se assemelhou ao longo do tempo, somente trocou sua roupagem para prevalecer seus interesses, mas o uso da coerção foi sempre de intimidação e desrespeito a alteridade. Manter um povo na penumbra do saber dando-lhe o mínimo de subsistência é um modelo retrogrado de submissão, que fomenta o desespero e a violência, uma nação não tem que possuir medo de seus filhos para prover-lhes condições para que haja respeito mutuo, e se não houver de ambas as partes participação de crescimento, a nação sucumbe e seu povo torna-se submisso a outro povo mais coeso.


BIBLIOGRAFIA

Grande dicionário espanhol – português, português-espanhol.Espasa-Calpe S.A., Madrid. 2001

Lacey, Robert. Aristocrats. Hutchinson, British Broadcasting Corp., 1983.

Izquierdo Labrado, Julio. “La en Huelva y Palos do esclavitud (1570-1587) “ (em espanhol). http://www.mgar.net/var/esclavos3.htm.

Morner, Magnus.La mezcla de razas en la historia de América Latina, Buenos Aires, Paidós, 1969.

Mattos, Hebe. As cores do silêncio, 2ª Edição, Nova Fronteira, 1998.

FREYRE, Gilberto. Casa-Grande & Senzala. Formação da Família Brasileira sob o Regime de Economia Patriarcal. Editora Record, Rio de Janeiro, 1988.

Holanda, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil, 9ª ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 1976.

Prado, Paulo. Retrato do Brasil, org. Carlos Augusto Calil, 8ª ed., São Paulo, Companhia das Letras, 1996.

Schwarcz, Lilia. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil , 1870-1930, São Paulo, Companhia das Letras, 1995.

Paz, Octávio. O labirinto da solidão e Post-scriptum; tradução de Eliane Zagury. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 2ª Edição, 1984.

Brent Kennedy é o autor de "O Melungeons: A ressurreição de um povo orgulhoso”. Artigo na Islâmica Horizons Magazine (November/December 1994) a nd republished here with permission. (Novembro / dezembro de 1994).

Saraiva, Antônio José. Inquisição e Cristãos-novos. 5ª Ed., Lisboa, Editorial Estampa, 1985.

http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2000/populacao/cor_raca_Censo2000.pdf.
"The Race Question", UNESCO AND ITS PROGRAMME, 1950.
http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001282/128291eo.pdf

QUADROS: Las castas. Anonymous, 18th century, oil on canvas, 148x104 cm, Museo Nacional del Virreinato, Tepotzotlán, Mexico e Miguel Cabrera, oil on canvas


ANOTAÇÕES:

[1] Como se tornou prostituta a cidade fiel, cheia de retidão. Outrora habitou nela a justiça, mas agora habitam os homicidas. A tua prata converteu-se em escória; o teu vinho misturou-se com água. Os teus príncipes são infiéis, companheiros de ladrões; todos eles amam as dádivas, andam atrás das recompensas. (Isaías, 1: 20-23)

[2] Cripto-judeus é como foram designados os judeus obrigados a praticarem a sua fé em segredo, ficando nos “subterrâneos” , escondidos para praticarem a fé que professam mas que efeito das perseguições religiosas, publicamente praticam outra religião.

[3] Do latim mixticius, misturado.

[4] A palavra "raça" não deve ser utilizada para dizer que existe diversidade humana. A palavra "raça" não tem base científica. Ela foi usada para exagerar os efeitos das diferenças aparentes, ou seja, físicas. Não se pode basear nas diferenças físicas: a cor da pele, o tamanho, os traços do rosto, para dividir a humanidade de maneira hierárquica, ou seja, considerando que existem homens superiores em relação a outros homens, que seriam postos em uma classe inferior. Eu te proponho não mais utilizar a palavra "raça”. (Le racisme expliqué à ma fille, Tahar Ben Jelloun)

[5] A palavra "etnia" é derivada do grego ethnos, significando "povo". Esse termo foi utilizado para se referir a povos não-gregos, então também tinha conotação de "estrangeiro", que foi usado para diferenciar os de fora, os gentios.
Etnia compreende os fatores culturais, nacionalidade, a afiliacão tribal, religião, língua e tradições, enquanto raça compreende apenas os fatores morfológicos, como cor de pele, constituição física, estatura e traço facial.
Recorrer ao termo raça(antigo conceito antropológico) para os humanos sempre esteve ligado a questões políticas, com utilização dominadora e de estratificação social.
No conceito biológico de espécie hoje em dia o taxon* mais aceito é o de Dobzhnzsky e Mayr e tem-se que: "Espécies são grupos de populações naturais que estão ou têm o potencial de estar se intercruzando, e que estão reprodutivamente isolados de outros grupos".(*taxonomia; tassein/classificar+nomos/ciência)

[6] Ai de vós os que ajuntais casa com casa e ides acrescentando campo a campo, até chegar ao fim de todo o terreno! Porventura haveis de habitar sós no meio da terra? (Isaías, 5:8)

sábado, 13 de março de 2010

OS TERRATENENTES DO BRASIL (17): A ELITE MACUNAÍMA

Alteridade das Culturas

"Nós, brasileiros, somos um povo em ser, impedido de sê-lo. Um povo mestiço na carne e no espírito, já que aqui a mestiçagem jamais foi crime ou pecado. Nela fomos feitos e ainda continuamos nos fazendo". (Darcy Ribeiro)

Andei a procurar onde estava esse “fio da meada”, esse “histos” de encontro das urdiduras que partem de um ponto se entrelaça nos caminhos e se afastam e depois se encontram novamente para formar o tecido, um pano de fundo e deparei-me com um texto medieval, “Amadis de Gaula”, que causa boa polêmica entre quem o havia escrito, talvez perto de 1508, no limiar do Achamento Novo Mundo, mas o que realmente nos importa é saber sobre o conteúdo e do contexto daquele momento e de uma das mais importantes novelas de cavalaria escritas na Península Ibérica, evidentemente não excluindo a importante obra de Dom Quixote. Pegamos um trecho da tradução de Graça Videira Lopes, a partir do original castelhano de Garcí Rodríguez de Montalvo, para dar idéia do momento histórico transplantado:

“Saindo um dia de uma vila sua que Alima se chamava, e andando desviado das armadas e dos caçadores rezando as suas horas pela floresta, viu à sua esquerda uma brava batalha de um só cavaleiro que com dois combatia; conheceu ele os dois cavaleiros que seus vassalos eram, os quais, por serem mui soberbos e de más maneiras, e mui aparentados (muito bem aparentados,com muitos e poderosos parentes), muitos nojos (ofensas) deles havia recebido. Mas o que com eles combatia não pôde conhecer, e não se fiando que a valentia de um lhe pudesse tirar o medo dos dois, ou seja, afastando-se deles, olhava a batalha, no fim da qual, pela mão daquele, os dois foram vencidos e mortos. Isto feito, o cavaleiro veio de encontro ao Rei, e como o visse sozinho, disse-lhe:
– Bom homem, que terra é esta que assim são os cavaleiros andantes assaltados?

O Rei disse-lhe:

– Não vos maravilheis disso, cavaleiro, que assim como nas outras terras há bons cavaleiros e maus, assim os há nesta; e estes que dizeis não somente a muitos hão feito grandes males e desaguisados[1], mas ainda mesmo ao rei seu senhor, sem que deles justiça pudesse fazer: por serem muito aparentados fizeram grandes agravos e também por se acolherem nesta tão espessa montanha.”

