quarta-feira, 27 de março de 2013

Dilúculo e Crepúsculo: FOTO-SÍNTESE

Luz do Tempo: Alvorada, Aurora e Ocaso

BOMBINHAS/SC
BRASÍLIA/DF
CAMPINAS
CLUBE DO MÉ REFORMA/SP
ECLIPSE/SP
ENERGIA DE DEUS E DO HOMEM/SP
ITANHAÉM/SP
JARDIM BRASILIA /SP
MEMORIAL AMERICA LATINA/SP
MOIRÃO /MG
JARDIM SÃO LUIZ/SP
PONTE JOÃO DIAS/SP
PARQUE  IBIRAPUERA/SP
REPRESA GUARAPIRANGA/SP
RIO TIETÊ/SP
RODOANEL/SP
AVENIDA SABARÁ /SP
SALAR DE UYUNI 3653 m/ BOLÍVIA
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
BELÉM-BRASÍLIA
CERRADO/ CONQUISTA
CENTRO EMPRESARIAL DE SÃO PAULO/SP
AVENIDA TIRADENTES/SP
VALE DO RIO RIBEIRA

sábado, 23 de março de 2013

A DIÁSPORA DOS IMIGRANTES ITALIANOS: OS BRACCIANTI EM SÃO PAULO (3)

OS CONTRATOS E O REGIME DE COLONATO

Sempre que estamos diante de uma árvore genealógica, parece que estamos buscando a nascente de um rio saído das entranhas da Terra que desliza das montanhas e desce de mansinho por entre as escarpas, se torna sinuoso, começando com um filete de água e de repente se torna caudaloso a correr em seus limites.
Consta nos anais que o maior contingente de imigrantes para a América, veio da região de Veneto, Itália Setentrional, e que teve grande importância na agricultura cafeeira paulista.

Deste local podem ter saídos muitos daqueles que deram alma a grande diáspora, uma dispersão coordenada por interesses de governos à época, quando a Itália estava no processo de Unificação e o Brasil em um processo de colonização, necessitando de mão de obra para outra cultura que se expandia mais ao sul do país, diferente da antiga estrutura da cana de açúcar: o café.

De muitos lugares de Veneto partiam os vapores saindo do principal porto italiano de Gênova que recebia enormes contingentes do interior de Pádua, Verona, Rovigo, Veneza, Vicenza, Treviso, Belluno e Udine que cultivavam em algumas propriedades cereais e vinhas, forragens aos animais, onde a família, geralmente numerosa para dar a força motriz à lavoura, que neste tempo se apoiava na força humana, sem muitos equipamentos, tendo apenas uma charrua atrelada a algum animal de tração e a força das enxadas para limpar e arar todo terreno. 

Esses pequenos agricultores não possuíam uma terra que pudessem chamar de sua e arrendavam as terras mediante algum pagamento ou usavam o sistema medieval de meeiros, acertando a colheita entre o dono da propriedade. Outros preferiam serem assalariados por tempo determinado, quando se usavam um maior contingente de mão de obra que era no tempo da semeadura e da colheita e eram denominados “braccianti”, (Alvim, p. 29) derivado do esforço braçal a que eram submetidos, podendo haver poucos destes com contratos firmados para serem os responsáveis em manter a plantação dentro das condições próprias não deixando que ervas daninhas invasoras danificassem o produto além de enxotar pássaros e insetos que prejudicassem a lavoura. 

A concentração de terras entre grupos seletos (de grandes proprietários da Itália) mantinham a estrutura fechada, não havendo acesso a estas propriedades milenares, por intermédio de aquisição ou outro meio. (ex. Terras Comuns)

Esses agricultores se mantinham com algum recurso provido da força de trabalho de uma prole numerosa e fabricavam em pequenos teares manuais suas próprias vestimentas de algodão ou lã, cobertura de inverno e raramente haviam sapatos substituídos por tamancos de madeira.

A base alimentar provinha do milho plantado onde o prato básico de sustentação era a polenta, raramente possuía alguma carne e quando era ofertada provinha de pequena criação, como o porco e carneiro Na colheita das primícias[1] da uva, produzia-se o vinho pisoteado no lagar e era nesta época que ainda se poderia dizer que se fartavam da bebida, tida como parte alimentar, depois somente sobrava o “vinhete” de uma segunda prensagem por um torniquete manual.

As moradias eram precárias e salubres, com chão de terra batida, com janelas e portas rústicas e de pouca mobília, e as necessidades eram feitas em reservado fora das moradias. A higiene pouca, não raras vezes causava doenças.

