"QUEBRAR" O
OBJETO HISTÓRICO PARA ENTENDER O TODO
São Paulo no século 19 estava transformando-se para ser a metrópole atual
e reformulava seus espaços como o “Jardim Público”, depois Parque Jardim da Luz, modelo urbanístico inglês denominado
“square”, remodelado no tempo de João Teodoro, (governo de 1873-1875) e a Ilha
dos Amores, criada em 1874.
Na Assembleia Provincial, ambos eram os alvos preferidos
de deputados da oposição, que ridicularizavam as construções empreendidas pelo
engenheiro de obras públicas Antônio Bernardo Quartim, devido aos custos
exagerados.
Ponte ligando o passeio público à margem do Rio Tamanduateí com a
luminária francesa “Jovem Pajem” renascentista no alto de um pedestal em
alvenaria, vista tracejada à direita da imagem.
Leito para retificação do Rio Tamanduateí, na Várzea do Carmo, atual Parque Dom Pedro II. 1890. Nasce na Serra do Mar e desagua no Tietê. Sua bacia hidrográfica possui(a) 320 km2.
Na Ilha
dos Amores, (localizada na Várzea do Carmo, que depois de aterrada
tornou-se parte do Parque Dom Pedro II) monumentos estavam expostos nesse
passeio público, formada pelo rio Tamanduateí, o rio das sete voltas na proximidade
da Rua 25 de Março, que percorria uma extensão de 35 quilômetros até desaguar
no rio Tietê, possuindo uma várzea constantemente inundável, principalmente em
épocas de cheias por causa das chuvas de verão.
TAMANDUATEI planta de Affonso A. de Freitas, destacando intervenções sobre o trecho do Rio Tamanduateí no século XIX retificado no ano de 1848 e de 1896 a 1914
Nesta ilha
localizada, grosso modo, entre a Ladeira do Carmo (atual Avenida Rangel Pestana)
e Rua Municipal (hoje Rua General Carneiro) foi implantado a obra “Jovem Pajem”,
importada da França. Era uma figura do século 16, fixado em um pedestal de
alvenaria, um tanto grosseiro. Esta obra pertencia ao escultor Mathurin Moreau
(1821-1912), sendo o principal modelador de arte da fundição francesa Societé
Anonyme des Hauts-Fourneaux &
CATÁLOGO: Fonderies du Val d’Osne.
"JOVEM PAJEM", SEGUNDA FIGURA DA ESQUERDA PARA A DIREITA
Centro de Estudos Jurídicos da Prefeitura
(CEJUR): Pátio do Colégio, nº 5
Com as várias
intervenções ocorridas na várzea do Carmo e com a retificação do rio
Tamanduateí, entre 1896 a 1914, os administradores fizeram com que desaparecesse
por completo a Ilha dos Amores e a obra “Jovem Pajem” foi transladada para o Largo
do Arouche e colocada sobre outro pedestal de ferro fundido, idealizado na
intendência de Pedro
Augusto Gomes Cardim.
Reapareceria,
a obra “Jovem Pajem”, algumas décadas mais tarde, apartada de seu pedestal,
decorando o jardim lateral do Centro de Estudos Jurídicos
(CEJUR), na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, nº 42, na antiga casa da Baronesa
de Limeira, onde permaneceu até ser transferida para novas instalações em 2012,
no Pátio do Colégio, nº 5.
Centro de Estudos Jurídicos
da Procuradoria Geral do Município de São Paulo (Cejur) -SEDE ATUAL: “Pateo do Collegio”, nº 5
A obra "Jovem Pajem" está muito bem conservada, o que não se poderia
dizer de outra obra também da Val d’Osne, totalmente desfigurada pelo vandalismo, na Praça Coronel Lisboa, em
Santo Amaro, denominada “Aurora”.
"AURORA", PRIMEIRA FIGURA DA ESQUERDA PARA A DIREITA
Há sempre
algo que parece destoar daquilo que por algum motivo se tornou em determinado
momento um “símbolo representativo” e que por alguma circunstância já não “perdem”
esta qualificação. São Paulo, sendo uma cidade de muitas transformações na sua
estrutura urbanística, tem como consequência disto desmembrar seus símbolos e
deslocá-los em partes em torno da cidade, obras “esquartejadas”, um pedaço em
cada lugar, sem representação alguma com o local exposto na intervenção
ocorrida. Estes vestígios históricos, graças a minúcias elaboradas por outros pesquisadores,
por vezes nos proporcionam provas para complementar um investigação, mas que ainda
deixam lacunas e faltam subsídios nestes escombros históricos para completar
determinado momento.
