segunda-feira, 24 de junho de 2024

O Clube Banespa na Chácara São João no Brooklin “Paulista”/SP e a Classe Star de Walter von Hütschler

Na antiga parada de bonde Petrópolis, na antiga Avenida Rodrigues Alves, atualmente denominada Vereador José Diniz,  localizava-se a Chácara São João, propriedade de Walter Nicolaus Herbert Max Joan Von Hutschler, que alugava a área para o Clube do Banco do Estado de São Paulo, BANESPA, pelo valor mensal de 400 mil réis no início da década de 1930.

Em 12 de março de 1930 subscreviam a Ata de Fundação do “Esporte Clube Banespa” empossando sua primeira
diretoria, no salão nobre da sede do banco, em São Paulo

Foi eleita uma Diretoria Provisória, com mandato de um ano, empossando: Presidente – Decio Pacheco Silveira, Vice-Presidente – Mário Morandi, 1ª Secretário – Roberto Peak Rodrigues, 2ª Secretário – Cassio Toledo Leite, 1º Tesoureiro – Francisco Pereira de Andrade, 2º Tesoureiro – José Cunto Leone.
Como o clube não tinha sede própria , alugava o campo do Esporte Clube Estrela, no Canindé, São Paulo, para as atividades esportivas.
O interesse do Banespa pela área era grande, culminando com a transação entre o proprietário da Chácara São João, Walter von Hütschler e os diretores do Banco do Estado de São Paulo, realizada no dia 23 de janeiro de 1936 e a escritura foi passada em 12 de junho de 1937.






Uma área de 60 mil metros quadrados na Avenida Santo Amaro, Brooklin, na zona sul de São Paulo permutada por imóveis do banco no centro da cidade de São Paulo. Iniciava-se deste modo o “Esporte Clube Banespa” com um grande número de associados com equipes de várias modalidades esportivas.

GLÓRIAS. (O Estado de S. Paulo de 03 de abril de 2024 - Fabio Grellet)
“Nas décadas de 1980 e 1990, a equipe profissional de vôlei do Esporte Clube Banespa contou com ídolos como Montanaro, Xandó e Amauri, da geração que conquistou a medalha de prata nas Olimpíadas de Los Angeles-1984, e Marcelo Negrão, Tande, Giovane e Maurício Lima, da geração de ouro em Barcelona-1992.
O Banespa foi cinco vezes campeão brasileiro, seis vezes sul-americano e duas vezes vice-campeão mundial. A equipe de futebol de salão também fez sucesso – foi duas vezes campeã brasileira. Atualmente o clube não tem equipes profissionais, mas é sede das escolinhas de futebol dos ex-jogadores Rivellino e Zetti”.









Proprietários da fazenda São João/Walter Von Hutschler
A família Von Hutschler, de origem alemã, aportou no Brasil para trabalhar no ramo cervejeiro, sendo responsável da produção da cerveja Bavaria de Henrique Stupakoff & Companhia, no início da década de 1900. Depois colaboraram na criação da Companhia Antarctica Paulista, fundada em 9 de fevereiro de 1891, na cidade de São Paulo. A Companhia Antarctica foi formada por seu presidente, conde Asdrubal Augusto do Nascimento e seus colaboradores diretos, Adam von Bülow , Nicoláo von Hütschler e Oscar A. do Nascimento.
Nicoláo Von Hutschler, tornou-se diretor gerente da Companhia Antarctica, mas veio a falecer em 11 de março de 1916, e sua esposa Hanny e parte da família retornou para a Alemanha, ficando no Brasil Walter Nicolau Herbert Max Johan von Hütschler.