As terras iam com o tempo sendo diminuídas, pois eram divididas entre os filhos quando estes se casavam dando continuidade ao ritmo antigo aprendido por gerações, mas esse modelo foi aos poucos rareando os grandes campos de plantio sendo cada vez mais diminuídos.

Isto tudo dentro deste contexto agrário resultou a crise que perdurou de 1873 a 1895, quando a afluência do sistema capitalista primitivo é abarcada pelo monopólio de outros centros (países) já mais avançados de produção que ofereciam mercadorias de produtos básicos da agricultura a preços mais atrativos. Os campos aráveis, por vezes de terras cansadas italianas foram aos poucos sendo abandonados, pois a oferta de melhores preços de outros países não dava uma alternativa melhor ao pequeno produtor agrícola senão abandonar a produção costumeira de trigo, milho, por exemplo. 

Houve assim uma expulsão generalizada do campo, e um esvaziamento do meio rural. Sucumbia deste modo os pequenos produtores e os arrendatários engolidos pelo mesmo sistema vigente. Muitos colocaram a venda o que restava de propriedade e se sujeitaram a um novo modelo de vida nas Américas.

O Brasil com a observância pela Inglaterra por exigências de abolir o regime escravo de produção apressou-se em elaborar a Lei de Terras, em 1850, já prevendo a necessidade de mão de obra externa em substituição a anterior, houve por bem providenciar garantias aos grandes fazendeiros e instituir o regime de colonato. 

Pela regulamentação de aquisição de terras foi instituída a forma de aquisição fundiária de terras públicas somente mediante a compra de glebas de terras, mediante pagamento pecuniário e não mais seria permitida a concessão de sesmarias, aparentemente suspensa com a Independência do Brasil.

Este novo modelo dava aos grandes monopólios mais condições de possuírem terras através de fazendeiros proprietários que assim sobre o controle das terras aráveis cada vez mais abarcava mais terras, considerados homens “bons”, não pela qualidade de serem por virtude humana, mas por possuírem posses e assim darem as rédeas políticas locais. 

Esse modelo dificultava ao extremo o acesso a terra para os imigrantes pobres e de poucos recursos e também aos escravos sem renda.  Somente dava àqueles imigrantes que antes havia tido terras na Itália e as venderam,  em dispor de um pequeno rancho ou sítio onde recomeçaria no empreendimento, diversificando uma cultura de plantio ainda não estruturada no Brasil, acostumada com a monocultura, antes a da cana de açúcar e neste momento do século 19 pelo grande sistema cafeeiro. 

O objetivo da aquisição de terras apenas para quem tivesse posses financeiras para pagar pelas terras era também evitar que os colonos que advinham para o país fossem usados como força de trabalho e não se dispersassem em pequenas propriedades, pois o interessante para o governo brasileiro era manter as grandes fazendas com esta mão de obra barata dando sustentação a uma infraestrutura de escoamento da produção através de ferrovias que retiravam a mercadoria nas praças produtora, isto é, a “fazenda latifúndio”, e mantinha ainda a  mão de obra “importada” sobre rígidos parâmetros das instituídas em Colônias, guetos de controle. 

A Lei de Terras dava garantias aos fazendeiros, pois muitas vezes eles eram os grandes financiadores para esta mão de obra, assim com foram também financiadores da escravatura, mantendo seus privilégios perante a política de controle da produção. Deste modo é que foi articulado todo o sistema de trabalho no “regime de colonato”, aonde os imigrantes, na maioria das vezes pobres e sem recursos, chegaram ao Brasil na vigência dessa lei e foram trabalhar nos cafezais, sendo obrigado a aceitar o contrato imposto arcando com as despesas do embarque em algum vapor marítimo[2] que eram acertados entre os governos do Brasil e Itália no colóquio com os fazendeiros.

Os colonos aqui chegados passavam por um regime de observação com alguma custodia em departamentos imigratórios e depois deste tempo eram embarcados para as respectivas fazendas que possuíam o modelo de contrato através de pagamento pelo numero de  pés de café entregues onde toda família era usada com mão de obra, e até as crianças tinham tarefas determinadas, ao limparem o fundo de cada caule de pé de café e outra tarefas corriqueiras e deste modo  os colonos recebiam em função da quantidade de café colhido. 