É este medievo parte da Península Ibérica que chega a América, para combater ao “outro”, o nativo que é considerado agora “invasor das terras do rei”, e pouco importa se aqui estivesse anteriormente, e sim que estas terras tem, desde o Achamento, novo dono, e os antigos habitantes devem responder as leis ditadas de longe, daquelas terras vilipendiadas um dia pelas forças mouras, que ousaram invadir a Al-ANDALUS, a árabe Península Ibérica que perdurou de 711 a 1492, até novo édito para se adaptarem ou sair da Península, coincidentemente ano da descoberta do Novo Mundo...

Rechaçar todo tipo de resistência já estava impregnado no consciente coletivo e viajou com os ibéricos europeus rumo ao Novo Mundo. Os conquistadores da América tiveram na história da reconquista, algum representante da família que participou intensamente no combate aos árabes, transmitindo dentro de cada vila, de cada aldeia, dentro da cidade, a repulsa em aceitar a submissão e a negação do outro, um corpo do estranho. Esta conduta foi transplantada para a América reproduzindo o paradigma aprendido dos tempos memoráveis dos cavaleiros medievais da Península Ibérica: destruir antes de saber as intenções e pretensões do outro, não se arriscando a aproximar-se para somar culturas, mas destruí-las sem saber seu real significado, e matando qualquer liderança ou resistência existente e destruindo qualquer foco que pudesse criar dificuldades ao novo regime instituído na América, o modelo europeu. Assim o vencedor embandeirado pelo padrão da identidade do cristianismo, e aqui vale tanto o “katalon” (católico) universal quanto ao protestantismo dos Países Baixos, em não aceitar outro culto de quem quer que fosse, pois combateram em solo europeu tanto o guerreiro árabe, quanto sua crença. Talvez estejamos próximos de compreender porque os povos submissos esconderam suas crenças nas várias formas de representação do cristianismo, para introduzir o seu modelo, cabendo tanto aos autóctones quanto aos vários povos de varias regiões da África submetidos à escravidão.

O europeu, em face de uma realidade diferente não aceitaria outro domínio de outro modelo cultural e do referencial conhecido para expressar outra alteridade, a qualidade do outro. A assimilação negativa pela via da associação com o “outro” já conhecido na Península, submetida pelo poder islâmico. A idéia estava impregnada nos de Espanha e Portugal e não deixariam fortalecer qualquer grupo homogêneo que por ventura se sublevasse e se alastrasse como modelo de resistência por parte dos nativos. Foi instituído como fator predominante nas duas coroas da Península e ambas usaram esse modelo de não reconhecimento do outro, exterminando a raiz combatente.

Portugal usou a obra de catequização pelos padres jesuítas que associava qualquer rito indígena à obra do demônio em alusão àqueles que eram assim referidos na conquista, “mouros”. Os combates contra os tupis do litoral no século XVI assumiram sempre o ideal a ser mantido por longo tempo, chamadas “guerra justa”, nítida semelhança ao que foi considerada como tal em solo europeu da península contra os mouros, uma continuação as Guerras Santas medievais, com um derramamento de sangue sem precedentes, verdadeiro extermínio, o primeiro holocausto da bestialidade humana contra os nativos indefesos, que morriam com o “cordeiro imolado” da bandeira que defendiam.

Faziam também alusão ao termo “mameluco” para dar referência ao cruzamento das raças de europeus e índias, dando origem aos primeiros mestiços, provindo de “mamaluco” grafia do século XVI, conforme coloca Ronaldo Vainfas:
“Mameluco é palavra de origem árabe, mamluk, que significa ‘escravo, pajem, criado’... A palavra vulgarizou-se em Portugal possivelmente na Idade Média, derivando do termo árabe denotativo da facção de escravos turcos que, engrossando as fileiras do exército muçulmano no Egito, acabaria por fundar uma dinastia afamada por sua tirania na região. Nossos mamelucos coloniais (para não falar nos mestiços reinóis) herdaram, pois, no próprio nome, a fama de violência dos guerreiros turco-egípcios” [2].

Mesmo com todo esse controle as trocas de valores culturais entre as populações afro-muçulmanas e luso-espanholas permaneceram enraizadas ao longo do tempo e não se apagaram, mesmo que houvesse uma política de evitar sua propagação que chegaram ao Novo Mundo pelo convívio das formas culturais ibéricas, infiltrando hábitos e costumes que foram transportados para o Brasil.

Os homens-bons da comunidade, aqueles que detinham de certa forma o poder centralizado representava a elite colonial e se diferenciavam dos “homens comuns” que estavam entre aqueles que viviam no limiar do mínimo necessário para subsistência, estes eram os índios, negros e mestiços, sendo estes últimos, a verdadeira expansão, disseminado uma nova corrente de pessoas que não faziam parte do grupo dos europeus, nem se agrupavam nas aldeias e por vezes rejeitado até em senzalas, resumindo: não era branco europeu, não era indígena sendo até rejeitado pelos originais africanos.

Do outro lado tínhamos o poder instituído pertencente à nobreza lusa na condição de fidalgos cavaleiros ou fidalgos escudeiros, representante das ordens de cavalaria, a de Avis, de Calatrava e a mais importante que era a Ordem de Cristo. O grito de guerra da Reconquista Ibérica era: “A eles, com Santiago!” nítida alusão a Santiago de Compostela, baluarte dos estandartes e ícone da luta contra os mouros, uma devoção ao Apóstolo das Espanhas. Transportou-se da Península Ibérica toda a gana de rejeição identificando-se estes exploradores da conquista da América como os heróis cristãos medievais, projetando nos nativos da América seu inimigo tradicional, os mouros[3].

Bibliografia:

VAINFAS, Ronaldo, A heresia dos índios: catolicismo e rebeldia no Brasil colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, pp. 141-142.

WECKMANN, Luis, La herencia medieval del Brasil. México: Fondo de Cultura Económica, 1993, p.124, 129.

Notas:

[1] Àquele que procura constantemente os conflitos, rixas, sempre em contendas.

[2] Mudéjar ou mudéjares são os muçulmanos espanhóis que permaneceram morando em território conquistado pelos cristãos, sob seu controle político, durante o processo de avanço dos reinos cristãos para o sul da Península Ibérica, que se processou ao final da Idade Média. O Mudéjar vai continuar na América, como as mesmas tradições medievais mais adaptadas ao novo continente, nos dois vice-reinados de Nova Espanha e Peru, os projetos urbanísticos e arquitetônicos serão a melhor imagem do novo poder espanhol sobre os distintos grupos indígenas. (TAWKIF; CARABAZA; CANO; GALÁN; GUZMÁN, 1999, p. 257-280).