O velejador Walter von Hütschler campeão da Classe Star

Walter von Hütschler nasceu em São Paulo em 1906 tornando-se velejador de renome da classe Star, vencendo as edições de 1938 e 1939 do Star World Championship .
Walter von Hütschler tinha cidadania teuto-brasileira e ficou conhecido em todo o mundo pela grande contribuição que deu ao esporte náutico da Vela, com destreza com seu próprio barco, o Pimm.
Conquistou, em 1926, com apenas 20 anos, a Taça Segel-Gral, da classe Rennjolle 22 pés. A partir de 1932, dedicou-se à classe Star ocupando sua liderança até o início da Segunda Guerra Mundial. Em 1936 conquistou o Campeonato Europeu, seguindo-se a esse, o Campeonato Mundial de 1937 e sagrando-se Bi-Campeão Mundial do ano seguinte, 1938.
Embora fosse brasileiro, Walter von Hütschler corria pela flotilha de Hamburgo, Alemanha. Com a aproximação do conflito bélico da Segunda Guerra despachou seu Star para os Estados Unidos, e depois veio para o Brasil e implantou com Anchyses Carneiro Lopes a primeira flotilha da classe Star onde já era Bi-Campeão Mundial.
Em 1959 a dupla classifica-se em terceiro lugar nos Jogos Pan Americanos de Chicago e em seguida conquista o Campeonato de Newport/Harbour, o que foi determinante para a realização do mundial de 1960 no Brasil, realizado no Rio de Janeiro.
Em 1965, Walter von Hütschler conquistou o Campeonato Continental da Classe Star. Coroando sua extensa participação no iatismo internacional, ele conquistou, em 1976, aos 70 anos, o Campeonato do 7º Distrito da Classe Star. Walter von Hütschler sempre foi um dos maiores defensores da Star Class de sua época.
Walter von Hütschler faleceu na Alemanha em 1997, aos 91 anos.

A Fábrica de Cerveja Bavária

A Cerveja Bavária já era servida em 1877, quando da inauguração da cervejaria “Stadt de Berna” na Rua de São Bento 73 - São Paulo - SP, de propriedade de Vitor Nothman.

Em 20 de outubro de 1892, foram inauguradas as novas instalações da Fábrica de Cerveja Bavária de Henrique Stupakoff & Cia, nas terras de uma chácara do engenheiro Daniel Fox. O prédio construído na Rua da Mooca 282, (depois Alameda Bavária, atual Avenida Presidente Wilson) no bairro da Mooca, subúrbio do Braz, à margem da “Estrada de Ferro Ingleza”, onde a partir de 1920 passou a se situar a sede do Grupo Antarctica.




Em 15 de março de 1895 o Diário Oficial de São Paulo (DOSP) publica o contrato que entre si fazem: Henrique Stupakoff, Martinho Buchard, Mathaus Haussler, Herman Burchard, Dr. Manoel de Moraes Barros, Augusto Tolle, Carlos Schorcht Júnior e Gustavo Yeep, sendo o primeiro solidário e os demais comanditários, para o comércio e fabricação da cerveja denominada "Bavária", nesta praça, com o capital de Rs 500 contos de réis, sob a razão social Henrique Stupakoff & Cia.
A empresa passou por sérios problemas financeiros, devido à desvalorização da moeda em 1893, mas conseguiu sobreviver com aporte financeiro dos acionistas, João Carlos Antonio Zerrenner, alemão, e Adam Ditrik Von Bülow, dinamarquês, ambos naturalizados brasileiros e proprietários da empresa Zerrenner, Bülow e Cia, exportadora e corretora de café.

Em 1904, a Companhia Antarctica Paulista através da assembleia de 20 de julho, com ata publicada em 30 de julho no Diário Oficial do Estado de São Paulo, assumiu o compromisso de compra da sua concorrente em São Paulo, a Cervejaria Bavária de Henrique Stupakoff & Cia. pela quantia total de Rs. 3.700 contos de réis, passando a atuar na produção de bebidas no bairro da Mooca, na também chamada Avenida Bavaria, nome este alterado em 1954, pela prefeitura para Avenida Presidente Wilson que prevalece até os dias atuais. A sede da fábrica da Companhia Antarctica Paulista foi transferida no mesmo ano, para a Mooca, na zona leste de São Paulo.

O PASSAMENTO DOS DOIS AMIGOS CERVEJEIROS DA BAVÁRIA

Nicoláo Von Hutschler, faleceu em 11 de março de 1916, e sua esposa Hanny e parte da família retornou para a Alemanha. Após a Primeira Guerra Mundial, Henrique Stupakoff retornou para Hamburgo onde faleceu em 11 de abril de 1920,terminando o ciclo dos pioneiros cervejeiros no Brasil.

