quarta-feira, 1 de julho de 2009

CONSEQÜÊNCIA DAS LEVAS HUMANAS DA EUROPA PARA A AMÉRICA

CONSEQÜÊNCIA DAS LEVAS HUMANAS DA EUROPA PARA A AMÉRICA

A velha Europa já não possuía mais terras comunais, as quais todos usufruíam seu beneficio e que foram confiscadas pela soberania através dos “cercamentos” para pastagens com cercas de retenção, expulsando os agricultores que de repente vêem-se despojados de produção agrícola por falta de terras. Deste modo um excedente de trabalhadores estavam disponíveis e podiam a qualquer momento causar conturbações e malefícios que provocaria revoltas e incontroláveis explosões da massa oprimida em toda parte. Entre os anos de 1846 e 1848, uma seqüência de péssimas colheitas provocou uma crise econômica responsável pela elevação súbita do preço dos alimentos. Além disso, a queda no consumo dos produtos industrializados motivou a demissão de operários nos centros urbanos. A economia capitalista européia estagnava-se dando origem aos protestos e culminando com a chamada “Primavera dos Povos”.

Até 1914, de modo predominante, a Europa era agrícola, pré-industrial e pré-burguesa, com suas sociedades civis profundamente radicadas em economias de agricultura baseada no trabalho prolongado, pequena manufatura de bens de consumo com incipiente comércio. Reconhecidamente, o capitalismo industrial e suas formações de classe, em particular a burguesia e o proletariado fabril, começam com as precárias condições impostas pela revolução industrial, mas não estavam em condições de desafiar ou suplantar as tenazes estruturas econômicas e classistas do feroz sistema do capitalismo. Poucos controlavam o continente europeu e é desnecessário dizer, poucos eram pequenos proprietários. Havia legiões de camponeses que arrendavam a terra ou trabalhavam por parceria, ou ainda eram trabalhadores rurais sem terra. Dessa forma, estavam nas garras de grandes proprietários, que capitalizavam sobre o excedente do trabalho rural, proveniente do crescimento populacional e simultânea desestabilização do campo, para impor seu controle explorador sobre a economia agrária.
Além disso, ao ampliar a participação da nobreza de posse das terras produtivas há insurgências acentuavam não só a submissão resignada do camponês explorado na Europa, mas também a determinação e capacidade dos grandes latifundiários e seus aliados políticos em reprimir rebeliões populares. O quadro abaixo mostra a realidade da Europa na posse das terras (1 acre corresponde a 4046 m2):

1- Inglaterra, 1873: 2500 indivíduos, cada um com propriedades de pelo menos 2 mil acres, 40% da terra na Inglaterra e Gales;

2- 3500 indivíduos com propriedades de pelo menos10 mil acres cada, detinham 66% das terras na Escócia

3- sete mil pessoas monopolizavam 80% de todas as terras de propriedade particular no Reino Unido

4- 2,2 milhões de trabalhadores rurais masculinos forneciam à elite agrária inglesa um apoio eleitoral vital e seguro.

5- na Alemanha em 1907: 5,5 milhões de propriedades eram individuais entre 2,5 a 50 acres, cobrindo 39 milhões de acres aráveis, 286 mil propriedades estavam acima de 50 acres, com 3 mil indivíduos ainda detinham 15% de toda superfície cultivada da Alemanha

6- no Império Austro-Húngaro 24 famílias detinham 250 mil acres cada.

7- Itália, 60% da população se concentrava na agricultura, gerando 50% do PIB; 80% não possuíam terras e 54% eram diarista eventuais.


8- na Bohemia, 500 propriedades somavam 3,7 milhões de acres;

9- Na Silésia, (entre Polônia, rep. Checa e Alemanha)12 proprietários possuíam 20% das terras cultiváveis;

10- na Moravia, outros 12 possuíam 11%;

11-na Baixa Áustria 12 proprietários possuíam 9% das terras aráveis;

12- na Rússia, entre 1861 a 1914, 10% da nobreza possuía propriedades acima de 2700acres, ou 75% de todas as terras aráveis da Rússia européia, e 155 magnatas que possuíam 270 mil acres cada.

13- França em 1906: pequenas propriedades entre 2,5 25 acres constituíam 75% de todas as propriedades acima de 2700 acres, mas cobriam 23% do total de terras aráveis; propriedades entre 100 e 400 acres cobriam 40 a 50% de todas as terras aráveis e 17 mil proprietários acima de 500 acres ocupavam 15% de todas terras;

Por toda a Europa a grande maioria dos proprietários de terras era nobre ou fidalga. Totalmente à parte o fato de exercer uma influência gravitacional sobre proprietários rurais não-nobres, essa velha elite tinha muito a uni-la, além de um modo de produção e uma fonte de riqueza comum. Os proprietários titulados de cada país tinham criação, educação, estilo de vida, mentalidade, código de conduta e convicções políticas em comum.
No campo, mandavam não somente nos trabalhadores, rendeiros e camponeses, com também nos ferreiros, artesãos, lojistas, profissionais e clérigos. Local e regionalmente, ocupavam as principais posições sociais, culturais e filantrópicas e monopolizavam, controlavam ou tinham grande peso na sociedade política, também ou e especial nos centros urbanos.

Mas havia uma mudança nas estruturas destes reinos, burgos protegidos, com os movimentos revolucionários que exigiam isonomia e participação daquilo que fora criado por uma massa de infelizes que foram deixados as margens das decisões. Evidente que a formação das defesas destes poderosos, criou-se um aparato de defesa instituindo os estados nacionais, e maior diferença entre soberanos e vilões, os primeiros guetos de controle dos que detinham a força militarizada. As carnificinas dos desarmados mancharam o solo que estes agricultores tanto cultivaram para manter as regalias das fortalezas; eram os “pagani”, os afastados que viviam longe das paredes da muralha do reino, pagãos dos direitos de proteção e privilégios dos governantes. Mesmo assim a propriedade não pertencia a quem produzia o que deveria estar orientada para o bem comum tornaram-se propriedades privadas, ou do soberano ou dos nobres suseranos com uma relação de vassalagem entre um grupo que vivia em redor da nobreza.
Do outro lado do Atlântico havia uma terra imensa ainda a explorar, esperando ser habitada por quem houvesse interesse a vir para os “quinto dos infernos”, em alusão ao tributo da derrama promovido pela coroa dona destas terras devolutas que saquearam do que havia no solo como riqueza, enchendo cargueiros de riquezas além de ter promovido latifúndios de capitanias hereditárias. Ninguém queria deixar o legado de sua terra natal para se aventurar por uma terra desprovida da civilização européia, mesmo não sendo a ideal de civilização, era parte do legado romano, expulsando bárbaros visigodos, godos e suevos até as margens fora do Mediterrâneo, na Península Ibérica. Poucos aventureiros dotados do interesse em pesquisa, por um lúmen próprio do caráter cientifico se prontificaram a atravessar o impetuoso oceano aberto do Atlântico, diferente daquele mar aprisionado no meio da velha Europa conturbada, o Mediterrâneo, testemunha desta civilização de reinóis.


Parte deste texto foi extraído do “MANUAL DE CONTRA HISTÓRIA NA ANTI-MODERNIDADE” do professor Eduardo Antonio Bonzatto.

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