[3] “O conceito de mourisco por nós adotado para o caso português difere muito do conceito utilizado pelos historiadores dedicados aos mouriscos espanhóis. Se para eles, os mouriscos eram os descendentes de mudéjares nascidos na Península Ibérica, em nosso caso entendemos que o termo mourisco abrangia muçulmanos de origem diversa, batizados no cristianismo, inclusive os nascidos em Portugal. Na prática, como veremos, a maioria era mesmo estrangeira, sobretudo do Norte da África, ao contrário dos mouriscos espanhóis, entre os quais predominavam os nascidos na Península”. In “Ser Mourisco Em Portugal Durante O Século XVI” Rogério de Oliveira Ribas - UFF

segunda-feira, 8 de março de 2010

OS TERRATENENTES DO BRASIL (16): As Origens dos Herdeiros do Poder no Brasil

MORGADIOS DAS FEITORIAS

Não há pretensão alguma em demonstrar uma continuação de genealogia, pois para isso existem especialistas históricos neste campo tão vasto. O interesse maior é demonstrar mais um ensaio nesta crônica, buscando o entendimento do grande legado e trunfo da coroa portuguesa que era distribuir grande quantidade de terras e que foi usado como barganha de poder, criando um modelo perpetuado, e, como tudo isso se processou ao longo do tempo.

O grau de Rico-Homem[1] era ofertado a quem recebia qualquer titulo proveniente das graças da nobreza, representando o estrato social da monarquia, idéia de autoridade proveniente de determinado por cargo público, recebendo remuneração da coroa, por vezes independente de fidalguia, embora pudesse fazer parte de nobre de linhagem. No plano governativo pertencia-lhes lugar de destaque na Cúria ordinária, mais tarde conselho Real. Do ponto de vista administrativo, tinham a seu cargo as “terras”, designação dada às circunscrições em que então se dividia o reino para efeitos de administração. O principal encargo que lhe adivinha da função de total administrador pelas regalias de oferta das terras, consistia na obrigação de se apresentar ao rei, em campanha, com determinado número de lanças, homens prontos para defesa. Nos seus próprios domínios, o rico-homem exercia jurisdição completa e gozava de total imunidade perante o fisco. Tinha o direito ao título de Dom (dominus) e gozava de inúmeros privilégios comuns, de um modo geral, a toda a nobreza.

Os qualificados com 72 brasões das 72 famílias principais da alta nobreza de Portugal do século16, foram pintados no teto da Sala dos Brasões do Paço Real de Sintra por ordem de Dom Manuel 1º, 14º Rei de Portugal, denominado o Venturoso, à época do achamento das terras da América, reinando de 1495 a 1521, que escolheu esses seletos brasões quando mandou reorganizar e qualificar a nobreza portuguesa tendo como objetivo escolher as famílias mais ilustres do Reino[2], em honra, história e bens.
Neste Palácio Nacional constituído pela Sala de Sintra ficam localizados os 72 brasões das famílias principais da alta nobreza de Portugal. No centro do teto da sala há a representação das armas de Dom Manuel, circundadas por seis brasões representando os príncipes e outros dois brasões representando as princesas. Logo abaixo da realeza estão os setenta e dois brasões da mais notável nobreza da época, dispostos em ordem de importância.

A Realeza era formada pelas Armas do Rei Dom Manuel; Infantes: Dom Yoam; Dom Luis; Dom Fernando; Dom Afonso; Dom Enrique; Dom Duarte e seguida das Princesas: Dona Isabel E Dona Beatriz, ladeado pela nobreza que se dispôs em volta da realeza: Aboim; Abreu; Aguiar; Albergaria; Albuquerque; Almada; Almeida; Andrade; Arca; Ataíde; Azevedo; Barreto; Bethancourt; Borges; Brito; Cabral; Castro; Castro da Penha Verde; Carvalho; Castelo-Branco; Cerveira; Coelho; Corte-Real; Costa; Coutinho; Cunha; Eça; Faria; Febos Monis; Ferreira; Gama; Góios; Góis; Gouveia; Henriques; Lemos; Lima; Lobato; Lobo; Malafaia; Mascarenhas; Manuel; Meira; Melo; Mendonça; Meneses; Miranda; Mota; Moura; Nogueira; Noronha; Pacheco; Pereira; Pessanha(ç); Pestana; Pimentel; Pinto; Queiróz; Ribeiro; Sá; Sampaio; Sequeira; Serpa; Silva; SotoMaior; Sousa; Tavares; Távora; Teixeira; Valente; Vasconcelos; Vieira.
Desta linhagem foram formadas as fileiras de capitães hereditários e governadores do Brasil de 1549 a 1808, finalizando com um governo representado pelo próprio rei Dom João VI com a vinda para o Brasil, que governou todo o reino até 1821, ano de seu regresso para Portugal, cercado por uma gama de condes, duques, barões que usufruíram do poder.

O antropólogo Thales Olympio Góes de Azevedo estima que houvesse em Portugal no tempo da colonização do Brasil aproximadamente um milhão e duzentas mil pessoas, do que foi reduto de populações de visigodos, sendo que destes mais ou menos 20% eram judeus ou convertidos ao cristianismo com a denominação de cristão novos, vindos das terras de Castela quando de sua expulsão em 1492, coincidentemente ano do Achamento do Novo Mundo por Castela.
Esta elite ligada à coroa, no século 16 era relativamente pequena com o rei circundado por uma seleta casta de infantes com alguns duques condes e barões, e uma fidalguia que estava próxima ao Paço formada por cavaleiros das diversas ordens, que formaram o escudo protetor do rei na cruzada empreitada no enfrentamento com os árabes na Península. Alguns poucos letrados, coisa rara de então, outros poucos bacharéis que serviam ao judiciário e uma máquina administrativa de ligados ao reino por afinidades diversas e formavam o funcionalismo. Nisto tudo estavam empresas comerciais dominadas por poucos que controlavam o mercado interno e um comércio exterior. Pode-se pensar que em 1530 quando da primeira expedição exploradora enviada ao Brasil com caráter militar pelo capitão Martim Afonso de Sousa, a metrópole dispunha de aproximadamente dez mil indivíduos que compunha a classe dominante. Havia nisto uma linhagem secundária que era composta de cavaleiros que não pertenciam à genealogia, mas que por algum motivo fidedigno eram assistidos pela coroa, mas que não possuía posses nem terras, uma característica antiga romana para garantias da cidadania e que formava a estirpe do “morgadio”, que iram dominar as colônias americanas de dominação de um grupo das fimbrias secundárias da coroa portuguesa. A família dos Sousas vindo por genealogia de Afonso III com Dona Inês de Valadares originando os de parte dos Chichorro em cruzamento de armas antigas do reino com as dos Sousa de Martim Afonso de Sousa, neto de Dom Pedro de Sousa, (1490-1564) Senhor do Prado e Alcoentre, por sua vez com relações de laços aos Sousa do Prado. Forma-se deste modo as “alcadarias mores”, que já no primeiro governo de Tomé de Sousa será concedida aos de Antonio Oliveira Carvalhal, que unida por laços familiares dos comendadores de Portugal da família Seixo, passara cargo aos Moniz Barreto. Na outra capitania criada de Pernambuco, vê-se em Olinda os Lucenas apossarem-se de sua administração, que caberá depois assumirem o poder os Acciolis de Moura. Já os de Cristóvão Lins ou Cristhovan Lintz[3], alemão que vivia em Portugal, casado com Adriana de Hollanda, filha do holandês Amault de Hollanda e da portuguesa Brites Mendes de Vasconcellos Hollanda e assumiram as terras que ganharam da Coroa, freguesia criada em1575 e antes denominada Nossa Senhora da Apresentação, compreendendo o Cabo de Santo Agostinho até o vale do rio Manguaba. Fixaram-se exatamente as margens desse rio, onde fundou a povoação de Porto Calvo e os três primeiros engenhos: Escurial, Maranhão e Buenos Aires. O segundo colonizador foi o português Antonio de Barros Pimentel, casado com Maria de Hollanda Barros Pimentel, irmã da mulher de Cristovão Lins, sendo um dos primeiros lugares habitado por colonos portugueses, trazidos a Pernambuco pelos donatários da antiga capitania para posse das terras litorâneas que ligavam Alagoas a Pernambuco e era chamada de Santo Antônio dos Quatro Rios. Próximo a estes as terras estavam as que pertenciam ao português Diogo Soares, enquanto as de São Miguel dos Campos pertenciam a Antônio de Moura Castro e as de Penedo, eram de Dom Felipe de Moura. Os novos proprietários fizeram a derrubada das matas [4] para plantar cana de açúcar [5] e instalando os “engenhos bangüês”[6] que sustentaram a economia do nordeste durante quatro séculos, até serem substituídos pelas usinas. O donatário da Capitania de Pernambuco Duarte Coelho Pereira ao receber a doação das terras, partiu para o Brasil com a família e parentes construindo seu próprio engenho, fortificando-o sendo o embrião da cidade de Olinda e em 1553 introduziu as mudas de cana de açúcar crioula [7], vindas da Ilha da Madeira, que durante três séculos, foi a variedade dominante cultivada em Pernambuco. Em 1557 faleceu o donatário da Capitania de Pernambuco sucedendo-lhe seu filho Duarte Coelho de Albuquerque, que por estar estudando em Lisboa deixou o governo de sua feitoria entregue à sua mãe D. Brites de Albuquerque, irmã de Jerônimo de Albuquerque, e de Isabel de Albuquerque casada com Dom Felipe de Moura.
Jerônimo de Albuquerque, cujo irmão era Matias de Albuquerque, conde de Alegrete, assumiu o cargo de Governador-Geral dos Estados do Brasil para combater os holandeses e que também assumiu as terras de sua irmã Brites de Albuquerque, falecida em 1575. Outro fatídico acontecimento de família sucedeu com o representante direto da família, Duarte Coelho de Albuquerque que tombou na fatídica batalha de Alcacerquibir, onde também faleceu o rei Dom Sebastião, sendo então sucedido pelo irmão Jorge de Albuquerque ao tempo da dominação espanhola.