BANDEIRA Junior, Antonio Francisco. A indústria no Estado de São Paulo, 1901. São Paulo: Typ do Diario Official, 1901

LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas: Editora UNICAMP, 2012

SIRIANI, Silvia Cristina Lambert. Uma São Paulo Alemã: Vida quotidiana dos imigrantes germânicos. São Paulo: Imprensa Oficial, 2003

Fotos de rótulos créditos das companhias citadas na crônica

quinta-feira, 13 de junho de 2024

Santo Antônio de Lisboa, de Pádua e também de Toulouse: 13 DE JUNHO

QUEM FOI FERNANDO QUE SE TORNOU FREI ANTÔNIO

Antônio, que recebeu no batismo o nome Fernando, era natural de Lisboa, Portugal, onde nasceu em 15 de agosto 1195, sendo filho único, herdeiro dos nobres Martinho de Bulhões, oficial no exército português, e Teresa Taveira. Inclinado à piedade e às coisas santas, recebeu formação espiritual e intelectual dos cônegos da Catedral de Lisboa. Foi ordenado sacerdote em 1220, tornou-se franciscano, mudando seu nome para Antônio.
Frei Antônio foi primeiramente enviado ao continente africano, mas adoeceu, e seus superiores decidiram que ele deveria retornar a Portugal. O navio em que estava viajando de regresso foi atingido por uma tempestade, aportando nas costas da Itália, na Sicília. Lá soube que a ordem franciscana havia convocado um encontro em Assis, Itália, para maio de 1221, e para lá se dirigiu, permanecendo em isolamento e contemplação no Monte Paulo.
O Provincial da ordem franciscana o encarregou da ação apostólica ao norte da Itália, onde se tornou grande pregador popular.
Após alguns anos de frade itinerante, o Papa Inocêncio III, mobilizou todos os pregadores dominicanos e franciscanos para combater a doutrina dos cátaros, contrários aos preceitos estabelecidos pela igreja, (heresia) que se estabeleceram no sul da França.
Santo Antônio, foi, juntamente com seus irmãos da ordem franciscana para a França, onde permaneceu por três anos, lecionando, pregando e fazendo milagres nas cidades francesas de Montpellier, Toulouse, Lê Puy, Bourges, Arles e Limoges.
O BURRO FRANCÊS DE TOULOUSE
Há uma história de Santo Antônio, em Toulouse, na França, que o santo pregava sobre a presença de Cristo, na hóstia consagrada, quando um incrédulo morador de Toulouse, diz-lhe:
“Deixemo-nos de palavras e vamos a obras. Se fores capaz de mostrar com milagres, na presença de toda a gente, que no Sacramento está de fato o Corpo de Jesus Cristo, eu prometo deixar a heresia e submeter-me à Fé católica”.
Antônio aceitou o desafio e o homem continuou:
“Vou prender um animal e deixá-lo com a fome durante três dias, e ao fim vou trazê-lo perante todos, quando dar-lhe-ei algo de comer. Neste intervalo, vens tu com o Sacramento que dizes ser o Corpo de Jesus Cristo. Se o animal esfomeado parar de comer e encaminhar-se para o Deus que, segundo afirmas, toda a criatura tem obrigação de adorar, podes ficar certo de que imediatamente abraçarei a Fé da Igreja”.
Passados os três dias, o homem chegou com um burro que já estava há três dias sem se alimentar e recebeu feno e diante dele Santo Antônio ergueu o Santíssimo Sacramento, o animal dobrou as patas dianteiras, prostrado, diante do Santíssimo Sacramento, apresentado pelo frade franciscano.
Toda a praça em Toulouse, diante do fato, acreditou na força sacramental apresentada por Santo Antônio.
Os animais reverenciam a natureza de Deus, sem irem à Igreja sabem “Quem é seu Criador”!
(Santo Antônio faleceu em Pádua, na Itália, em 13 de junho de 1231, sendo de Lisboa, ou de Pádua, ou de Toulouse!)

terça-feira, 4 de junho de 2024

Tudo é história?

 A história humana (afinal é o único animal que constrói história) são acontecimentos no tempo e espaço (lugar do acontecimento).

Tudo é história, mas nem tudo é histórico!
Histórico é o que transforma algo em feito grandioso para determinado grupo abrangente, nação ou até de dimensão global!
Tem algo assustador, mas que é transformador: As guerras, pois afetam populações inteiras!
História, por sua vez, faz parte de fatos de um grupo restrito, sem mudar a estrutura existente na sociedade, por exemplo, o familiar, pois afeta somente um determinado clã restrito!

A Empresa de ônibus São Luiz Viação Ltda, hoje Viação Campo Belo, começou no Bairro Jardim São Luiz/SP

A incipiente São Luiz Viação Ltda dos anos de 1960 tornou-se a Viação Campo Belo da atualidade, sendo parte da estrutura do Grupo Ruas, que detém hoje mais de 50% do transporte de passageiros da cidade de São Paulo.