O regime de colonato permitia aos colonos o cultivo de subsistência entre os cafezais, podendo usufruir como melhor lhe aprazia para consumo e por vezes era disponibilizado um terreno separado para esta finalidade. Isto tinha a intenção de diminuir despesas da fazenda, quando da liberação que deveria ser feita em determinadas ocasiões sem acarretar prejuízo aos cafezais.

No colonato havia a relação direta do homem com a produção e o vinculo do colono ao local diferenciando sobre maneira ao modelo assalariado, onde o proletariado possui a relação de produção com o equipamento geradora do capital, sem vinculo com a propriedade. 

Na Itália já existia um sistema parecido em suas terras e os colonos possuíam parcela da produção em contrato dos cereais e vinhas (videiras) plantadas e que serviam de consumo para toda família. São estes colonos arrendatários e pequenos proprietários da Itália que irão formar a primeira leva emigratória da Itália, de operários braçais para a grande imigração italiana ao Brasil, regidos por um contrato de trabalho que estavam acostumados a se sujeitarem no “regime de colonato” através dos arrendatários, meeiros, mantendo uma estrutura familiar dentro dos ditames impostos.


Bibliografia:

ALVIM, Zuleika. Brava Gente, Os Italianos em São Paulo. São Paulo: Editora Brasiliense, 1986.

HEFLINGER Jr., José Eduardo; LEVY, Paulo Masuti. E os Italianos Chegaram. São Paulo: Unigráfica Ind. Gráfica Ltda, 2010.

CENNI, Franco. Italianos no Brasil. São Paulo: EDUSP, 2003.

TRENTO, Angelo. Do outro lado do Atlântico: um século de imigração italiana no Brasil. São Paulo: Ed. Nobel, Instituto Italiano de Cultura, 1989.



[1] Conjunto dos primeiros produtos da terra ou de um rebanho.
[2] A família Fatorelli, chegou ao Brasil, no Porto de Santos, em 1891, na Grande Diáspora Imigratória.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Festa do Divino Espírito Santo: A Festa das Semanas e Pentecostes

Relação do Sagrado e o Secular

Os festejos comemorativos dos cinquenta dias contados a partir da Páscoa, (Hb. Pessach) da passagem de transformação para uma vida nova e da libertação da escravidão para a liberdade. 


No “religare” o céu com a terra na visão cristã da Páscoa representa uma manifestação de vencer a morte pela ressurreição através de Jesus em anúncio prévio de estarem juntos com todo o apostolado, quando Jesus permanece por quarenta dias preparando o caminho anunciado pelo testemunho real do ressurgir das profundezas da morte após três dias e ascendendo ao plano incompreensível ao homem, bastando a este caridade, esperança e fé: 

“Eu (Jesus) vou mandar sobre vós o Espírito Santo, prometido por Meu Pai; entretanto permenecei na cidade, até que sejais revestidos da virtude do alto” (Lucas, 24 - 49)

“Homens da Galilélia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu?” (Atos, 1-11)

Isto se torna deste modo uma manifestação de alegria de viver na esperança como mensagem. 

Onde surgia esta festa de preparação no conceito judaico que passa a ter referência de libertação no conceito da fé cristã?

A Festa das Semanas (Hb Shavuot) ou Pentecostes (50 dias -7 semanas - após a passagem para a liberdade de uma vida escrava no Egito para uma vida livre) é uma celebração agrícola, rural, onde se mantinha o valor relacionado a terra.

A cerimônia inicia-se quando a foice era lançada contra as espigas, as sementes provenientes da colheita (Deuteronômio 16.9). Deveria também ser respeitada a recomendação do direito de respigar dos pobres e estrangeiros, onde eles podiam recolher as sementes disponíveis que se desprendiam das ramas (espigas) para delas se alimentarem. (Levítico 23.22; Deuteronômio 16.11). Os feixes de trigo ou cevada eram apresentados como oferta a Deus, o Doador da terra e a Fonte de todo bem (Levítico 23.11), em ação de graças pelos dons da terra e relembrar a libertação do povo judeu da escravidão no Egito e a observação da obediência aos preceitos divinos (Deuteronômio 16.12). Através da festa da colheita celebra-se o ciclo da vida, reconhecendo que a Palavra de Deus estava na origem da vida “da semente” da árvore e “do fruto” do alimento e da vida em si.