Alguns representantes italianos tiveram presença no Brasil como o caso de Filippo di Giovanni Cavalcanti [8], de 1560 até próximo a 1614. Primeiro vamos ver o que dele conta Scipione Ammirato, na sua Istoria della Famiglia de’ Cavalcanti:
Filippo di Giovanni Cavalcanti, irmão de Guido e de Schiatta, foi grandíssimo homem, que por volta do ano de 1550 partiu de Florença e andou no reino de Portugal, em Lisboa, e de lá passou ao reino do Brasil, distante de Portugal três mil milhas pelo mar, e chegou à cidade de Pernambuco, à Vila de Olinda no dito reino, no qual se fazem grandíssimas quantidades de açúcar, e se tornou rico. Aparentou-se (casou-se) com a senhora D. Catarina, filha do senhor Jerônimo de Albuquerque, nobilíssimo senhor, de família nobre do reino de Portugal e Brasil, da qual recebeu alguns engenhos de refinar açúcar, e com seu engenho e modo tornou-se riquíssimo, e naquele país, grandíssimo homem, que adquiriu (boas) graças com aquele povo, e governou com seu engenho, porque tinha grande cabeça, todo aquele estado com grandíssima satisfação geral daqueles povos, que o estimavam. Jerônimo teve como filhos, João, Lourenço e Filipe, que viveram naquele reino honradamente, e não tiveram sucessão todos porque naquele reino tinha que o filho “maior”, o primogênito, era o verdadeiro herdeiro, e lhes toma todos os bens do pai como morgado, e é obrigado a apoiar os outros irmãos. Isto demonstra todo o poder adquirido por esta família que se estabeleceu primeiramente em Pernambuco e depois passando controle em 1580, para Simão Rodrigues Cardoso; em 1592, a Pedro Homem de Castro; em 1593, a Dom Felipe de Moura. Foi uma das mais prósperas tendo no fim do século 16 [9] seu maior apogeu. Em 1596, Manoel Mascarenhas, homem no poder sucessório, por investidura do donatário da respectiva capitania, representou a direção da mesma.

Desta maneira vão se alastrando uma infinidade de nomes pelo litoral e sertão nordestino sem fim que assumem certas posições de poder como em Alagoas têm-se os Peixoto, origem a Floriano, o primeiro presidente da república do Brasil, aparentado com os Acciolis de Vasconcelos e era ascendida pela fidalguia de Portugal como os Pena, com outro presidente Epitácio Pessoa, sobrinho do Barão de Lucena, Henrique Pereira (de Lucena) político e magistrado de Pernambuco no século 19. Muitas outras ramificações de um tronco originário de herdeiros de Bandeira de Melo e os proprietários de engenho, os Azevedos de Pernambuco.
Os Meneses tendo raízes nas estruturas visigóticas aparecem em Portugal no século 13 com alianças com os Albuzares de Maia. A burguesia de Álvaro Pais, João das Regras que levou ao poder a dinastia do mestre Aviz, são instituído cargos militares que no século do Achamento do Brasil tornam-se cargos honoríficos da corte de Portugal, privativos da nobreza aparecem os Nun’Álvares, condestável e mordomo-mor, Álvaro Pereira, Marechal da Hoste, Gil Vasques da Cunha, alferes mor, João Fernandes Pacheco, guarda-mor, Rui Mendes de Vasconcelos, meirinho mor, Afonso Furtado, capitão do mar. Além destes após a Península Ibérica reconquistar seu poder junto aos árabes ter-se-á os Melos transformados em marqueses.
Provinha dos Jerônimo Moniz Barreto, casado com Mécia Lobo de Mendonça, filha Mécia Lobo e de Francisco Bicudo, espingardeiro de Tomé de Sousa. Nesta linhagem temos Duarte Moniz Barreto, alcaide-mor na Bahia, casado com Helena de Mello, filha de Antonio de Oliveira Carvalhal, primeiro alcaide-mor de Vila Velha, Espírito Santo, em 1549, e como mãe Luiza de Mello e Vasconcellos.

Os Acciaioli, que no Brasil passou a Accioli ou Accioly, eram oriundos da cidade italiana de Brescia, forjadores e comerciantes do aço bergamasco. Há de se dizer que Zenobio Acciaioli(falecido em 1598) fora casado com Maria de Vasconcellos, tri neta de João Gonsalves Zarco[10], que descobriu a Ilha da Madeira.
Aqui cabe uma referência a ancestralidade de Salvador Gonsalves Zarco[11]:

Em 1492, o português Salvador Gonsalves Zarco, sobre o nome de Cristóbal Colón, primo e cunhado de D. João II de Portugal, foi de acordo com este, mas por conta dos Reis Católicos, em busca das Índias do Ocidente. ...