O Grupo Ruas é um grupo empresarial brasileiro de transportes urbanos, fundado em 1961, pelo imigrante português naturalizado brasileiro, José Ruas Vaz. Atualmente o conglomerado possui mais de 30.000 funcionários e tem participação em mais de 50 empresas.

Entre os anos de 1961 e 1984, o Grupo Ruas adquiriu 16 empresas de ônibus no estado de São Paulo.

O grupo ganhou espaço grande na prefeitura de São Paulo, e hoje detêm a maior parte da frota de ônibus da cidade com mais de 6.800 ônibus, cerca de 53% da frota da capital paulista.

 Grupo Ruas: Do transporte coletivo a fabricação de carrocerias

Em 2001, a Caio é assumida por um grupo de investimento, com forte atuação no mercado de transportes da cidade de São Paulo, dand0 origem ao Grupo Caio Induscar.

Em 2004, o Grupo Ruas fundou a holding RuasInvest, onde torna-se a acionista majoritária da Caio Induscar.

A Companhia Americana Industrial de Ônibus (Caio) foi fundada em 19 de dezembro de 1945, na rua Guaiaúna, no bairro da Penha, em São Paulo, pelo imigrante italiano José Massa, bisavô do piloto brasileiro de Fórmula 1 Felipe Massa.

Em 2001, o Grupo Ruas assumiu o controle da CAIO, por meio da Induscar e em março de 2009, a Induscar passou definitivamente a ser dona da marca e do parque fabril.

Em 2017, sócios-acionistas e investidores do Grupo Caio Induscar, adquiriram o parque fabril e a marca Busscar, fabricante de ônibus rodoviários. A aquisição teve como objetivo ampliar a atuação do Grupo Caio Induscar, nos mercados interno e externo.

 Saga de José Ruas Vaz e o Grupo Ruas

José Ruas Vaz nasceu em 1928, na Serra da Estrela, em Fornos de Algodres, Portugal. Era filho de um promissor criador de ovelhas, Antonio Martins Ruas, e da "fazedora de queijos", Maria da Glória Vaz. Aos 21 anos decidiu vir ao Brasil com a “carta de chamada” dos tios, chegando em 4 de setembro de 1949, onde desembarcou no Porto de Santos, subiu a Serra do Mar de trem e foi morar em um cômodo da casa dos tios comerciantes, à Rua Afonso Sardinha, na Lapa. O rapaz admirava muito outro tio, dono da panificadora Santa Tereza, fundada em 1872, concorrida no coração da cidade, à Praça João Mendes, onde está ainda hoje com nova administração. 

Em 1957 adquiriu seu próprio negócio, a “Padaria Salazar”, no número 1.251 da Avenida Pompéia, e por onde vinham os bondes.

Nesta época estava havendo uma transição entre os bondes e os ônibus no transporte de passageiros em São Paulo e em frente a padaria ficava um ponto de ônibus. Um dia, a CMTC, retirou a linha de ônibus em frente à padaria e o movimento do estabelecimento caiu drasticamente porque os passageiros que esperavam o ônibus e frequentavam a padaria deslocaram-se para o novo local. A empresa Pompéia x Fábrica, assumiu o antigo ponto da CMTC e a padaria Salazar recuperou clientela. José Ruas Vaz percebia que os ônibus saíam e chegavam lotados. Em 1961, interessando-se pelo segmento de transporte coletivo fechou acordo com empresários de Santo André, de quem adquiriu a empresa Viação Campo Belo Ltda, (antiga).

Vendeu a Padaria Salazar, com o coração apertado, mas era hora de mudar de “padeiro” a um dos empresários mais bem sucedidos no sistema de transportes coletivos do Brasil.

No bairro Jardim São Luiz, em São Paulo, José Ruas teve no “patrício”, Padre Edmundo da Mata, da Paróquia São Luiz Gonzaga, seu grande amigo e incentivador, para o desenvolvimento, tanto da empresa quanto ao bairro que deu o nome do primeiro registro da empresa do Grupo Ruas: São Luiz!

