Centenário da Trajetória do Artista de
Santo Amaro
Julio Guerra, nascido
em 20 de janeiro de 1912, filho de Narciso Guerra e Maria Fenucci Guerra. Residiu na Rua da Palha, nº 6, atual Paulo
Eiró. Os assentos foram registrados por “Officio
de Escrivão de Paz Tabelião Official da Comarca de Santo Amaro”, assim deposto:
“Aos vinte dias de
janeiro de mil novecentos e doze, nesta cidade de Santo Amaro, em meu cartório
compareceu Julio José Guerra e me declarou: Que hoje às dez horas da manhã, em
uma casa desta cidade, à Rua Paulo Eiró, número seis, nasceu uma criança de
sexo masculino que terá o nome de Julio. É filho legitimo de Narciso Guerra,
negociante e de Maria Fenucci Guerra; ele natural desta cidade onde casaram e
residem e ela natural de Lucca, Itália. São avós paternos Antonio Augusto de
Miranda Guerra e Dona Innocencia Clara de Oliveira e maternos Lourenço Fenucci
e Annabéla Fenucci. Nada mais declarou e
assina este termo com as testemunhas. Eu, Octavio Machado, escrivão de paz o
escrevi. (a.a.) Julio José Guerra : : Luis Vieira Branco : : Juvenal Luz. À
margem na coluna destinada a averbações
a seguinte averbação: “ Com o nome de Julio Guerra, casou-se hoje neste
cartório com Benedita Hessel, que usará o nome Benedita Hessel Guerra, conforme termo nº
1080. Santo Amaro, 19 de maio de 1938”. Este documento foi subscrito, conferido
e assinado pelo Oficial Maior Lourenço Sgarbi.
Seu pai mantinha um bar situado no Largo 13 de Maio, nº1, com telefone nº 93, bem no centro de Santo Amaro, que, aliás, mantinha ""mesa com velho balcão de bilhar".
O
criador e a criatura: Autor e Obra
Em 1930 matriculou-se
no Curso de Pintura de Belas Artes de São Paulo. Em depoimento ao amigo Almario
citou: “No meu tempo da Escola de Belas Artes,
de vez em quando eu dava uma chegada ao atelier do Rebolo, que ficava na Praça
da Sé, e era formado pelo (Palacete) Santa
Helena, próximo a Escola” .
Sempre elevou o nome de
seus mais ilustres mestres, jamais os esqueceu, sendo discípulo em escultura de Amadeu Zani (Amedeo Zani) e Nicola Rollo.
GERMANA -AUTOR: AMADEU ZANI- BRONZE-1910 - PINACOTECA
PALÁCIO DAS INDÚSTRIAS CARRO DO PROGRESSO-NICOLA ROLLO
(Parque D. Pedro/SP)
Colou grau em 1938, ano
em que se casou com Benedita Hessel. Obteve o premio para especialização no
exterior, e em 1942 foi convidado por Victor
Brecheret
para colaborar no Monumento ao Duque de Caxias.
MONUMENTO A DUQUE DE CAXIAS: COLABORAÇÃO DE JULIO GUERRA
Estes mestres trouxeram sua
maior arte da imigração da Itália, uma escola de respeito mundial e tornaram
mestres na arte da escultura e moldagem de fundição em bronze.
Em 1946, na capital argentina
houve um banquete no Automóvel Club de Buenos Aires oferecido pelos artistas
argentinos e embasado pelo embaixador do Brasil, ministro Furks, para promoção da
exposição onde estavam presentes Julio Guerra, Joaquim da Rocha Ferreira e Juan
Batista Ferri. Expôs no Atheneu de La Boca. Em 1947 segue para a Europa,
fixando-se em Roma trabalhando no ateliê da Via Marguta.
No XV Salão Paulista de
Belas Artes de 1949 foi apresentada a escultura “Nativa”, escultura em gesso patinado 1947,(acima) atualmente peça pertencente
a Pinacoteca de São Paulo. Neste mesmo Salão foi premiado em 1941, 1943, 1946,
1950, 1953 e 1959.
A “Mãe Preta” colocada
próxima a igreja do Rosário, no Largo Paissandu, foi obra idealizada para
comemorar o Quarto Centenário de São Paulo. Há outra Mãe Preta reproduzida por
pedido da Prefeitura Municipal de Campinas.
Julio Guerra sempre recebeu
honrarias em bienais além de possuir a obra exposta “Mulher com Criança” no
Museu de Arte Contemporânea de Figueira da Foz, em Portugal.
A Secretaria dos
Negócios da Educação e Saúde Pública, Conselho de Orientação Artística de São Paulo,
fazia saber através de oficio nº 1177, datado de 27 de novembro de 1942,
lavrado os seguintes termos:
Tenho a grata
satisfação de levar ao conhecimento de V.S., Conselho de Orientação Artística de
São Paulo, reunido em sessão nº 90 de 27-11-1942, deliberou aprovar, fosse
indicado o nome de V.S., para membro da Comissão
Organizadora do 9º Salão Paulista de Belas Artes, no termos do artigo 6º do
decreto nº 7106 de 12 de abril de 1935, e Decreto nº 12611, de 31-3-1942.