“Com as árvores de costado de nobreza de Portugal, editado em Nápoles, de autoria do prior Dom Tivisco de Nasao Zarco y Colona. Preste atenção à ligação dos dois apelidos, - Zarco e Colona. ...O livro impresso em Lisboa e não em Nápoles, deve ter saído à luz, aí por 1692, isto é, MDCXCII....Não é possível acompanhar o autor da revelação através de todas as suas pesquisas e conclusões. Mas o fato é que a leitura do frontispício, anagramas perfeito do texto hebraico primitivo, dá isto:

Salvador Gonsalves Zarco pelo prior D. Tivisco de Nasao Zarco y Colona- em Nápoles - por Novelo de Bonis- MDCXCII. Este ímpio, tendo sido colocado em Governador na ilha de Chios, maltratou e defraudou o seu Príncipe; e saiu vestido como jornaleiro do arrabalde e fingindo-se mudo; e correu mundo, mas, envergonhado e arrependido, emendou-se e voltou para o seu país natal, e tomou o nome de Cristóbal Colón.
Salvador Gonsalves Zarco ou Cristóbal Colón participou da tradução em português do Livro de Marco Polo e colaborou no Esmeraldo de Situ Orbis de Duarte Pacheco Pereira.
Quem era esse misterioso Colombo ou Zarco, “o maior dos navegadores portugueses de todos os tempos, último rebento de Henrique?” Era nada mais, nada menos do que um infante bastardo de Portugal, da ínclita geração de Aviz. ...
Cristóbal Colón- Salvador Gonsalves Zarco- era fruto de amores clandestinos, ardentes e sinceros do infante D. Fernando, filho de D. João I, com uma das netas de João Gonsalves Zarco-“ou de seu irmão, fidalgo cavaleiro da casa do infante D. Henrique, o qual desde muito seguia a carreira marítima, exercendo o comando das caravelas que guardavam a Costa do Algarves. Colón-Salvador nasceu em Gênova, para onde fora mandada sua mãe, em 1456....

Só muito mais tarde conseguiu (d. Fernando) esquecer seu primeiro amor e, então, casou-se com sua prima, a infanta D. Beatriz, filha do infante D.João. Largamente proveu sempre à criação e educação de seu filho natural Salvador Gonsalves Zarco “a quem foi ministrada uma instrução verdadeiramente principesca”. ...

D. Fernando faleceu em 1470. Cessou a remessa de fundos para o filho distante. O tecelão de Gênova recambiou o rapaz para a Ilha da Madeira.
Os Zarco parece estar presente na história da América, de Colombo e com a Ilha da Madeira, onde aparece João Gonsalves Zarco. (ou Gonçalves, também grafado com ç)

Os Drummond possui um curioso trajeto dinástico oriundo de família húngara dos Árpád, descedência direta de Átila. Mais provável uma proximidade com os celtas escoceses, onde o nome gaélico druim refere-se as “costas” surgindo druyman como alguém de “montes ondulados ou altas”. Os primeiros a usar o nome através de uma heráldica foram os Mauritz. Remontando um clã longo chegamos a sir John Drummond que lutou na França em 1418, com Joana d’Arc contra os ingleses e por fim passou a Espanha e depois para Portugal sendo sesmeiro na Ilha da Madeira entre 1460 a 1470. Disto surgiu nova estrutura resultando no Rio de Janeiro através dos Fonseca Drummond, Mendonça Drummond, entre eles uma linhagem entre Menezes e Vasconcelos, estes de origem basca, vascones, como eram conhecidos pelos romanos, formada de conde e marqueses de Castelo Melhor, e Pimentel.

Há referências em Portugal através de Lorenzo D’Ória em fins do século 15, filho de Pietro D’Ória e de Brígida Spinola, tendo um irmão Lazzaro Volpe D’Ória. No Brasil temos referencia a Carlo D’Oria, casado com Lucrezia Affaitati, filha do banqueiro de Milão, radicado em Portugal Gianfranco Affaitati, cujos netos Giraldes, foram donatários da capitania de Ilhéus no século 16.
Andrea D’Oria, de Genova (1466-1560) foi aclamado “Patrice liberator” um condottiero Virtual Senhor em 1528 que controlava uma milícia, sobre a qual possuia comando ilimitado, e estabelecia contratos com qualquer Estado do que era o retalho das repúblicas italianas, interessado em seus serviços. Deste modo serviu a Francisco I da França, na batalha de Pavia e depois apoiou Carlos V, Regente de Espanha, inimigo de Francisco I, seu antigo aliado em guerra entre ambos. Depois de serem expulsos de Milão, Parma e Piacenza os franceses foram derrotados em Bicocca, em 27 de Abril de 1522, e mantiveram-se unicamente na cidadela de Milão. Em Maio tiveram de evacuar Genova, a sua principal base naval.
Aleramo D’Ória, ou também aceita a referência da grafia Doria, banqueiro genovês, teve de D. João III a disposição de 80 mil reis de juros perpétuos sobre a alfândega de Lisboa. Está dito que Aleramo Doria, genovês, financiou a câmbio a exploração das Índias e da África incluindo o Brasil.
Na Ilha da Madeira em1480, aparece Lodisio D’Oria, possuidor de engenho de açúcar, e que pode estar ligado ao financiamento da esquadra de Colombo em 1492 com o montante de 500 mil maravedis. No Brasil aparecem referências de Giacomo Doria, ou Jacome Doruje, em São Vicente já em 1540, São Paulo, podendo ter sido incorporado à armada de Estácio de Sá deslocando-se para o Rio De Janeiro, em 1565, e Clemência Doria que chegou com Duarte da Costa, em 1553, na Bahia, casando com Sebastião Ferreira, procurador da Câmara que naufragou junto a dom Pero Fernandes Sardinha, vindo a senhora Clemência, esposa de Sebastião, realizado novas núpcias com Fernão Vaz da Costa, em 1561, havendo ele exercido a função de contador geral pela Coroa portuguesa.

Os Dorias da região do nordeste parecem provenientes dos Belchior da Fonseca que origina os da família Fonseca Dórias. Outros são destacados por parte dos Vaz da Costa e Clemência Doria, senhores de engenho em Itaparica, destacando-se Antonio de Sá Doria, onde o irmão Francisco Vaz da Costa adquiriu a Ilha Dos Frades, em Salvador, em 1643, devotando a Capela a Nossa Senhora de Loreto. Dos Doria parece vir parte da varonia dos Rabelos, dos Vaz da Costa, da Bahia, senhores do engenho Barbado, em São Sebastião de Passé, no século 18, região anteriormente ocupada pela tribo Aruaque dos Passes, na Bahia.
Cristóvão da Costa Doria foi batizado na Sé de Salvador em 17 de julho de 1560, e era o segundo filho de Clemenza Doria e de Fernão Vaz da Costa. Casou-se com Maria de Meneses, filha de Jerônimo Moniz Barreto de Meneses e de sua primeira mulher, Mécia Lobo de Mendonça. Aparece Outro Cristovão, mas com sobrenome Doria que seria natural de Faro, do Algarves e participou das incursões de Fernão de Loronha, ou Noronha, quando das explorações do pau Brasil pela costa brasileira.

Uma serie de Costas há na genealogia portuguesa, fazendo parte de armeiros de Portugal, que sem dúvida prestaram serviços a coroa. Com destaque no Brasil cita-se Fernão, ou Fernam Vaz da Costa, irmão de Maria da Costa, casada com Tomé de Sousa, Governador do Brasil de 1549 a 1553, sendo integrado como comandante de uma das naus da frota que fazia parte da esquadra de seu cunhado. Desposou em 1557 Clemenza D’Oria, de origem genovesa, aportuguesada para Clemência, filha de Aleramo D’Oria, banqueiro genovês a serviço de D. João III, e neta de Francesco D’Oria e de Gironima Centurione, originando os Costa Dória, os Vaz da Costa e os Sá Dória. Era primo de Duarte da Costa, segundo governador do Brasil.