 


 

Vide mais em:

Os Ônibus de Emílio Guerra, a Viação Colúmbia e a Empresa São Luiz Viação Ltda

https://carlosfatorelli27013.blogspot.com/2015/10/os-onibus-de-emilio-guerra-viacao.html

domingo, 2 de junho de 2024

Carros de bois


Pelos anos de 1852, a cidade de S. Paulo, despovoada e suja modorrava ao sol ou se esfumava encolhida, na garoa tamizada do alto como uma cinza úmida. Negros transitavam de torso nu com tabuleiros de fazendas secas; calcetas, com grilhões pelos tornozelos, mourejavam no eterno conserto das vielas tortuosas e esburacadas; clérigos de batinas negras enxameavam, constituindo uma classe tão saliente como a dos militares: boiadas rumavam para os campos realengos de Ibirapuera; e tropas estardalhantes, encouradas de bruacas barrigudas chegavam de todos os pontos, enchendo a terra de efêmero rumor; depois tocavam para o litoral e para a Côrte – ou regressavam ao hinterland fecundo, em filas ligeiras, seguidas de capatazes mal ajambrados e empoeirados, como ainda hoje se vêm, em surtos de estranhas reminiscências, para os lados conservadores de Itapecerica.

Pelas ruas transitavam então, quase livremente, os carros de bois, carregados de cereais, de lenha, de terra, de pedras, de madeiras para construções. Veículos primitivos, de eixos móveis iam rangendo longamente à tarda andadura dos ruminantes. O carreiro de pés no chão, as calças de algodão trançado e listrado, regaçadas pelas canelas, a camisa entreaberta, o chapéu de couro desabado, trotava à frente dos bois pacíficos, ou aos seus flancos, de vez em quando ferretoando-os com a ponta de ferro das aguilhadas.

Esses, os únicos veículos de meados do século XVIII. Isto é, consta também a existência, por vagas informações de fiscais e cronistas, de uma ou outra sege, entre elas a do bispo d. Mateus, morador semi-secular da rua do Carmo. E só. Não. Havia também os bangüês para as ásperas caminhadas interurbanas. E cadeirinhas românticas, convidando a passeios citadinos, idas a festas e igrejas. Mas, destes meios de transporte particular, eram os animais, primitivamente, os índios e, posteriormente, termiminós reforçados, de bons bíceps e boas pernas, alimentados a feijão com angu e também a milho, do qual, nas longas excursões, levavam grossas espigas dependuradas na cintura.

De tal sorte, porém, cresceu o número de carros, que a Câmara Municipal, por intermédio de um dos seus pares, resolveu regulamentar-lhes o uso com umas posturas, então submetidas ao exame de uma Comissão Especial. O autor do projeto foi o ilustre paulista, homem público e historiador, brigadeiro Machado de Oliveira. E ficou desde logo estabelecido que os carros de boi de Santo Amaro, vindos pela rua da Santa Casa ou pelo Piques, estacionaram nos largos de S. Gonçalo e S. Francisco; os que entravam pelas pontes do Carmo e da Tabatinguera, no largo do Carmo, e pelas do Açu e Constituição, no largo de São Bento. Os procedentes dos lados de Pinheiros, Ó e Sant’Ana, que se destinassem a Freguesia de Santa Ifigênia, podiam, depois de descarregados, estacionar nos largos de Santa Ifigênia, no Tanque Zuniga e no da Consolação.

 Em nenhuma rua, se, exceção deviam conservar-se os carros parados: estes tinham que seguir pelo centro das vias públicas, um atrás do outro, de modo a não embaraçar o trânsito. Nos paradeiros retro designados, colocar-se-iam com igual precaução. E o artigo 9 o especifica ainda que “a carga do carro que se largar à porta do comprador, nas ruas e praças da cidade, ficará de modo que entre ela e a porta haja o intervalo pelo menos de uma braça para o trânsito dos passantes a pé, ficando tão bem no meio da rua o espaço necessário para a passagem de carros e cavaleiros”. Tudo isso tinha que ser rigorosamente cumprido, com pena de multas dos faltosos, que variavam de 500 réis a 2$000 réis, conforme os casos e as reincidências.

Tempos depois destas posturas, estabeleceu-se uma espécie de entreposto de madeiras de construção no largo do Bexiga, exatamente onde há hoje um mictório. Os antigos ainda se lembram dele. Era um barracão retangular, cercado de tábuas, tendo um vão para ventilá-lo entre estas e o teto. O inconveniente dessa abertura é que por ela chovia. E a umidade, não raro, danificava o material em depósito.