Características 

“Contarás sete semanas desde o dia em que puseres foice na seara, e celebrarás a Festas das Semanas em honra ao Senhor.” (Deuteronômio 16.9)

“Na solenidade não aparecerão diante do Senhor de mãos vazias, mas cada um oferecerá segundo o que tiver e segundo a benção que o Senhor seu Deus, lhe tiver dado.” (Deuteronômio 16. 16-17)

Os celebrantes (levitas) alimentavam-se de parte das ofertas trazidas pelos agricultores que ofertavam parte do que as benesses da natureza que lhe agraciavam com boa colheita. Era uma festa aberta para todos os produtores e seus familiares, os pobres, os levitas, cuidadores dos preceitos religiosos, e aos estrangeiros (Deuteronômio 16.11). Deste modo todo o povo apresentava-se diante de Deus. Reconhecia-se e afirmava-se o compromisso de fraternidade e a responsabilidade de promover os laços comunitários, além do povo hebreu.

O calendário lunar (de 29 dias mais uma fração/mês totalizando 354 dias) nas festas judaicas:

A páscoa judaica, pelo calendário judaico refere-se ao dia 14 de Nissan (Abib) pelo sacrifício do cordeiro, celebrando a liberdade da escravidão do Egito, sendo um dia após o dia desta refeição (o cordeiro, sem marca alguma que o manchasse).

Nissan é o primeiro mês do ano judaico, março – abril, iniciado na plenitude da primavera e que abre o ciclo das culturas. (Mês da Espigas)

No concilio de Nicéia (325 d. C.) definiu-se ufanado das prerrogativas de calendário:

“A Páscoa é o domingo (dominus) seguinte ao 14º dia da lua cheia, que atinge o ápice no dia 21 de março (equinócio) ou logo depois”.

De acordo com essa regra, a Páscoa pode então ocupar, conforme os anos, 35 posições diferentes, entre os dias 22 de março e 25 de abril.

Tal fato, na Boa Nova de Jesus fortalece-se com a ideia da água viva que Ele representa: “Se alguém tiver sede, venha a Mim e beba”(Jo 7:37). 

Pentecostes (Hb. Shavuot)

O Shavuot (Pentecostes) é uma festa do antigo calendário bíblico. (Êxodo 23.14-17; 34.18-23) que geralmente está presente no mês de Sivan, entre maio e junho, no hemisfério norte a transição da primavera e verão. Era o quinquagésimo dia depois da Páscoa judaica, contando sete semanas, resultante disto também se denominar “Festa das Semanas” (Hb. Shavuot) com a colheita da cevada, findando com a colheita do trigo (Ex 34.22; Nm 28.26; Dt 16.10).

A festa culminante é representada com a alegria da colheita, que passa a ser representado como modelo da obra cristã, nascimento da Igreja através dos apóstolos que começam a pregar em vários idiomas (glossolalia) dirigindo-se a vários povos de várias línguas dispersas.

Originalmente, essa festa é referida como:

Festa da Colheita ou Sega (Hb Hag Haqasir): Nome referido a colheita de grãos, trigo e cevada. Segar, ceifar: Cortar as searas com foice de cereais semeados e já nascidos sendo feita a colheita dos mesmos.
“Observarás a solenidade da ceifa e das primícias do teu trabalho, de tudo o que tiveres semeado no campo; e também a solenidade no fim do ano,quando tiveres recolhido todos os teus frutos do campo”. (Êxodo 23.16, vide também: Números 28.26).

Dia das Primícias dos Frutos: Representa o conjunto dos primeiros produtos da terra ou de um rebanho, primeiros lucros, começos, prelúdios. Provavelmente, a oferta das primícias acontecia em cada uma das três tradicionais festas do antigo calendário bíblico. Na primeira festa, a Páscoa, entregava-se uma ovelha nascida naquele ano para ser imolada; na segunda festa, é a festa da Colheita ou Semanas, entregava-se uma porção dos primeiros grãos colhidos; e, finalmente, na terceira festa, Tabernáculos ou Cabanas, de onde o povo oferecia os primeiros frutos da colheita de frutas, como uva, tâmara e figo.