Martim Afonso de Sousa foi o quinto com o nome iniciado por Chichorro, filho de Mourana Gil, de origem árabe, filha de castelões de Faro. Foi Senhor do Prado e serviu a Casa de Bragança como seu alcaide mor, nomeado em 28 de setembro de 1532 como comandante que veio ao Brasil em reconhecimento interessado na Foz do Rio da Prata, de onde saia as riquezas de Espanha. Casou-se com Ana Pimentel, dama da rainha dona Catarina e filha de Arias Maldonado e Joana Pimentel, tornando-se donatário da capitania de São Vicente. Seu irmão, Pero Lopes de Sousa, fora casado com Isabel de Gamboa, filha de Tomé Lopes de Andrade, feitor do rei dom João III em Flandres, Países Baixos, com dona Mécia de Gambos. Também havia recebido mercês com a capitania em de Santana possuía 40 léguas. Começava, a grosso modo, na divisa litorânea dos atuais Estados de São Paulo e Paraná estendido até Laguna em Santa Catarina. A Capitania Santo Amaro [12] também lhe pertencia e ia da foz do rio Juqueriquerê, em Caraguatatuba até Bertioga, de norte a sul da costa paulista, mas sem recursos naturais de importância e sem ligações com o Planalto, não se desenvolvia. As únicas ações visando a ocupar o território são a construção dos Fortes de São João e São Filipe, destinados a proteção do Porto de Santos, uma beneficiadora de óleo de baleia no extremo norte da ilha, na desembocadura do canal de Bertioga.
Pero Lopes de Sousa era também proprietário de outra capitania, a de Itamaracá que iam desde a foz do rio Santa Cruz, atualmente o Rio Igarassu, em Pernambuco, até próximo ao Rio Paraíba que se chamava São Domingos. A administração da capitania coube a Francisco Braga, que rivalizava com Duarte Coelho e levou a capitania à falência. Em seu lugar, João Gonçalves desenvolveu engenhos e fundou a Vila Conceição.
Assim entre feitorias, sesmarias e capitanias o Brasil foi sendo retalhado e entregue àqueles que de algum modo fazia prestação de serviços a coroa portuguesa, esta mesmo nem ao certo sabia o quanto existia de posses a serem desmembradas.

Segue as Capitanias Hereditárias e seus respectivos donatários: São Vicente (Martim Afonso de Sousa), Santana, Santo Amaro e Itamaracá (Pêro Lopes de Sousa); Paraíba do Sul (Pêro Gois da Silveira), Espírito Santo (Vasco Fernandes Coutinho), Porto Seguro (Pêro de Campos Tourinho), Ilhéus (Jorge Figueiredo Correia), Bahia (Francisco Pereira Coutinho). Pernambuco (Duarte Coelho), Ceará (António Cardoso de Barros), Baía da Traição até o Amazonas (João de Barros, Aires da,Cunha e Fernando Álvares de Andrade).

O sistema das Capitanias Hereditárias deixou marcas profundas na divisão de terra do Brasil onde a distribuição gerou os latifúndios da atualidade com grandes proprietários que possuem propriedades rurais imensas[13].

Desenhado por Luiz Teixeira, em 1574. Hoje na Biblioteca da Ajuda, em Portugal. Note o erro proposital, para Oeste, da linha de Tordesilhas.

Atos de posse eram lavrados pelo escrivão de alguma comarca com presença representativa da igreja como ato de verdade e fé de posse. Vemos então documento abaixo lavrado aos Bueno do Prado, tendo como matriarca Leonor Bueno da Silva, nascida em Minas Gerais, talvez ainda terras paulistas no final do século XVII. Casou-se com o Capitão-Mor Domingos Rodrigues do Prado com quem teve como filho o governador-comandante Bartolomeu Bueno do Prado, Capitão-Mor Ajudante das Minas do Jacuí, o primeiro a receber o sobrenome Bueno do Prado. Como havia combatido vários quilombos ganhou como prêmio o sertão do Campo Grande, conforme o termo de posse descrito a seguir:
"Ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil setecentos e cinquenta e nove anos, em primeiro de novembro do dito ano, no Quilombo do Careca, aonde eu Escrivão adiante nomeado vim com o Reverendo Padre João Corrêa de Melo, Capelão da Expedição dos Quilombos e Vigário da vara das conquistas e sertão do Campo Grande, e Rio Grande abaixo, e desde o de Aguapé até a Barra do Sapucaí, e sendo aí diante das testemunhas adiante assinadas, tomou o Reverendo Vigário da vara posse judicial e atual por comissão e ordem do Exmo. e Revdo. Sr. Bispo de Mariana de todas aquelas conquistas e terras vertentes a elas; e suas adjacentes por pertencerem ao mesmo Bispado, e logo nos mais dias fez o dito Reverendo Vigário atos paroquiais em virtude das ordens do dito Senhor Bispo, que para tudo trazia, dizendo missas e administrando os sacramentos da Igreja, cuja posse tomou o Reverendo Vigário da vara, mansa e pacificamente, sem contradição de pessoa alguma; e para tudo constar, mandou fazer este auto de posse, em que assinou, sendo a tudo presentes o Comandante da dita Expedição Bartolomeu Bueno do Prado, e o Capitão Francisco Luís de Oliveira, Marçal Lemos de Oliveira, que todos assinaram com o dito Reverendo Vigário da vara, e eu Manuel Carneiro basto que o escrevi e assinei. (aa) Manuel Carneiro Basto, o Padre João Corrêa de Mello, o Comandante Bartolomeu Bueno do Prado, Marçal Lemos de Oliveira."

Há de se ater em poucos casais dos primórdios de constituição de uma originalidade que se aproximou muitas vezes do mito de tão pouco quanto se sabe desta raiz familiar no Brasil, mesmo que advenha de certa forma de raízes de Portugal, não se sabe bem ao certo a constituição das mesmas. São Paulo se apega sobremaneira na sua formação de constituição em alguns personagens que se tornaram relevantes em sua história, a saber:

João Ramalho deve ter chegado ao Brasil em 1508 ou 1509, tem-se pouca documentação contemporânea sobre este homem que tem sua importância no reconhecimento das terras paulistas. A fonte documental mais importante é o testamento de Ramalho, que só conhecemos em cópia posterior ao século XVIII. João Ramalho, e sua descendência Bartira, filha do cacique Tibiriçá, que acolheu os primeiros que investiram do litoral para o interior do Brasil. talvez índia batizada recebendo o nome cristão de Isabel é assim significativa responsável pela formação da população do centro e do sul do país.

Diogo Álvares Caramuru e Catarina do Brasil. Ele chegou ao Brasil entre 1509 e 1511, proveniente de Caramulo; serra existente ao norte de Portugal de onde surgiu o termo de Caramuru ou Caramulo referência ao local de sua proveniência. Casou-se com uma índia da região do Recôncavo, Catarina, nome cristão, sendo batizada na França, para onde havia sido levada. A descendência de ambos não seja tão vasta quanto a de João Ramalho e Bartira, mas vai do nordeste ao Rio Grande do Sul.

