"Tornarem se senhores da memória e do esquecimento é uma das grandes preocupações das classes, dos grupos, dos indivíduos que dominaram e dominam as sociedades históricas. Os esquecimentos, os silêncios da História são reveladores desses mecanismos de manipulação da Memória Coletiva." Jacques Le Goff
Uma construção merece acima de tudo de material para ser idealizado e pode ser constituído de bom material ou não, e disto resultar a obra que pode primar pela qualidade ou simplesmente ocupar um espaço sem muita importância, apenas fazendo parte de uma paisagem, que por vezes precisará ser demolida para novamente ser construída com a qualidade que merece.
Todo registro histórico tem que ser baseado em fatos reais, pois se assim não for representada simplesmente um mito, algo para preencher um vázio que não se consegue explicar. Podemos criar a ilusão como fazemos com as crianças para demonstrar-lhes alguns momentos que se perpetuaram ao longo do tempo como uma fantasia para que seja demonstrado. A solidez dos conceitos passam obrigatoriamente por falsas idéias de construção imaginativa, e deste modo demonstrar a ilusão destes momentos que o poder idealizou como coisas obrigatórias, e é deste modo promovem algumas festas de confraternização, mas sabendo que o fato "verídico" é irreal e somente esta presente no inconsciente coletivo por força de um sistema de interesses. O que se deve ter em conta é que o poder se auto promove e difunde-se por vários meios uma condição irreal e se apropria de determinados valores opressivos para determinar o fato como verdade absoluta, como se isso fosse possível; enganando para manipular a massa.
Como o conceito já esta impregnado como fonte fidedigna e sem contestação evita-se aceitar outro modelo mais próximo dos fatos que se envolvem e buscam abarcar o momento histórico como padrão para ser transmitido as tantas gerações como fato consumado.
O dia 18 de maio foi instituído como DIA INTERNACIONAL DOS MUSEUS, onde se concentra um saber do que foi um determinado momento contemporâneo e que houve por bem ser preservado para que admirássemos tudo quanto precedeu antes de nosso instante contemplativo, de nossa contemporaneidade, do saber que os Templos das Musas insistem em preservar como valores, local onde se concentra toda beleza que deve ser admirada por gerações vindouras, e que irão admirar, ou não, nossa obra para a posteridade. Muito será emoldurado em detalhes para que o objeto tenha seu merecimento reconhecido.
O que não se pode aceitar é emoldurar o irreal, inclusive não há o direito de omitir-se nem interpretar episódios acontecidos. Se fato não aconteceu ou e se houve o fato, o feito não pode ser alterado em uma fantasia que não condiz com as condições daquele momento histórico, construindo um quadro bem pintado que se torna simplesmente algo decorativo de uma sala pomposa, que se quer enaltecer e engrandecer o fato para torná-lo verdadeiro, mas que no mais alto contexto histórico é apenas uma obra decorativa, de um grande artista contratado em determinada época para relevar interesses de um poder absoluto que pretende criar seus heróis. Isto é feito para dar distinção a uma identidade nacional sem uma estrutura de participação efetiva social, aliás uma dimensão inexistente, pois as transformações brasileiras nunca foram revolucionárias a ponto de engendrar as condições participativas aprofundadas das bases populares. Estes fatos sempre, e todo momento histórico. saíram das muralhas do poder controlador das forças de reação que num primeiro instante usam a massa disforme para se apoderar de todo movimento destituindo-a de suas revindicações logo que se apoderam das ações.
A beleza do projeto do Museu Paulista foi de Tommaso Gaudenzio Bezzi e Luigi Pucci Tendo sido iniciada sua construção no ano de 1884, é um conjunto a ser admiravel do Museu Paulista contratado pela comissão de Obras do Monumento do Ipiranga, por intermédio de seu presidente o barão de Ramalho. Bezzi recepcionou o conde D’Eu em março de 1889, o qual se mostrou defensor, assim como Bezzi, de se efetivar a execução dos relevos decorativos destinados ao frontão do edifício. (Boletin - S. A. o sr. conde d’Eu -Correio Paulistano, São Paulo,27 de março de 1889).
O inglês Archibald Forrest comentou em 1912:
"Aos domingos e feriados, o passeio favorito do povo - italianos, negros, portugueses, alemães, paulistas e ingleses - é ir de carro da Praça da Sé até o Museu do Ipiranga. A viagem ocupa cerca de meia hora, e o percurso é feito saindo-se do Largo 7 de Setembro, descendo pela Rua da Glória, com suas pequenas casas uniformes, passando pelo Matadouro, e seguindo pelas alamedas arborizadas de ambos os lados e que vão em direção aos bairros, onde os edifícios avançam em todas as direções e os operários executam suas tarefas, apesar de ser domingo. Fora da cidade, chácaras de hortaliças, ricos gramados verdes, terra vermelha, abetos e pinheiros por todos os lados, o gado pastando no prado, vilas com telhados cor-de-rosa e fábricas surgindo entre os campos verdes. A maioria dos passageiros desce para os jardins do Ipiranga, situados em um terreno com largas calçadas, que vai se elevando suavemente, marginado por ciprestes, canteiros de flores muito bem tratados e todos os tipos de arbustos".
