EXÉRCITO DE RESERVA DO CULTIVO E O PÃO
Fim das Guerras Napoleônicas há um exército de reserva vagando pela Europa e que assusta as grandes coroas governantes. Terminaram as grandes disputas para definir aqueles que restaurariam seus interesses no continente com os campos produtivos destruídos por guerras infindáveis, nunca os castelos.
Estão desabrigados os servos que cozinhavam e plantavam, além de selar o belo corcel nos estábulos do rei, e que deles também tiravam o esterco para mantê-los limpos.
Essa era a realidade encontrada em qualquer estrada vacante do rei que cobrava pedágio de uso de transporte de mercadorias e que ligava reinados instituídos por interesses através de matrimônios arranjados por consorte ofertando dotes.
Se houvesse numerações anteriores de guerras que se confrontaram em grandes disputas das soberanias das potências os dígitos seriam elevados. Todas foram guerras mundiais e nos anos do século dezenove, da consolidação dos famigerados Estados, não fugiram à regra, aliás, criou-se a idéia do nacionalismo a xenofobia da maldição de uma pureza inexistente do sangue azul da coroa e sangue vermelho do subversivo trabalhador que mitigava a fome do rei e toda a nobreza e também o defendia inundando com seu sangue os campos de batalhas.
Os soldados que morriam nos campos de batalhas eram os mesmos que nos mesmos campos plantavam e colhiam o grão nascido da terra. As guerras arregimentaram estes servos do rei para formarem o corpo de infantaria, para tombarem em nome deste absurdo de defenderem os interesses dos soberanos. As fronteiras enchiam-se de cadáveres de agricultores, artesãos putrefazendo até o ambiente que se respirava. Aos combatentes, que muitas vezes nem sabiam o que se estava defendendo, restava de comida os restos dos banquetes das mesas em festas dos soberanos comemorando seus feitos.
Estes homens ao fim do conflito das coroas que mandavam em sua condição humana, podendo sentenciá-lo sempre que o desejasse, estavam sem domicílio fixo após o término dos combates, tornaram-se homens vagantes pela Europa, maltrapilhos, “vagabundos” deslocados pela deflagração dos conflitos que andam de um lado a outro a procura de saciar a fome, sua miséria de subsistência, homens embrutecidos pelos interesses dos colonizadores que comandavam as marchas através de seus castelos ou quartéis que reforçavam a segurança interna da coroa, mas nunca expostos na frente de batalha.
São estes os mesmos donos das terras que eram comunitárias e tornaram-se privadas por ordem régia. A mesma massa que morre de fome, frio e sede porque as monarquias tiraram-lhes direitos básicos de vida, é a mesma massa que morre em combate para defendê-la, ou seja, defendendo o ladrão que lhe rouba o direito ao cultivo do trigo para fazer o pão. Qual a diferença entre morrer de fome ou na guerra? Nenhuma, as duas são cruéis!
Estes servos da Europa, que possuem as técnicas da produção alimentar rumam da Velha Europa para serem colonos da Nova América.
A revolta por serem, por muito tempo, vilipendiados e extorquidos pela fidalguia reinante, escutava a tentativa de um ministro em persuadir aos colonos de não saírem para a América, em diálogo com o colono que responde:
“Que coisa entendeis por nação senhor ministro?
É a massa dos infelizes?
Plantamos e ceifamos o trigo, mas nunca provamos do pão branco.
Cultivamos a videira, mas não bebemos o vinho.
Criamos os animais, mas não comemos a carne...
Apesar disso, vós nos aconselheis a não abandonar a nossa pátria!
Mas é pátria a terra que não se consegue viver do próprio trabalho?
Deixaram em trovas suas indignações aos governantes que se achavam donos até da liberdade:
"Nós, italianos trabalhadores,
Alegres, partimos para o Brasil,
e vós que ficais, da Itália senhores
Trabalhai empunhando a enxada
Se quereis comer"
A trova cita um grupo mas reflete todos estes heróis que atravessaram o mar em busca de outro modo de vida em terras distantes para construir novos sonhos. Não pode dar errado novamente, não pode haver senhores de nosso destino, pois, não existirá nova América para se descobrir!
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