Jerônimo de Albuquerque e Maria do Arcoverde é o casal melhor documentado e deram descendência a um grupo grande de pessoas no nordeste, e inclusive a família virou quase sinônimo de oligarquia em Pernambuco, os Cavalcanti de Albuquerque.

Podemos ainda citar diversos casais fundadores, com descendência mais restrita, mas menos ampla como os descendentes de Braz Teves e Leonor Leme, que viveram em fins do século XVI, e responsável pelos Lemes brasileiros, fração significativa da população do centro sul do Brasil. Outro casal, Gaspar de Barros de Magalhães e Catarina de Almeida chegaram ao Brasil em começos de 1555 a pequena nobreza, ligada diretamente à corte de Aviz, representada por fidalguia de nobreza modesta. Sua descendência expande-se pela Bahia e o centro sul brasileiro.
MAPA 1709

A análise da distribuição das terras em unidades de interesses produtivos, primordial condição que não se expandiu significativamente como esperavam os do Reino, possibilitou. Assim mesmo, o controle da concentração do poder sobre a região onde havia o mando da terra, mesmo quando a atividade econômica falhou por algum motivo, manteve-se a hierarquização econômica e social vigente na região da implantação da sesmaria. Houve a concessão de terras para determinados senhores de engenho e grandes lavradores de açúcar que diversificaram a atividade com a introdução da pecuária, e que se serviram de alguma maneira da aproximação como a coroa portuguesa, detentora de todos os bens que lhe cabiam como posse podendo regalar ao seu bel prazer, pelos súditos mais próximos em serviços prestados ao Reino. Atribuindo essa relação de aproximação com a nobreza as terras agraciadas em sesmaria deixavam ainda as estreitas relações com o soberano e tanto quanto possível poderia recorrer a qualquer momento aos terratenentes, que pela quantidade apreciável de terras estavam ligados em importâncias de constituir uma importante e imperativa elite que parece exigir também origem de nobreza de direitos a título nobiliárquico e a brandir seu brasão de armas. Constitui deste modo, significativa representação local da coroa portuguesa e pode dispor os ditames da governança. A elite terratenente, tinha por obrigação arregimentar súditos à captados entre um grupo que deve dar sustentação a maquina administrativa, obedecendo alguns encargos, demonstrando sua função para que foi instituída, ou seja, especificamente de efeito de colonização e valorização da terra. Os rendimentos desta estrutura serão num futuro aproveitado por um sistema mercantil já em andamento, e testado anteriormente na Ilha da Madeira, de onde advieram os conceitos básicos dos testes agrícolas com a cana de açúcar e o gado, bastava adaptar uma nobreza de segunda linhagem de uma nobiliárquica de beneficiários das concessões de terras, onde o aporte de homens e gastos deveriam correr a custeio do proprietário, elementos de determinada hierarquia que velava pelos interesses como donatários e reportando-se diretamente à Coroa e a construção, a baixo custo do império português do Atlântico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DORIA, Fernando González. Diccionario Heráldico y Nobiliario de Los Reinos de España. Editorial Bitacora, 1994.

DÓRIA, Francisco Antônio e outros. Os herdeiros do poder. Editora Revan Ltda. Rio de Janeiro, 1994.

BARATA, Carlos E.A. e BUENO, António H.Cunha.Dicionário das Famílias Brasileiras, 1ª Edição. Rio de Janeiro, 1999

Dé CARLI, Gileno. O Processo Histórico da Usina em Pernambuco. Rio de Janeiro: Pongetti, 1942. (E História de uma Fotografia, Recife: Cia. Editora de Pernambuco, 1985.)

CÂMARA, Luis Antonio. Concentração da Propriedade Agrária no Brasil. Boletim Geográfico, Rio de Janeiro, v. 7, n. 77, 1949.

VARNHAGEN, Francisco Adolfo de. História geral do Brasil. 10ª ed. Belo Horizonte/São Paulo, Itatiaia/Editora da Universidade de São Paulo, 1981.

CASTRO, P. R. de. Barões e Bóias-Frias: Repensando a Questão Agrária no Brasil. Rio de janeiro: APEC/Câmara de Estudos e Debates Econômicos e Sociais, 1982.

COSTA, R. A. Algumas Medidas de Concentração e Desigualdade e suas Aplicações. Estudos Econômicos, São Paulo, v. 9, n. 1, p. 49-77, jan./abril 1979.

ANDRADE, Manuel Correia de. História das Usinas de Açúcar de Pernambuco. Recife: Ed. Massangana, 1989. (República, v.1)

GONÇALVES & SILVA. O Assucar e o Algodão em Pernambuco. Recife: [s.n.], 1929.

MOURA, Severino. Senhores de Engenho e Usineiros, A Nobreza de Pernambuco. Recife: Fiam, CEHM, Sindaçúcar, 1998.

FACÓ, Rui. Cangaceiros E Fanáticos: Gênese e Lutas. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2009.

ZUQUETE, Afonso Eduardo Martins (Direção). Nobreza de Portugal e do Brasil - 3 vols, Editorial Enciclopédia, 2ª Edição, Lisboa, 1989.

ZUQUETE, Afonso Eduardo Martins. Armorial Lusitano: Genealogia e Heráldica, Ed. Enciclopédia, 1961.

ANDRADE, Manuel Correia de. Modernização e Pobreza. A Expansão da Agroindústria Canavieira e o Seu Impacto Ecológico e Social. São Paulo: UNESP, 1994.

ANDRADE, Manuel Correia de. A Cana de Açúcar e a Mesorregião da Mata Pernambucana. Recife: Ed. Universitária, UFPE, 2001.

ANDRADE, Manuel Correia de. História das Usinas de Açúcar de Pernambuco. Recife: Ed. Massangana, 1989.

ANDRADE, Manuel Correia de. Modernização e Pobreza. A Expansão da Agroindústria Canavieira e o Seu Impacto Ecológico e Social. São Paulo: UNESP, 1994.

AZEVEDO, João Lúcio. Épocas de Portugal Econômico. Lisboa: Livraria Clássica Editora, 1947.

FREYRE, Gilberto. Nordeste: Aspectos da Influência da Cana de Açúcar na Vida e na Paisagem do Nordeste. Rio de Janeiro, José Olympio, 1937.

FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. Rio de Janeiro, Fundo de Cultura, 1959.

PRADO JÚNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo, Martins,1942.
A Herança Genética de D. Afonso Henriques. Luiz de Mello Vaz de São Payo. Universidade Moderna, 1ª Edição. Porto, 2002

ABREU, João Capristano de: O Descobrimento do Brasil. Sociedade C. de Abreu, Rio de Janeiro, 1929.

GUEDES, Max Justo: O Descobrimento do Brasil. Coleção: Documenta Histórica, Lisboa, 1997.

TORGAL, Luís Reis. História e Ideologia. Coimbra: Livraria Minerva, 1989.

CARVALHO, Sérgio Luís de: Iniciação à Heráldica Portuguesa. Grupo de Trabalho do Ministério da Educação para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1996.

CASTELLO BRANCO, Carlos Heitor: Gloriosa e Trágica Viagem de Cabral ao Brasil e à Índia. Editora do Escritor, São Paulo, 1974.