Festa dos Tabernáculo, ou Festa das Cabanas ou das Colheitas (Hb Sucôt)

A festa em alusão as Cabanas é uma festa judaica que se inicia em 15 de Tishrê, do calendário judaico representando a semana entre setembro e outubro que no hemisfério norte representa a colheita dos últimos frutos de outono antes das chuvas de inverno, e momento de preparação da terra para nova semeadura. As Cabanas eram cobertas com ramos de árvores frondosas como as palmeiras, salgueiros, numa alusão da condição natural do ser humano, e que serviram de habitação montadas no deserto do Sinai (Horeb) quando da travessia observando ainda a abstinência alimentar sendo respeitado o cozer dos pães sem fermento, a festa dos Pães ázimos (Hb. Hag Ha-Massot) representado pelo pão da aflição quando da saída do Egito, numa preparação de “não esquecimento” quando assentados novamente na Terra Prometida, preparando-se durante sete dias, relembrando o Salmo 26; 5: “ Escondeu-me no seu Tabernáculo; no dia da aflição me protegeu no segredo do seu Tabernáculo”. Quando já livres da escravidão do Egito o sacerdote relembrava a passagem tirando água da Fonte de Siloé e despejava a mesma próxima ao altar do templo, em sinal de que isto fosse representação do derramamento do Espírito de Deus como ação de graças das águas vindas dos céus pela chuva que abunda a colheita de cada ano. Orações por mais chuva eram feitas para possibilitar a colheita da próxima estação. 

A Festa do Divino Espírito Santo, cinquenta dias após a Páscoa Cristã

“Quando se completaram os dias do Pentecostes, estavam todos juntos no mesmo lugar; e de repente, veio do céu um estrondo, como de vento que soprava impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados os apóstolos. Apareceram-lhes repartidas umas como línguas de fogo, e pousou sobre cada um deles. Foram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem”. (Atos dos Apóstolos, 2, 1-4)

História no Reino de Portugal e Reinado do Imperador do Divino

Desde o período do Brasil Colônia, tem-se a presença ao culto ao Divino Espírito Santo, tendo algumas variantes regionais que enxertam uma festa local, em nome de algum Santo de devoção, ou festa tradicional, como por exemplo, a Cavalhada, juntamente com a preparação da Festa do Divino. Em um todo, a festa do Divino é apresentada em boa parte do território brasileiro, com maior ou menor grau de intensidade conforme o local. 

Consta ter havido a introdução da Festa do Divino Espírito Santo (Pentecostes) no reino de Portugal por conta da Rainha Isabel,  após  litígio entre o Rei Dom Dinis I pelo desagrado do legítimo herdeiro ao trono de Portugal, o infante Dom Afonso, resultando na guerra civil entre 1319 e 1324 entre pai e filho, pois Dom Dinis optava por Dom Afonso Sanches, um  filho bastardo do rei que foi depois legitimado e era o predileto de Dom Dinis I ao trono de Portugal.  Houve várias escaramuças, onde a Batalha de Alvalade  esteve prestes a travar-se em 1323, entre as tropas de Dom Dinis I e Dom Afonso IV, mas a batalha foi impedida pela intervenção da Rainha Santa Isabel.

Por causa deste momento belicoso entre ambos a Rainha clamou ao Espírito Santo que restabelecesse a paz, o que foi atendida. Em honra a este fato e em sinal de gratidão mandou confeccionar uma cópia da coroa do Reino de Portugal, colocando ao alto uma pomba branca, o símbolo do Divino Espírito Santo, para sair pelas terras da Coroa de Além Mar, arrecadando donativos aos menos favorecidos do Reino. que após o falecimento do rei entrou para o convento tornando-se Monja de Santa Clara (Santa Isabel de Aragão) e construindo a Igreja do Espírito Santo em Alenquer.

O início das práticas destes festejos pode estar relacionado as estruturas judaicas através dos "cristãos novos", judeus convertidos ao cristianismo pela interferência do Reino provenientes da Península Ibérica, que tinham conhecimento dos ritos do Pentecostes judaico, a Festa das Semanas ou Shavuot, passando isto, com algumas variáveis de adaptação aos preceitos dos dogmas para o calendário da cristandade.

Reinado

No domingo antecedente ao de Pentecostes, após a preparação através de novenas, tem início à benção da bandeira através do pároco local, seguido do levantamento do mastro e do acender da luz divina, representado por uma fogueira central. Há sempre a presença da banda que inicia a esperada festa do Divino de algum rincão rural e/ou de município urbano e que se apresentam em coretos com músicas festivas pela alegria da Festa do Divino Espírito Santo.

Império

O Imperador do Divino é o maior referencial secular da festa do Divino Espírito Santo. Há alguns referenciais que sacralizam o momento numa somatória de eventos que possuem um modo cadenciado e respeitado ao longo do percurso da festa como a benção da Coroa, alvoradas através de fogos anunciantes do momento inicial, onde os participantes das novenas caminham para a missa de Pentecostes.

