O QUE É FOLCLORE
O termo Folclore foi usado pela
primeira vez em 22 de agosto de 1846, divulgada em Londres pela revista “Athenæum”, artigo de uma
coluna assinada com o pseudônimo de “Ambrose Mearton”, que mais tarde foi
revelado como sendo Willian John Thoms, editor periódico quinzenal tendo seu
primeiro número publicado em 3 de novembro de 1849 “Notes and Queries”, onde aparecem estudos de literatura e história e
referências a “THE FOLK-LORE of ENGLAND”, sendo que era estudioso de costumes,
superstições e “antiguidades populares”, onde este termo foi usado até aquela
data e que somente foi oficializado a palavra “folclore” em 1878, com a fundação, em Londres, da “Folk Lore Society”.
Coletou-se baladas e lendas, usos e costumes que
estariam guardadas na memória popular, percebida no sentir, pensar, agir e
reagir do povo na aceitação coletiva do meio e da cultura espontânea dos grupos
sociais: “material”, “espiritual” que se somam também o “imaterial” dos campos
e das cidades.
PATRIMÔNIO MATERIAL E IMATERIAL
O “material” está representado por utensílios, artesanato de composição natural como cestos, abanos, jacás, samburás, balaios, esteiras, além de uma cerâmica típica, cada qual, com sua característica e todos construídos espontâneos e aceitos como parte de um pertencimento local.
No “imaterial” está a representatividade artística de cada local e vários folguedos são representados nas festas de congadas, moçambique, cavalhada, folias de reis, fandango, o cateretê ou catira, o batuque, o samba de roda, o samba de raiz dos bumbos, samba de lenço além do jongo, a dança de São Gonçalo e de Santa Cruz, que os naturais denominaram de arabaqué.
Algumas representações que fizeram
parte de Santo Amaro:
FESTA DE SANTA
CRUZ
Uma das tradições é a comemoração
da Paixão de Cristo vulgarmente conhecida pelo canto das Santas Cruzes que eram
celebradas todos os anos com início na Quarta Feira de Cinzas permanecendo até
Quinta Feira Santa, com os desdobros do toque do sino da igreja, onde as
pessoas se reúnem no Átrio da Igreja em rezas e entoadas musicais à Santa Cruz.
A Festa de Santa Cruz é a bem antiga sendo
trazidas ao Brasil pelos portugueses e evento mistura fé, religiosidade e
cultura através da música, dança, teatro e culinária relacionadas aos festejos
iniciados pelos padres jesuítas a partir do século XVII. Os festeiros rezam
diante da Santa Cruz, ajoelhados ou não, beijam-na, acendem velas, cantam e
dançam em adoração à Santa Cruz. Na tradicional Festa de Santa Cruz há o
levantamento do mastro em pedidos e desejos ali depositados.
A cruz é
o símbolo maior do cristianismo, fincada pelos padres jesuítas nas praças
centrais das tribos indígenas. Foi um dos artifícios utilizados pelos jesuítas
para catequizar os índios, a partir da constatação da importância da dança na
cultura dos índios. A estratégia foi adaptar a dança indígena
"sarabaquê" para a festa de adoração à Santa Cruz. Santa curuzu dos
guaranis e santa curuçá dos tupi, manifestações religiosas decorrentes da
cristianização dos povos indígenas, figuravam no devocionário mameluco, mestiço
e caboclo.
ROMARIAS
As romarias de Pirapora de Bom Jesus acontecem nas messes de abril e maio com cortejo de adeptos que se repete há anos saindo da Praça São Sebastião, atual Praça Bonneville, em Santo Amaro, São Paulo. São abnegados que mantém a tradição e o folclore independente do progresso que se agiganta pelos arrabaldes de Santo Amaro. Lá estão eles todos os anos buscando algo que unem o santamarense: as romarias de Santo Amaro, juntas no ideal pelas bênçãos de Bom Jesus de Pirapora.