DIAS, Carlos Malheiro e outros: História da Colonização Portuguesa no Brasil - Edição Monumental Comemorativa do Primeiro Centenário da Independência do Brasil. Litografia Nacional, Porto, 1923.

MAGALHÃES, Romero Joaquim e MIRANDA, Susana Munchen. Os Primeiros 14 Documentos Relativos à Armada de Pedro Álvares Cabral, CNCDP, Instituto dos Arquivos Nacionais, Torre do Tombo, Lisboa, 1999.

TOSTES, Vera Lúcia Bottrel. Títulos e Brasões - Sinais da Nobreza. JC Editora: Rio de Janeiro, 1996.

LAMBERT, Jacques. Os Dois Brasis. Companhia Editora Nacional: São Paulo, 1973.
PRADO, J.F. de Almeida. A Conquista da Paraíba. Companhia Editora Nacional: São Paulo, 1964.

NOTAS:

[1] Rico derivaria da palavra germânica reik, que significava poder, à qual se haveria juntado o vocábulo homem: homem poderoso.

[2] A posse de domínios que integrariam os condados de Portucale e Coimbra surgiram em 950 sobre os domínios divididos pelos filhos de Mumadona Dias, condessa de Portugal no século X, ficando o condado Portucalense para Gonçalo Mendes. Era filha de Diogo Fernandes e da condessa Onega Lucides, tia do rei Ramiro II de Leão e neta de Vímara Peres. Famosa, rica e uma das mulheres mais poderosas no Noroeste da Península Ibérica. Foi casada com o conde Hermenegildo Gonçalves e governou o condado após a morte do esposo em 928, e determina a construção do Castelo de Guimarães para a sua proteção.

[3] A cana-de-açúcar chegou às Alagoas entre os anos de 1575 e 1585, na bagagem de uma expedição que recebeu o crédito de científica, mas teve um objetivo não tão nobre. Cristovão Lins. Nascido Liszt, alemão que trabalhava para a coroa portuguesa. Desceu ao sul da então capitania de Pernambuco com uma missão: limpar o terreno da presença dos agressivos índios potiguares e iniciar a colonização portuguesa.

[4] A plantation, iniciada em Pernambuco e na Bahia na primeira metade do século XVI, foi implantada para a produção da cana-de-açúcar, incentivando o desmatamento e A implantação os engenhos denominados bangüês que fabricavam o açúcar bruto, rapadura e aguardente.
[5]Os solos nas encostas são em geral lateríticos, chamados de "barro vermelho"; nos tabuleiros são silicosos; nas várzeas, aluviais, altamente argilosos, denominados localmente de "massapé", tipo de solo muito enaltecido por Gilberto Freyre (1937) como típico da região.

[6] Tipos de engenhos banguês: Engenho Real- movido por uma roda d'água, era o maior. Engenho Trapiche ou Almanjarras , movidas pela força de animais (bois, mulas ou cavalos). Engenho Central - fábrica de açúcar, utilizando maquinário moderno, movido a vapor, instalou-se a partir de 1870. Usava mão de obra livre.
[7] No início do século XIX, a cana crioula foi substituída pela cana caiana, quando os portugueses trouxeram essa variedade da Guiana Francesa e a introduziram no Brasil, e além destas há a javanesa, indiana, mestiças, bourbon, roxa, mole e rajada.

[8] Uma trova se tornou popular em Pernambuco: Quem nasceu em Pernambuco/ Conhece bem o ditado:/ Ou se é um Cavalcanti,/Ou se é um cavalgado.

[9] Segundo Oliveira Martins - O Brazil e as Colônias, p. 42 - 700 colonos em Olinda; 50 engenhos de açúcar com 1200 colonos e 5000 negros, produzindo 200 000 arrobas

[10] Os descendentes de João Gonçalves Zarco descobridor da ilha da Madeira, teve concessão nobiliárquica através de D. Afonso V, em1460, ampliando-lhe essa mercê da concessão de usar o sobrenome de Câmara de Lobos, em referência a Zarco e as muitas tocas de lobos que existiam na Ilha.

[11] De “Portugal Semente de Impérios” de Gustavo Barroso, Editora Getulio Costa:, 1943, p. 143-151, extraímos os fragmentos abaixo referindo-se Cristóvão Colombo:

(De acordo com Laurence Hallewell, Gustavo DODT Barroso, fundou em 1929 (Diretor do Museu Histórico Nacional e eleito para a Cadeira Nº 19 da Academia Brasileira de Letras)a Editora Civilização Brasileira com Getúlio Costa e Ribeiro Couto. Em 1932, esta editora foi adquirida por Octalles Marcondes Ferreira, sócio de Monteiro Lobato, e passou a ser a filial da Companhia Editora Nacional no Rio de Janeiro. Getúlio Costa retornaria a atividade editorial sozinho em 1939, com a Editora Getúlio Costa; in Laurence Hallewell. O Livro no Brasil. São Paulo: EDUSP, 2005. p. 355.)

[12] Correu longo processo de herança dos bens terrenos de Pero Lopes de Souza, donatário da Capitania de Santo Amaro, que, em verdade, era um enclave na Capitania de São Vicente, que pertencia a seu irmão Martim Afonso de Souza.
O resultado de muitas confusões, discutidas tanto nos tribunais da Colônia, como nos do Reino, no processo “Vimieiro-Monsanto”, que, ao final, deu ganho de causa aos parentes chegados à poderosa “Casa dos Cascais”.
Foi vencedor do litígio o Conde de Monsanto, então Marquês de Cascais, embora depois de o Rei ter concedido à Viscondessa Dona Mariana de Souza Guerra, mais tarde Condessa, que fora espoliada em seus bens, as cem léguas de terra, que ela solicitara, em contrapartida, e que em 07/02/1624, formaram a Vila de Itanhanhem (Itanhaém), cabeça da Capitania. Convém salientar que oficialmente esta senhora, era descendente em linha direta de Pero Lopes de Souza – Dona Mariana de Souza Guerra – herdeira por ordem de sucessão hereditária da família, que se tornou, em virtude de sua luta pela posse das terras, que por direito lhe pertenciam, uma pessoa importantíssima na seqüência dos fatos e atos, que passaremos a expor, porque relacionados à inteira região do Vale do Paraíba do Sul que temos o maior interesse em destacar. Por todos e tantos males que sofrera agora ela resolveu rapidamente cuidar de seus interesses, de modo mais eficiente. Tal procedimento, pelo menos no que diz respeito ao nosso Médio Vale do Rio Paraíba e só trouxe boas conseqüências. Com a forma geral de seu enorme território, como acima detalhamos, todo ele subordinado administrativamente à Vila de Itanhaém, imediatamente a Condessa Mariana de Souza Guerra mandou assentar os seus marcos de posse, datando a provisão de 20/01/1636, ratificada por outra de 30/06/1639.

[13] ONU pede mais que Bolsa Família contra desigualdade - Relatório admite avanços no Brasil, mas critica sistema tributário e distribuição de terras 'desiguais'-Jamil Chade , 26 de Fevereiro de 2010 O ESTADO DE SAO PAULO: “Outro desafio apontado pelo relatório é a desigualdade de acesso à terra. Para a ONU, o País parece "incapaz de lidar de forma efetiva". Cerca de 2,4 milhões de propriedades ocupam 2,5% do território agrícola nacional. Já 47 mil fazendas ocupam 43%”.