Compartilhamos deste mesmo entusiasmo e como permissão analítica onde estão todo o acervo onde os catálogos constam de 125 mil peças, entre objetos, iconografia e documentação dos períodos do século XVII até meados do século XX da História do Brasil, centralizadas na História de São Paulo, além de biblioteca tem mais de 100 mil volumes e documentação Histórica. Porque se limitam a demonstrar tão pouco acervo e por vezes modular salas com temas sem relevância da historiografia como expor contextos como invólucros de doces e dar tanta importância a quadros fabricados as pressas por contratos para preenchimento de espaços no advento republicano, um contraste a ser pensado, e com estruturas de obras onde pouco ou nada representam de concreto como o “quadro mais importante do acervo” onde retratou dom Pedro como um herói em comitiva suprema e este contexto foi encomendado a Pedro Américo bolsista em Florença, Itália, que criou o mito deste grito, e se retratou neste momento de 1822 levantando um guarda chuva em contumaz movimento acompanhando o desembainhar de uma espada imperadora, onde o de maior relevância esta do lado esquerdo do observador:
Um homem a direcionar o seu carro de boi em lida diária é o carreiro com seu carro de bois, retrata as margens plácidas perturbada pelo acontecimento retratando o que talvez fosse o real do povo brasileiro onde o espantado demonstra destoado do fato.
O seu primeiro diretor foi Hermann Friedrich Albrecht von Ihering. A ele dirige-se Orville Derby em carta de 23de janeiro de 1893 na qual, desvenda completamente o caminho e as motivações que levaram à fundação do Museu Paulista, e não vê interesse por parte do governo paulista:
Em primeiro lugar, o governo de São Paulo não está especialmente interessado nem em estudos zoológicos nem no museu, considerando este último mais bem como uma espécie de elefante branco [...] uma opinião com a qual eu intimamente concordo. Ele consiste de uma coleção privada feita por um “curioso” e vendida por ele junto com a casa para um rico especulador durante o “boom” [do café], o qual fez presente da coleção ao governo e ficou com a casa. O governo, não sabendo o que fazer com ela e não desejando incorrer em despesa, “encostou” o museu na Comissão, e eu muito relutantemente aceitei o encargo a fim de preservar o que havia de valor nas coleções e para manter viva a idéia de um museu, que no futuro poderá se transformar em algo melhor. [...] Quando apelos me foram feitos para arranjar algo para o senhor aqui em São Paulo, tomei a idéia do museu e do trabalho zoológico na Comissão como os meios práticos para fazer o que me haviam pedido a fim de ajudar um colega que se supunha necessitado de um tal serviço. O que propus foi tanto quanto pude, naquelas circunstâncias. [...] A autorização para nomear um zoologista [...] foi um sinal de consideração a mim, não um interesse no Museu ou em pesquisa zoológica. [...] Como o sr. vê, o lugar oferecido foi criado ad hoc para o senhor, e se não aceitá-lo nenhuma indicação será feita. Apenas três pessoas em todo São Paulo, Dafert, Löfgren e eu, sentiremos muito sua decisão, os outros não ligarão a mínima ao assunto, quer a favor ou contra. Não entrei antes nesses assuntos porque não desejava que viesse para cá com algum tipo de obrigação pessoal para comigo [...] mas [...] vi pelas suas cartas que compreendeu de forma absolutamente errônea a situação. Ficarei encantado se você decidir vir e nos dar a sua cooperação no trabalho científico de São Paulo, o único lugar em que mais de um indivíduo está tentando fazer alguma coisa em todo o Brasil. Se, ao considerar toda a problemática, você decidir aceitar, por favor telegrafe a palavra “recebido”.
A inauguração do Museu ocorreu em 15 de novembro de 1890 e por ordem do governo republicano foi determinado como abrigo do Museu do Estado pelas doações do Coronel Joaquim Sertório e do coronel Pessanha e em 7 de setembro de 1895 foi inaugurada a instituição como museu de história natural adotando o nome de Museu Paulista, que deve estar em busca da República independente defendida em São Paulo na Convenção de Itu.
O estilo não é só o homem, o estilo é também a época" (naturalista francês Buffon)
NOTA:
BIBLIOGRAFIA:
1) LIMA DE TOLEDO, Benedito. Museu do Ipiranga. Um futuro para o projeto de Tommaso Gaudenzio Bezzi e Luigi Pucci. Drops, São Paulo, 10.028, Vitruvius, jun 2009
2) TAUNAY, Afonso d’ E. Guia da Seção Histórica do Museu Paulista. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 1937.
3) WITTER, José Sebastião (dir.). Museu Paulista, um monumento no Ipiranga: história de um edifício centenário e de sua recuperação. São Paulo: FIESP, 1997.
4) LOPES, Maria Margaret e FIGUEIRÔA, Silvia Fernanda de Mendonça. A Criação do Museu Paulistana Correspondência De Hermann Von Ihering (1850-1930) -Departamento de Geociências Aplicadasao Ensino/Ig-Unicamp
5) Os esplendores da imortalidade, de José Murilo de Carvalho
http://www1.folha.uol.com.br/fol/brasil500/dc_6_2.htm