Rumam à cidade de Pirapora, distante pouco mais de 50
quilômetros da capital, com romeiros viajando de muitos modos, charretes,
montarias, bicicletas ou caminhado a pé para uma grande reunião na igreja
Matriz de Pirapora para missa solene, recebendo as bênçãos como prêmio máximo
de tão fervorosa peregrinação em nome da fé. Todas as romarias onde comumente
há os andores costumeiros e os estandartes que abrem a cerimônia têm-se o
costume comumente aceito de estarem no cortejo às representações do santo onde
se dirige a romaria (exemplo Bom Jesus), seguido, do santo padroeiro local, de
onde parte a romaria e vindo acompanhado da Virgem de Aparecida,
padroeira do Brasil.
“...o bumbo chorava em malabarismos
expressivos grandes golpes seguidos dum gemer de batidinhas repicadas a que
finalizava sempre o golpe seco em contratempo, no último quarto de um
compasso”. Mario de Andrade. O Samba Rural Paulista
Consta ter havido a introdução
da Festa do Divino Espírito Santo (Pentecostes) no reino de Portugal por conta
da Rainha Isabel, após litígio entre o Rei Dom Dinis
I pelo desagrado do legítimo herdeiro ao trono de Portugal, o infante
Dom Afonso, resultando na guerra civil entre 1319 e 1324 entre pai e filho,
pois Dom Dinis optava por Dom Afonso Sanches, um filho bastardo do
rei que foi depois legitimado e era o predileto de Dom Dinis I ao trono de
Portugal. Houve várias escaramuças, onde a Batalha de
Alvalade esteve prestes a
travar-se em 1323, entre as tropas de Dom Dinis I e Dom Afonso IV, mas a
batalha foi impedida pela intervenção da Rainha Santa Isabel.
Por causa deste momento
belicoso entre ambos a Rainha clamou ao Espírito Santo que restabelecesse a
paz, o que foi atendida. Em honra a este fato e em sinal de gratidão mandou
confeccionar uma cópia da coroa do Reino de Portugal, colocando ao alto
uma pomba branca, o símbolo do Divino Espírito Santo, para sair pelas
terras da Coroa de Além Mar, arrecadando donativos aos menos favorecidos do
Reino. que após o falecimento do rei entrou para o convento tornando-se
Monja de Santa Clara (Santa Isabel de Aragão) e construindo a Igreja do
Espírito Santo em Alenquer.
No domingo antecedente ao de Pentecostes, após a
preparação através de novenas, tem início à benção da bandeira através do
pároco local, seguido do levantamento do mastro e do acender da luz divina,
representado por uma fogueira central. Há sempre a presença da banda que inicia
a esperada festa do Divino de algum rincão rural e/ou de município urbano e que
se apresentam em coretos com músicas festivas pela alegria da Festa do Divino
Espírito Santo.
Império
O Imperador do Divino é o maior referencial secular
da festa do Divino Espírito Santo. Há alguns referenciais que sacralizam o
momento numa somatória de eventos que possuem um modo cadenciado e respeitado
ao longo do percurso da festa como a benção da Coroa, alvoradas através de
fogos anunciantes do momento inicial, onde os participantes das novenas
caminham para a missa de Pentecostes.
Coroação do Imperador, geralmente é realizada pelo sacerdote da Matriz, simbolizando o ritual de representação quando o Espírito Santo desce a terra, em línguas de fogo, dando início a Igreja de Cristo em Pentecostes, no meio dos apóstolos e deste modo é um simbolismo personificado na figura do Imperador. Este, por sua vez, é apresentado ao povo geralmente através de sorteio dos pretendentes a serem o Imperador, sendo que darão os subsídios de sustentação aos festejos, através de prendas (colheita) entre toda a comunidade, contribuição esta, ofertada ao responsável dos festejos, o Imperador de determinado ano, que deve arcar com grande parte da preparação dos festejos, onde há o envolvimento de várias famílias e membros da comunidade, com o trabalho voluntário, onde são preparados os recursos da articulação comunitária. Andam-se de casa em casa com o Capitão do Mastro apresentando a Bandeira do Divino, com os seus sete dons, (Saberia; Inteligência; Ciência; Conselho; Fortaleza; Piedade; Temor de Deus) onde a acolhida é feita pelo dono da residência visitada e faz a oferenda que lhe apraz ou que tenha disponível ofertado com o carisma e boa vontade de cada um.