Quanto aos carreiros, conduziam lenha que vendiam “às carradas” ou “às mocutas”; verduras e frutas; e também, em um curioso veículo da época, espécie de carroça formada por enorme quartola[1] deitada, água para ser vendida de porta em porta. Custavam 40 réis o barril, em 1865. Puxavam-na muares, em vez de bois, destinando-se estes, propriamente, aos carros, aos quais se atrelavam em cangas, formando uma junta e, não raro, conforme o peso da carga, diversas delas.

Isso tudo, porém, ficou para trás, na sombra evocativa de outras idades.

 

Referência:

Jornal Correio Paulistano de 16 de setembro de 1942, com matéria do jornalista Nuto Sant’ Ana.

 

Vocabulário:

aguilhar: Estar alerta; ter os olhos abertos.

Ajambrar: Dar jeito em pôr em ordem; ajeitar; arrumar . Vestimenta apropriada para certas  ocasiões, adornado, paramentado.

braça:  (latim bracchia, -orum, plural de bracchium, braço) Medida de duas varas (uma vara 1,10 m) ou 2,20 metros.

bruaca: Meretriz.

calceta:  Grilheta, Pena de trabalhos forçados, O condenado a trabalhos forçados.

Hinterland: (termo alemão) significa a “terra de trás”, de uma cidade ou porto. Significa também à parte menos desenvolvida de um país, menos dotada de infraestrutura e menos densamente povoada. Corresponde a uma área geográfica conectada por uma rede de transportes, através da qual recebe e envia mercadorias ou passageiros (do porto ou para o porto). O termo pode ser aplicado à área que circunda um centro de comércio ou serviços e da qual provêm os clientes.

mocuta: feixe de lenha amarado do cipó que lhe dá o nome, transportado no costado das mulas ou em carroças.

modorra: (espanhol modorra).Vontade irresistível de dormir, sonolência.  Indolência, apatia.

tamisar : Passar pelo tamis, depurar; joeirar.

Temiminó: é um termo tupi que significa "descendente". Era um povo inimigo tradicional dos seus vizinhos tupinambás na baía de Guanabara, possuindo traços culturais  em comum com os tupinambás e com outras tribos tupis, tais como a língua, crenças, e costumes, além da agricultura  de subsistência baseada nas queimadas.



[1]

MEDIDAS DE VOLUME

Quartola:Casco pequeno correspondente aproximadamente a meia pipa. = CARTOLA.Pipa:Unidade de volume de líquidos correspondente a 25 almudes.

Almude:Medida de capacidade de líquidos, equivalente a 12 canadas ou 48 quartilhos Medida de aproximadamente 24 litros. (Esta medida variava segundo as localidades.)

Canada:espanhol “cañada”, medida de vinho. Antiga medida igual a 4 quartilhos, ou aproximadamente 2 litros.

Quartilho A quarta parte da canada. Porção correspondente a meio litro.

 

quinta-feira, 30 de maio de 2024

O Motivo da Celebração da Solenidade de "Corpus Christi"

Milagre de Orvieto – Bolsena – Itália – 1263 

A catedral de Orvieto, na Itália, guarda um dos milagres eucarísticos mais importantes na história da Igreja e que motivou o papa Urbano IV a instituir a solenidade de Corpus Christi.

Em meados do século 13, o padre Pedro de Praga duvidava sobre a presença de Cristo na Eucaristia e realizou uma peregrinação a Roma para rogar sobre o túmulo de São Pedro uma graça de fé.

Ao regressar, enquanto celebrava a missa em Bolsena, na cripta de Santa Cristina, a Sagrada Hóstia sangrou, manchando o corporal com o sangue.

A notícia chegou rapidamente ao papa Urbano IV, que estava muito perto de Orvieto e mandou que o corporal fosse levado até ele. A venerada relíquia foi levada em procissão e diz-se que o pontífice, ao ver o milagre, ajoelhou-se diante do corporal e, em seguida, o mostrou à população.

Em 11 de agosto de 1264 o Papa publicou a bula “Transiturus”, onde prescreveu que fosse celebrada a solenidade de Corpus Christi em toda a Igreja na quinta-feira depois do domingo da Santíssima Trindade, (oitava de Pentecostes) em honra ao Corpo de Cristo.



A relíquia do milagre de Bolsena se encontra na Catedral de Orvieto, em uma capela construída em honra a este milagre. Todos os anos o corporal sai em procissão na época da Festa de Corpus Christi.

A reverência de “Corpus Christi” é a celebração solene que a Igreja comemora o Santíssimo Sacramento da Eucaristia; sendo o único dia do ano que o Santíssimo Sacramento sai em procissão às ruas.