A Coroação do Imperador, geralmente é realizada pelo sacerdote da Matriz, simbolizando o ritual de representação quando o Espírito Santo desce a terra, em línguas de fogo, dando início a Igreja de Cristo em Pentecostes, no meio dos apóstolos e deste modo  e um simbolismo personificado na figura do Imperador. Este, por sua vez, é apresentado ao povo geralmente através de sorteio dos pretendentes a serem o Imperador, sendo que darão os subsídios de sustentação aos festejos, através de prendas (colheita) entre toda a comunidade, contribuição esta, ofertada ao responsável dos festejos, o Imperador de determinado ano, que deve arcar com grande parte da preparação dos festejos, onde há o envolvimento de várias famílias e membros da comunidade, com o trabalho voluntário, onde são preparados os recursos da articulação comunitária. Andam-se de casa em casa com o Capitão do Mastro apresentando a Bandeira do Divino, com os seus sete dons, (Saberia; Inteligência; Ciência; Conselho; Fortaleza; Piedade; Temor de Deus) onde a acolhida é feita pelo dono da residência visitada e faz a oferenda que lhe apraz ou que tenha disponível ofertado com o carisma e boa vontade de cada um.

A bandeira está relacionada na ligação entre Deus e Seu povo que leva, através dela, a religiosidade por todas as cidades. Predomina a cor vermelha representando as línguas de fogo aparecidas no Cenáculo aos apóstolos e também ao sangue dos mártires cristãos.

O Espírito Santo, que representa a terceira pessoa da Santíssima Trindade, tinha seus festejos elaborados com um banquete de convite aos comensais e que era anunciado a toda a comunidade que afluíam de todas as localidades assentadas próximas. Esta referência ao culto do Divino Espírito Santo passou do continente aos arquipélagos da Madeira e dos Açores sendo transportados nas diversas naus que afluíam ao continente, nas possessões portuguesas.

As folias possuem o objetivo de recolher prendas e espórtulas para a Festa do Divino Espírito Santo. A folia é composta de grupo que sai às ruas batendo de porta em porta com os símbolos do Divino Espírito Santo e são denominados por uma hierarquia como alferes, embaixadores, regentes procuradores e salveiros (que fazem as salvas da presença) que completam giros, trajeto a percorrer pelos foliões a entoar músicas de um repertório definido em versos rimados em saudação aos donos das casas, onde toda comitiva adentra na aceitação do Pouso do Divino. Tudo o que é recolhido é entregue no altar da Coroa, na residência do Imperador. 

Reinado: Podem ser apresentadas na Festa do Divino outras bandeiras complementares representando santos devotos de outras praças religiosas e que se reúnem na Matriz onde se representa a festa do Divino, unindo-se no ápice das comemorações. Tudo esta acompanhado das insígnias como coroas de prata, quadros representativos de santos devotos, andores que são formados pelo Juiz e juíza do santo de cada Reinado.

"Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, temperança (autodomínio)”. (Gálatas 5 -22)

Os Devotos do Divino: Ivan Lins
 
1.Os devotos do divino vão abrir sua morada pra bandeira do Divino ser bem-vinda, ser louvada, ai, ai.

2.Deus vos salve esse devoto pela esmola em vosso nome. Dando água a quem tem sede, dando pão a quem tem fome, ai, ai.

3.A bandeira acredita que a semente seja tanta, que essa mesa seja farta que essa casa seja santa, ai, ai.

4.Que o perdão seja sagrado, que a fé seja infinita, que o homem seja livre, que a justiça sobreviva, ai, ai.

5.Assim como os três Reis Magos que seguiram a estrela-guia, a bandeira segue em frente atrás de melhores dias, ai, ai.

6.No estandarte vai escrito que ele voltará de novo. E o Rei será bendito, Ele nascerá do povo, ai, ai.


Vide também:  



Nota:
Há necessidade de fazer-se a crítica da crônica para aproximar o fato ao feito, para o salutar complemento historiográfico!


Bibliografia
DIESENDRUCK,Rabino  Menahem Mendel. Sermões. São Paulo: Editora Perspectiva, 1977

SOARES, Pe. Matos (Tradução da Vulgata). Bíblia Sagrada. São Paulo. Edições Paulinas, 1989



Revista Morashá: Leis e Tradições http://www.morasha.com.br/conteudo/artigos/artigos_  


Museu do Divino: Pirenópolis, Goiás. Antiga Casa da Câmara e Cadeia. Rua Bernardo Sayão, s/n

Festa do Divino na Cidade de São Paulo: Paróquia Nossa Senhora do Ó, Largo da Matriz, Freguesia do Ó, São Paulo/SP