O mastro do Divino é costume antigo desde os tempos medievais, onde os cruzados seguindo para o Santo Sepulcro marcavam cada território em referência a determinado santo, com um mastro que representava sua presença.
SANTO AMARO HOMENAGEIA UM DOS MAIS DESTACADOS FOLCLORISTAS BRASILEIROS: RUA PROFESSOR ALCEU MAYNARD ARAÚJO
Alceu Maynard Araújo nasceu na
cidade de Piracicaba em 21 de dezembro de 1913. Sua família mudou para a cidade
de Botucatu, onde Alceu tornou-se professor primário e começou a se
interessar pelo rico folclore do interior paulista. Veio para a
capital paulista, para residir e trabalhar na Associação Cristã de Moços e
estudar na Escola Superior de Educação Física de São Paulo e na Escola de
Sociologia e Política de São Paulo onde estudou etnografia e sociologia que o transformaria
em um dos mais importantes especialistas em folclore da história das ciências
sociais no Brasil.
Tornou-se
membro da Comissão Nacional de Folclore em São Paulo, em 1948; técnico de
Administração do setor de Pesquisas sociais do Instituto de Administração da
Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativa da Universidade de São Paulo;
assistente do antropólogo professor Emílio Willems; membro fundador da
Sociedade de História e Folclore de Taubaté; do Conselho Superior do Centro de
Pesquisas Folclóricas Mário de Andrade, da Comissão Nacional de Folclore e
criador da "Página Folclórica" do "Correio Paulistano". Em
1949 tomou parte no Segundo Congresso Nacional de Folclore e, em 1950, obteve o
primeiro prêmio no Quinto Concurso de Monografias de Folclore. Seu trabalho
"Alguns Ritos Mágicos: Abusões, Feitiçaria e Medicina Popular".
Ingressou na Academia Paulista de Letras, deixando vasta obra
de grande relevância de artigos acadêmicos, prosa, poesia, artigos da cultura
popular brasileira.
Obras
do professor Alceu
Maynard Araújo
Chuvisco
de Prata, 1931, Caminhos Apenas, 1939, Seis Lendas Amazônicas, 1943,
Acampamento Ajuricaba, 1946, Cururu, 1946,
Danças e Ritos Populares de Taubaté, 1948, Folias de Reis de Cunha, 1949, Rondas
Infantis de Cananéia, 1952, Documentário Folclórico Paulista, 1952,
Instrumentos Musicais e Implementos, 1954, Literatura de Cordel, 1955, Canta
Brasil, 1957, Ciclo Agrícola, calendário religioso e magias ligadas às
plantações, 1957, Cem melodias folclóricas, 1957, Poranduba Paulista, 1958, Alguns Ritos Mágicos, 1958, Folclore do Mar, 1958, A Congada Nasceu em Roncesvales, 1959,
Medicina Rústica, 1961, Brasil –
Paisagens e Costumes, 1962, Novo
Dicionário Brasileiro (Verbetes de folclore) Melhoramentos, 1962, Folclore
Nacional, 1964, Escorço de Folclore de
uma Comunidade, 1962, Discursos de Posse
na Academia Paulista de Letras, 1965,
Artesanato e Desenvolvimento – “Ocaso cearense” – José Arthur Rios”, 1970, Pentateuco Nordestino, 1971 e Cultura Popular Brasileira, 1971.
O Professor Alceu Maynard Araújo faleceu na Capital Paulista em 23 de fevereiro de 1974 e seu legado ficou para sempre.
Outras crônicas nos links:
http://carlosfatorelli27013.blogspot.com/2013/09/o-sagrado-e-secularizacao-em-pirapora.html
http://carlosfatorelli27013.blogspot.com/2013/03/festa-do-divino-espirito-santo-festa.html
https://dicionarioderuas.prefeitura.sp.gov.br/