Havia no CENTRO
de Santo Amaro, um “Marco Zero”, sem uma referência precisa de seu sentido
histórico, mesmo sabendo que Santo Amaro foi cidade independente administrativamente
entre 1832 a 1935 e “necessitava” de uma referência demarcatória. Este marco estava no Largo 13 de Maio
(antes denominado Largo da Bola), como sendo a referência de onde se contava os
pontos numéricos de Santo Amaro. Este “Marco Zero” não foi construído como “prova
física” desta condição demarcatória. O Largo 13 de Maio, por si, já é a confluência
de todos os pontos de Santo Amaro e sua demarcação principal é a Matriz de
Santo Amaro, onde houve a instituição local jesuítica.
O “Marco Zero”
de Santo Amaro é o pedestal, fundido na administração do intendente de obras de
São Paulo, Pedro Augusto Gomes Cardim e que serviu de base a obra francesa “Jovem Pajem” de Mathurin Moreau!
Gomes Cardim fundou a “Academia de Belas Artes”
que passou a denominação de “Escola de
Belas Artes de São Paulo”, em 1932, ficando responsável pelo acervo da
Pinacoteca do Estado, sendo Gomes Cardim seu diretor até 1939.
O edifício da Pinacoteca de São
Paulo originalmente foi construído para abrigar o Liceu de Artes e Ofícios (Arts
& Crafts Schools) movimento criado por William Morris, com princípios sociais
da divisão do trabalho, instituição criada em 1873 em São Paulo, onde instituiu-se
cursos de marcenaria, serralheria, gesso, desenho, moldagem, modelação e fundição,
entre outros.
FOTOS: ACERVO Liceu de Artes e Ofícios
A partir de 1890, assume a
direção do Liceu o arquiteto Francisco Paula Ramos de Azevedo, responsável por
uma nova reforma curricular e administrativa da escola que a faria prosperar muito.
Ramos de Azevedo também foi um dos fundadores da Escola Politécnica da futura
Universidade de São Paulo.
Considerações:
O Marco Zero de Santo Amaro, foi
fundido em São Paulo, na intendência de Gomes Cardim, para servir de pedestal
para a obra francesa do escultor Mathurin Moreau, o “Jovem
Pajem”!
Luminária em ferro fundido
representando um pajem do século 16, implantada originalmente na Ilha dos
Amores, depois transferida para o Largo do Arouche. Foto de autor não
identificado, da década de 1920.
Referência Bibliográfica:
MAPPA DA CAPITAL DA P.cia DE S. PAULO seos Edifícios
publicos, Hoteis, Linhas ferreas, Igrejas Bonds Passeios, etc. publicado por
Fr.do de ALBUQUERQUE e JULES MARTIN em 1877
MOURA, Paulo Cursino de. São Paulo de Outrora. Belo Horizonte:
Itatiaia; São Paulo: EdUSP,1980.
Informativo
AHM n.º 4,
no texto Jardins Públicos paulistanos
no tempo de João Teodoro.
COLABORAÇÃO TÉCNICA:
Centro de Estudos Jurídicos
da Procuradoria Geral do Município de São Paulo (Cejur) – “Pateo do Collegio”, nº 5, CEP 01060-040
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/negocios_juridicos/procuradoria_geral/cejur/index.php?p=408
Departamento do Patrimônio Histórico- Av. São João,
473 - CEP: 01035-000 -8º andar/Seção de Crítica e Tombamento.
PARA COMPLEMENTO VIDE:
São Paulo dos Campos de Piratininga ou São Paulo das Várzeas do Tamanduateí
http://carlosfatorelli27013.blogspot.com.br/2012/12/sao-paulo-dos-campos-de-piratininga-ou.html
A INTENDÊNCIA, A RETIFICAÇÃO DO TAMANDUATEÍ E A ILHA DOS AMORES
http://carlosfatorelli27013.blogspot.com.br/2012/12/a-intendencia1-retificacao-do.html
OBSERVAÇÃO:
O foco principal
desta publicação é a historiografia com o diálogo entre o passado e presente,
ilustrados pela imagem para completar o conceito de tempo e espaço. Dentro
deste conceito há a pesquisa e o projeto “A Fotografia Como Concepção
Histórica” para proporcionar a crítica da crônica, na dialética de conceitos
variados. O objetivo deste
veículo é disponibilizar o conhecimento para toda a comunidade. É de
responsabilidade de cada leitor o eventual uso que venha a fazer desta
informação. Em qualquer caso é obrigatória a citação bibliográfica completa,
incluindo o autor e as fontes de referências. Se houver algo que não condiga
com o crédito referido nesta matéria favor comunicar.