Deste honroso convite
outros se sucederam para integrar as futuras comissões honraria repartida com
renomados nomes da época para integrar as comissões de seleção de Secção de Escultura,
assinatura do então do Secretário e Membro do Conselho de Orientação Artística de
São Paulo, Carlos A. Gomes Cardim Filho.
O professor Julio
Guerra assentou cátedra na Escola de Belas Artes de São Paulo, fundada em 23 de
setembro de 1925, em Desenho do Gesso e
do Natural e Modelagem e tendo com seu diretor o professor Lázaro de
Freitas.
Em matéria da Revista
Interlagos de 1951, era registrada e apresentada na 16ª exposição na Galeria
Prestes Maia, Salão Almeida Junior, com presença do senhor governador Lucas
Nogueira Garcez, a obra Iguatinga.
CONVITE: Membro de Comissões de Arte Moderna
Em oficio de 10 de outubro
de 1952, nº 1976, a Secretaria de Estado dos Negócios do Governo, Serviço de
Fiscalização Artística, Praça da Luz, nº2, São Paulo, rezava os seguintes termos:
“Tenho a grata
satisfação de levar ao conhecimento de V.S., que por ato do Senhor Secretário de
Estado dos Negócios do Governo de 9-10-1952, publicado no Diário Oficial de 10-10-1952,
foi V. S. designado para Membro da Comissão Organizadora do II Salão Paulista
de Arte Moderna, conjuntamente com os Senhores: Francisco Matarazzo Sobrinho
(Presidente), Clovis Graciano, Arnaldo Pedroso D’ Horta e Dr Abelardo de Souza”.
Este documento foi
firmado pelo então Diretor Encarregado do Serviço de Fiscalização Artística, Sr
Oswaldo Lacerda Gomes Cardim..
Em 24 de novembro de
1961, no oficio nº 2269, havia a seguinte proposta:
Ilmo. Sr.
Escultor Prof. A Julio
Guerra
DD. Membro da Comissão
do Monumento ao Apóstolo São Paulo, no Morro
do Jaraguá.
Venho comunicar V.S.,
que ficou marcada uma reunião da Comissão do Monumento ao Apóstolo São Paulo, no Morro do Jaraguá, do
qual V.S. é digno Membro, para o dia 28 do corrente, terça feira, às 15 horas,
na sede do Serviço de Fiscalização Artística,à Praça de Luz, 2, de acordo co a
respeitável Resolução nº 1297, de 9 de outubro de 1961, do Excelentíssimo
Governador do Estado, publicado no Diário Oficial de 10-10-1961.
Este documento tinha a assinatura
do Diretor Encarregado do Serviço de
Fiscalização Artística, Sr. Oswaldo Lacerda Gomes Cardim.
“Barbeiro Anédes”, na Biblioteca Prestes Maia(antiga Presidente Kennedy)
Don Anédes Nemendes de Aragóia Y Navaja:
Ex Barbeiro da Real Casa de Bascelar-1850-1930
Criou o personagem “Barbeiro
Anédes”, um tipo popular, filósofo que fazia arranjos em seu bandolim de
músicas espanholas. Este ilustre personagem parece ter vivido pelos arredores de
Santo Amaro na segunda metade de 1920, com sagacidade irônica e pessimista e
mesmo sendo um profissional em sua arte de barbeiro tinha um caráter amador, deixando
o preço do corte a vontade do cliente.
ATELIÊ DA CONSTRUÇÃO DE BORBA GATO:AV. JOÃO DIAS-SANTO AMARO/SP
“Quanto mais xinga,
mais promove. O importante é a xingação. O que não pode é haver é a indiferença”.(Julio
Guerra).
Obra Tumular no "Campo Santo de Santo Amaro": Elizeu Schmidt
Jesus Cristo deitado, afagado por Maria
Santo Amaro possui o maior
acervo a céu aberto das esculturas do artista Julio Guerra, que este espaço não comportaria, urge conservá-las!
Aceita-se a critica da crônica para
aproximar o objeto do sujeito em estudo!
Bibliografia:
Catálogo: Um Modernista
Marginal- Exposição realizada na Pinacoteca do Estado, 22 de outubro a 13 de
novembro de 1994.
Paulistania, (órgão oficial
do Clube Piratininga) ano 1961, nº 65
O Santo Amaro. São
Paulo, Santo Amaro, fevereiro de 1950
Créditos: Maria Hessel
Guerra Sanches e família
Revista Interlagos, 1951
Em 23 de setembro de 1925, foi fundada a Academia
de Belas Artes de São Paulo, por Pedro Augusto Gomes Cardim, artista ativo na
vida artístico-cultural de São Paulo no início do século XX. A Academia dividiu
o mesmo prédio com a Pinacoteca do Estado de São Paulo até a década de 80,
quando a Faculdade de Belas Artes mudou-se para a Vila Mariana.
Ali teve início o Grupo Santa Helena, que Mário de
Andrade chamou este grupo de "artistas proletários", pois o local era
frequentado por operários de bairros pobres.